Grau 5 - Mestre Perfeito: Visões Filosóficas

 

Por Hiran de Melo

 

Pacíficos e Amados Irmãos,

 

Convidamos à reflexão sobre o Grau 5 (*) – Mestre Perfeito, não apenas a partir dos ensinamentos tradicionais e profundos de Albert Pike, mas também sob a lente crítica de eminentes filósofos, que nos ajuda a enxergar os símbolos e deveres maçônicos como construções históricas, éticas e de poder.

 

À luz de Nietzsche, Kant, Deleuze, Bourdieu e Foucault.

 

I.  Grau 5 – Mestre Perfeito - análise do texto na visão de Friedrich Nietzsche

 

Uma análise do Grau 5 da Maçonaria à luz de Friedrich Nietzsche nos convida a refletir sobre temas centrais tanto no texto quanto na filosofia do pensador alemão: moralidade, verdade, dor, superação e perfeição. Porém, Nietzsche não confirma as ideias apresentadas. Pelo contrário — ele as questiona profundamente.

 

Sobre a Perfeição Moral e o Ideal do "Mestre Perfeito"

 

O texto nos apresenta o Mestre Perfeito como alguém que busca a perfeição moral — alguém que controla seus impulsos e se dedica à pureza, humildade e retidão. Mas Nietzsche olharia com desconfiança para essa figura. Para ele, essa “perfeição moral” é, muitas vezes, um produto de uma moral criada para domesticar o homem, enfraquecendo sua verdadeira natureza.

 

Nietzsche nos diria:

 

A moralidade é o instinto de rebanho no indivíduo”. - Nietzsche, Além do Bem e do Mal

 

Nietzsche defendia uma superação da moral tradicional. Para ele, o verdadeiro caminho não é reprimