Grau 5 - Mestre Perfeito: Visões
Filosóficas
Por Hiran de Melo
Pacíficos e Amados Irmãos,
Convidamos à reflexão sobre o Grau 5 (*) – Mestre
Perfeito, não apenas a partir dos ensinamentos tradicionais e profundos de
Albert Pike, mas também sob a lente crítica de eminentes filósofos, que nos
ajuda a enxergar os símbolos e deveres maçônicos como construções históricas,
éticas e de poder.
À luz de
Nietzsche, Kant, Deleuze, Bourdieu e Foucault.
I. Grau 5 – Mestre Perfeito - análise
do texto na visão de Friedrich Nietzsche
Uma análise do Grau 5 da Maçonaria à luz de
Friedrich Nietzsche nos convida a refletir sobre temas centrais tanto no texto
quanto na filosofia do pensador alemão: moralidade, verdade, dor, superação e perfeição.
Porém, Nietzsche não confirma as ideias apresentadas. Pelo contrário — ele as
questiona profundamente.
Sobre a Perfeição Moral e
o Ideal do "Mestre Perfeito"
O texto nos apresenta o Mestre Perfeito como
alguém que busca a perfeição moral — alguém que controla seus impulsos e se
dedica à pureza, humildade e retidão. Mas Nietzsche olharia com desconfiança
para essa figura. Para ele, essa “perfeição moral” é, muitas vezes, um produto
de uma moral criada para domesticar o homem, enfraquecendo sua verdadeira
natureza.
Nietzsche nos diria:
“A moralidade é o instinto de
rebanho no indivíduo”. - Nietzsche, Além do Bem e do Mal
Nietzsche defendia uma superação da moral
tradicional. Para ele, o verdadeiro caminho não é reprimir as paixões, mas
reconhecê-las e transformá-las em força criativa.
A Dor como Caminho para a
Sabedoria
O texto afirma que a dor é instrumento para a
evolução espiritual. Nietzsche não negaria o valor da dor — mas entenderia seu
papel de forma diferente. Para ele, a dor fortalece, porque nos obriga a
crescer e criar sentido a partir do caos. A dor não nos purifica — ela nos
desafia a ir além de nós mesmos, a construir algo novo.
Nietzsche nos diria:
“O que não me mata, me
fortalece”. - Crepúsculo
dos Ídolos
Nietzsche rejeitaria a ideia de que o
sofrimento nos aproxima de uma perfeição espiritual. Ele diria: não use a dor
como ponte para o divino, mas como material para construir quem você é.
A Verdade como Ideal
Supremo
No texto, a busca pela “Verdade” é tratada
como um ideal sagrado e absoluto. Nietzsche, por sua vez, nos alerta: não
existe uma única verdade eterna — existem interpretações. A ideia de uma
Verdade única e definitiva, segundo ele, é uma ilusão herdada de tradições
antigas como o platonismo e o cristianismo.
“Não existem fatos, apenas
interpretações”. — Fragmentos Póstumos
Em vez de seguir uma “estrela-guia” fixa,
Nietzsche propõe: cada um deve encontrar sua própria visão do mundo, criando
sentidos a partir da própria experiência.
Humildade, Pureza e
Fidelidade: Virtudes ou Fraquezas?
O texto valoriza virtudes como humildade,
pureza de intenções e fidelidade à Verdade. Para Nietzsche, essas virtudes são,
muitas vezes, formas de submissão. Ele acreditava que a moral tradicional
nasceu da impotência, e que os valores dos “bons” foram criados pelos fracos
como reação aos fortes.
“Os bons foram sempre os que
não tinham garras”. — Genealogia da Moral
Nietzsche valorizava a coragem, a força
criativa e a vontade de viver plenamente, mesmo quando isso vai contra os
valores estabelecidos.
O Templo Interior e a Centelha Divina
A simbologia do templo interior e da letra
Yod (que representa a centelha divina) remete à ideia de que o ser humano
reflete o divino. Nietzsche negaria essa visão. Para ele, o homem não reflete o
divino — o homem cria os deuses.
“Deus está morto. E nós o
matamos”. — A Gaia Ciência
Nietzsche acreditava que, ao inventarmos
ideias como "alma" ou "espírito divino", estamos tentando
dar sentido a um mundo que, por si só, é caótico e sem garantias. Para ele, é
preciso assumir esse caos e fazer dele uma obra de arte.
Conclusão Nietzschiana: O
Antimestre Perfeito
Nietzsche não negaria a importância da
jornada simbólica do Grau 5, mas a interpretaria de outra forma. O verdadeiro
“Mestre”, para ele, seria aquele que:
Aceita seus instintos,
suas sombras e contradições.
Cria seus próprios
valores, sem depender de ideais eternos.
Transforma suas
paixões e dores em força criadora.
Em vez de reconstruir um templo para refletir
o divino, Nietzsche nos diria:
“Torna-te o
templo da tua própria vontade de potência”.
Se essa análise ecoa em ti, talvez Nietzsche
esteja te convidando, não a abandonar os símbolos da maçonaria, mas a
ressignificá-los de dentro para fora, com coragem e autenticidade. Se não ecoa,
espere um pouco, aí vem Kant.
II. Grau 5 – Mestre Perfeito
- análise do texto na visão de Immanuel Kant
Ao observarmos o conteúdo do Grau 5 da
Maçonaria sob a luz da filosofia moral de Immanuel Kant, percebemos que
muitos dos ideais apresentados se alinham fortemente com os princípios centrais
do pensamento kantiano — especialmente no que diz respeito à autonomia da vontade, ao dever, à
razão prática e à dignidade do ser humano.
A Moralidade como Dever
O texto afirma que o Mestre Perfeito é aquele
que busca a perfeição moral não como um fim que se atinge, mas como um ideal
que se persegue com dedicação. Essa visão é coerente com a ética de Kant, que
ensina que agir moralmente é agir por dever, ou seja, cumprir aquilo que
a razão nos apresenta como correto, independentemente de recompensas ou
resultados.
“Age apenas segundo uma máxima
tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne uma lei universal”. — Immanuel
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes
Para Kant, quando o Mestre Perfeito age com
pureza de intenção, fidelidade à verdade e justiça, ele está seguindo uma
lei moral universal que vale para todos os seres racionais. Isso é o que dá
valor moral à sua conduta.
Autodomínio e Racionalidade
No Grau 5, fala-se da necessidade de
vigilância sobre os próprios impulsos e do controle das paixões. Para Kant,
essa vigilância é essencial: não devemos ser guiados por emoções ou
interesses pessoais, mas sim pela razão. O homem verdadeiramente ético é
aquele que age de forma racional e consciente, mesmo quando isso exige
esforço ou sacrifício.
Kant não condenava os sentimentos, mas
acreditava que eles não devem ser o fundamento das decisões morais. O
Mestre Perfeito, ao dominar seus vícios e paixões, age de acordo com a razão —
e isso o torna moralmente digno.
A Dignidade Humana e o Templo Interior
A ideia de reconstrução do “Templo interior”
tem, em Kant, um paralelo claro: trata-se do processo de se tornar um agente
moral autônomo. Para o filósofo, a dignidade humana está em cada pessoa ser capaz de agir por si mesma,
com base na razão e no dever, e de reconhecer, nas outras pessoas, essa
mesma capacidade.
“O homem, e de modo geral todo
ser racional, existe como fim em si mesmo”. — Crítica da Razão
Prática
Assim, o progresso espiritual do Mestre
Perfeito é também uma caminhada ética rumo à valorização da própria
humanidade e da humanidade alheia.
A Perfeição Moral como Ideal da Razão
O texto diz que a perfeição moral não é um
ponto de chegada, mas um ideal a ser buscado constantemente. Kant concordaria
plenamente. Para ele, a razão prática nos orienta a buscar a perfeição, não
porque podemos alcançá-la por completo, mas porque essa busca nos faz melhores
e mais conscientes do nosso dever.
Esse ideal de perfeição não é externo ao
homem — ele nasce da razão dentro de cada um de nós, que nos chama a
agir com retidão mesmo em um mundo imperfeito.
A Verdade e a Justiça
A fidelidade à verdade e o compromisso com a
justiça, destacados no texto, também estão no centro da filosofia moral
kantiana. Para Kant, mentir é sempre errado, pois compromete a confiança
necessária à convivência humana. A justiça, por sua vez, exige que respeitemos
os direitos dos outros como se fossem os nossos.
O Mestre Perfeito, ao agir com retidão,
ajudar os necessitados e defender os injustiçados, pratica o dever moral de
forma exemplar — não por conveniência, mas por convicção racional.
Conclusão Kantiana: O Mestre como
Legislador Moral
Kant via o homem moral como alguém que não
apenas obedece a leis morais, mas é capaz de criá-las com base na razão e no
dever. Esse ser é um verdadeiro "legislador moral", pois
reconhece que a moralidade deve ser universal.
Assim, o verdadeiro Mestre Perfeito:
Não age por interesse
ou medo, mas por
consciência do dever;
Reconhece a dignidade em si e nos outros;
Constrói-se moralmente como um
templo vivo, guiado pela
razão;
É exemplo de autonomia e responsabilidade.
À luz do pensamento de Immanuel Kant, o Mestre Perfeito é aquele que:
Age por dever e não por
conveniência;
Submete suas emoções à razão prática;
Busca a perfeição moral como
um ideal que orienta sua jornada;
Valoriza e respeita a dignidade de todo
ser humano;
Vive segundo princípios que
poderiam se aplicar a todos os homens, em qualquer lugar.
Assim, ele se torna verdadeiramente a
pedra angular do templo da alma, não como reflexo de uma moral imposta de
fora, mas como expressão autêntica da razão moral que vive dentro de si.
III. Grau 5 – Mestre Perfeito
- análise do texto na visão de Gilles Deleuze
Entre Fluxos,
Transformações e a Construção de Si
Irmãos, ao interpretarmos o Grau 5 do REAA
pela ótica do filósofo francês Gilles Deleuze, somos convidados a
deslocar o olhar: deixar de ver a moral como um “caminho reto” rumo à
perfeição, e enxergá-la como um campo de criação contínua, de linhas de fuga, de potência vital que se
reinventa na dor e no movimento.
Deleuze não fala em termos de verdades fixas
ou essências eternas — ele fala em processos, devir e criação
de novas formas de existir. Com isso em mente, vejamos como o conteúdo do
Grau 5 pode ser reinterpretado sob essa luz criadora.
Do Trauma ao Devir: A Dor como Potência
O texto inicia com a perda de Hiram Abiff, um
evento simbólico de luto e ruptura. Para Deleuze, o sofrimento não é um
obstáculo à vida, mas um disparador de transformação. A dor que desorganiza
também abre brechas, linhas de fuga, que podem levar a uma nova
organização — não baseada na reconstrução do que foi perdido, mas na criação
de algo novo.
“Não se trata de encontrar a
si mesmo, mas de se perder, de se desfazer”. — Deleuze &
Guattari, Mil Platôs
Assim, o Mestre Perfeito não é aquele que
reconstrói o “mesmo templo”, mas aquele que se reinventa a partir da perda,
abrindo-se a um novo modo de ser.
Contra a Perfeição, a Multiplicidade
O texto fala de “perfeição moral”, “pureza”,
“controle das paixões”. Deleuze, no entanto, questionaria a própria ideia de
perfeição como um ideal fixo e transcendente.
Ele preferiria falar em multiplicidade:
somos feitos de muitas forças, desejos, intensidades. Não se trata de
controlar, mas de canalizar o caos criador que há em nós.
Para Deleuze, o “eu” não é um centro fixo,
mas um campo de forças em constante movimento. O verdadeiro Mestre não
domina a si mesmo para se tornar "puro", mas se permite fluir,
compondo com suas forças para criar novos modos de vida.
A Ética da Potência em vez da Moral da Renúncia
Onde o texto diz: “dominar os vícios,
controlar os impulsos”, Deleuze perguntaria: por que reprimir? Por que
domesticar a vida? A filosofia dele não é uma moral de mandamentos, mas uma ética
da potência — ou seja, agir de acordo com aquilo que aumenta nossa
capacidade de existir e afetar o mundo.
A questão dele não seria “estou sendo
moralmente correto?”, mas: “isso me torna mais potente, mais vivo, mais
criador?”. Para Deleuze, a ética está em construir-se como obra de arte
viva — como o Grau 5 propõe, mas não por meio de renúncia, e sim por meio da
experimentação.
O Templo como Corpo sem Órgãos
A reconstrução do templo interior é central
no Grau 5. Deleuze poderia reinterpretar esse templo não como algo sagrado e
ideal, mas como o que ele chama de “corpo sem órgãos” — um corpo liberto
de estruturas fixas, capaz de criar novas conexões, novos afetos,
novas formas de vida.
“O corpo sem órgãos é o campo
de imanência do desejo”. — Deleuze
Nesse sentido, o verdadeiro templo não é
aquele que espelha um “divino transcendente”, mas aquele que expressa
plenamente a imanência da vida — a vida que pulsa, deseja, se conecta e se
transforma.
A Letra Yod: Criar em vez de
Representar
O texto apresenta a letra י (Yod) como símbolo da centelha divina.
Deleuze, desconfiado de qualquer transcendência fixa, diria: não há centelha dada por Deus —
há forças criadoras imanentes no próprio ato de viver.
A verdadeira centelha está na capacidade
de criação que cada um possui, não como reflexo do divino, mas como força
de produção de sentido, de novos mundos e novas subjetividades.
A Verdade? Há Apenas Diferença
A “fidelidade inabalável à Verdade” é
celebrada no texto como virtude essencial. Deleuze diria: não há uma
Verdade, com V maiúsculo — há multiplicidade de perspectivas, fluxos de
sentido, diferenças que se expressam de modos variados.
“A verdade não é aquilo que se representa, mas aquilo que se produz”. — Deleuze
Para o Mestre Deleuziano, o compromisso não é
com um “ideal fixo de verdade”, mas com a produção de novos sentidos, com a liberdade de pensar o impensado, de criar outras formas de ver e estar no mundo.
Conclusão Deleuziana: O
Mestre como Criador de Si
Na visão de Deleuze, o verdadeiro Mestre Perfeito não se aperfeiçoa
para se encaixar num ideal, mas para inventar-se continuamente. Ele
é:
Um experimentador da própria
existência;
Um criador de si, em constante
mutação;
Um corpo em movimento, em
relação, em fluxo com o mundo.
Ele não busca “ser puro”, mas ser múltiplo.
Não busca “dominar o eu”, mas dissolver o eu para fazer de si uma
multiplicidade viva.
O Mestre Perfeito, na visão de Deleuze:
Não se reconstrói — se reinventa;
Não busca a pureza — vive a multiplicidade;
Não controla a vida — cria com ela;
Não reflete o divino — expressa a potência da existência;
Não busca verdades eternas — cria sentidos novos, únicos, vivos.
IV. Grau 5 – Mestre Perfeito
- análise do texto na visão de Pierre Bourdieu
Entre hábito, capital
simbólico e construção de virtude
Amados Irmãos, ao refletirmos sobre o
conteúdo simbólico e moral do Grau 5 do REAA à luz da filosofia social de Pierre
Bourdieu, abrimos um campo de compreensão que vai além da moral
tradicional. Bourdieu nos convida a olhar para o contexto social, para
os espaços de poder simbólico e para os hábitos invisíveis que
moldam nossas atitudes — mesmo aquelas que acreditamos ser mais “livres” ou
“espirituais”.
Vamos, então, aplicar esse olhar sociológico
à figura do Mestre Perfeito.
O Grau 5 como Campo de Transformação do Habitus
O “habitus” é um dos conceitos
centrais de Bourdieu: é um conjunto de disposições, comportamentos e valores
que cada um de nós carrega, resultado de nossa história de vida e inserção
social.
Quando o Grau 5 propõe o domínio das
paixões e o esforço pela perfeição moral, podemos compreender isso como um trabalho
consciente sobre o habitus. Ou seja, o Mestre Perfeito começa a perceber
que suas reações, crenças e atitudes não surgem do nada — são construídas,
herdadas — e que é preciso reeducá-las, refiná-las e espiritualizá-las.
O Mestre Perfeito aprende que o “eu” que ele
julga controlar, muitas vezes, já foi moldado por estruturas invisíveis.
O Capital Simbólico da Virtude
Bourdieu também fala de capital simbólico
— que é o prestígio, o respeito e a autoridade que alguém adquire em um campo
social. Na maçonaria, esse capital simbólico não é dado por riqueza ou status
social externo, mas por algo mais profundo: a virtude reconhecida pelos
irmãos, o esforço pelo bem, a dedicação ao estudo, a vivência dos valores
da Ordem.
O Mestre Perfeito, ao viver com humildade,
pureza e fidelidade à Verdade, acumula capital simbólico legítimo dentro
da fraternidade. Mas atenção: para Bourdieu, o verdadeiro valor simbólico não
é aquele usado como moeda de troca para poder, e sim aquele que é reconhecido
como legítimo pelos pares — pelos que também trilham o mesmo caminho de
transformação.
A Reconstrução do Templo como Reestruturação Social de Si
O texto fala do Templo interior a ser
reconstruído. Bourdieu nos ajudaria a entender esse Templo como a estrutura
de disposições internas que precisa ser redesenhada, desconstruindo os
velhos hábitos herdados da ignorância, do egoísmo e da vaidade — todos traços
que vêm, muitas vezes, da sociedade que nos formou.
O Mestre Perfeito não apenas “melhora seu
caráter”, ele reconstrói sua estrutura social interna: repensa o que
valoriza, o que deseja, o que considera verdadeiro ou justo.
Assim, o templo que ele ergue dentro de si é
um espaço novo, onde o espírito prevalece sobre os vícios da competição, do
status e da vaidade social.
A Verdade como Disputa Simbólica
O texto exalta a fidelidade à Verdade.
Bourdieu não nega o valor da Verdade, mas alerta: o que se chama de verdade
muitas vezes é resultado de lutas simbólicas. Em outras palavras, em toda
sociedade (inclusive na Maçonaria), há disputas sobre o que é válido, o que
é justo, o que é verdadeiro — e essas definições muitas vezes refletem
relações de poder.
O Mestre Perfeito, consciente disso, deve
buscar a Verdade com espírito crítico e vigilância constante, para que não
reproduza como verdade apenas o que herdou, mas aquilo que foi realmente
compreendido, vivido e testado pela razão e pela experiência.
Humildade como Distinção Ética
Na teoria de Bourdieu, existe uma luta
constante por distinção — ou seja, por se destacar, ser diferente, ser
melhor. O mundo valoriza quem é distinto. Mas no Grau 5, a distinção ética não
é marcada por luxo, aparência ou status externo, e sim por humildade,
silêncio e serviço.
O verdadeiro Mestre não precisa dizer que é
Mestre. Ele é reconhecido por seu comportamento, por sua constância e por sua
ética.
Essa humildade não é falsa modéstia. É uma
nova forma de distinção simbólica, onde o brilho vem do espírito, e não do
ego.
Conclusão Bourdieuana: O
Mestre como Agente de Transcendência Social
Para Bourdieu, o mundo social está cheio de
estruturas que nos condicionam, mas também nos oferece ferramentas para
transcender essas estruturas — como o conhecimento, a cultura e a
espiritualidade. A maçonaria, como espaço simbólico e ritualístico, é um
campo onde essa transcendência é possível.
O Grau 5, nesse sentido, não é apenas um
momento de crescimento individual, mas de superação das limitações sociais
invisíveis. O Mestre Perfeito se torna um ser ético que, ao transformar a
si mesmo, também contribui para um novo modo de ser no mundo.
O Mestre Perfeito, segundo Pierre Bourdieu, é aquele que:
Trabalha
conscientemente sobre seu habitus, suas crenças e seus
padrões de comportamento;
Busca a virtude como
capital simbólico legítimo, sem vaidade nem
desejo de dominação;
Reconstrói seu templo
interior como uma
nova estrutura social de si mesmo;
Luta pela Verdade com
espírito crítico, atento às
influências do meio;
Se distingue pela humildade e pelo exemplo
silencioso;
Atua como agente de superação e elevação das
condições humanas e sociais.
V. Grau 5 – Mestre Perfeito -
análise do texto na visão de Michel Foucault
O Grau 5 como Ritual de Reconstrução Moral
Segundo Albert Pike, o Grau 5 marca o início
da reconstrução do Templo – não mais com pedras exteriores, mas com virtudes
interiores. O Irmão deixa de ser um mero aprendiz do ofício e se torna um
agente moral consciente.
Para Foucault, esse tipo de rito é um exemplo
de como as instituições (como a Maçonaria, a Igreja ou o Estado) ensinam às
pessoas como devem ser, como devem agir e até como devem pensar sobre si
mesmas. Isso não é algo negativo em si, mas precisa ser compreendido com
lucidez.
O Mestre Perfeito é formado a partir de um
ideal. E Foucault nos pergunta: Esse ideal é libertador ou aprisionador? Ele
forma ou formata o sujeito?
A Vigilância de Si: o olhar interno
Pike fala de "vigilância constante sobre
nossos impulsos". Para Foucault, isso se relaciona com o que ele chama de
“cuidado de si” – um conceito presente nos filósofos antigos, que Foucault
resgatou para mostrar como os seres humanos constroem suas próprias condutas
éticas.
No Grau 5, o Irmão aprende que não basta
seguir regras: é preciso observar-se, examinar suas motivações, controlar
paixões e cultivar virtudes.
Foucault alertaria: o problema não está em
seguir um ideal, mas em aceitar um modelo de perfeição sem refletir
criticamente sobre ele. A verdadeira vigilância, então, é a vigilância sobre os
significados que damos à perfeição, ao erro, ao bem e ao mal.
O Templo Interior e o Poder sobre Si Mesmo
O símbolo do Templo que está sendo
reconstruído é, para Pike, a imagem do caráter em formação. Foucault
concordaria, mas chamaria atenção para um detalhe importante: o processo de
construção do sujeito sempre envolve poder.
O que isso significa?
Que toda vez que tentamos nos transformar,
estamos nos submetendo a um conjunto de normas, expectativas e discursos que
dizem: “isso é certo, isso é errado”, “isso é moral, aquilo é imoral”. O
verdadeiro trabalho do Mestre Perfeito, então, não é só seguir o projeto do
templo, mas questionar quem desenhou esse projeto.
O Irmão que busca a perfeição deve se perguntar:
Por que penso que essa virtude é
mais valiosa que outra?
O que significa “ser puro”? “Ser
justo”? “Ser perfeito”?
Estou buscando a
verdade ou apenas me adaptando ao ideal
de outro?
Essas são perguntas profundamente foucaultianas
e, ao mesmo tempo, profundamente maçônicas.
A Perfeição como Caminho Ético e não como Regra
Para Foucault, não existe “perfeição
absoluta” nem um modelo ideal de ser humano. O que existe é a possibilidade de
criar a si mesmo como uma obra ética, algo que a Maçonaria também propõe.
O Mestre Perfeito não é aquele que nunca erra. É o que escolhe,
todos os dias, reconstruir-se com
consciência, coragem e liberdade.
Como diria Foucault: “A ética é o modo como
o sujeito se relaciona com a verdade”.
No Grau 5, essa verdade não é imposta. Ela é
descoberta, lentamente, através do silêncio, da humildade e da prática da
justiça. O símbolo da Pedra com a Letra Yod representa isso: a centelha divina, sim – mas
também o início de uma nova responsabilidade
sobre si mesmo.
Foucault e Pike: Convergências
Apesar das diferenças de linguagem e
contexto, há pontos em comum entre Pike e Foucault:
Albert Pike |
Michel
Foucault |
A perfeição é esforço diário |
O
sujeito ético se constrói dia a dia |
O templo é interior |
O poder
age sobre os corpos e as almas |
A verdade deve ser buscada com humildade |
A
verdade é construída e deve ser questionada |
A vigilância é uma virtude moral |
O
olhar constante sobre si mesmo forma o sujeito |
Ambos, cada um à sua maneira, nos ensinam que
a liberdade começa quando assumimos responsabilidade sobre nós mesmos – mas que
essa responsabilidade não é cega. É reflexiva, crítica, e cheia de compaixão.
Por enquanto
Pacífico e Amado Irmão, o Grau 5 é uma lição
profunda sobre reconstrução com consciência. Foucault nos ajuda a compreender
que essa reconstrução não deve ser feita por obrigação, mas por escolha. Não
como repetição de um modelo imposto, mas como criação de um caminho próprio,
ético e transformador.
Que possamos, a cada dia, moldar a pedra
bruta do nosso ser com lucidez, coragem e humanidade.
E que a perfeição que
buscamos não seja uma prisão, mas uma libertação.
Nada mais.
(*) Grau 5 – Mestre Perfeito, recomendo a leitura para melhor entender o
presente trabalho. Veja no link: https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/04/inspetoria-liturgica-do-estado-da_12.html |
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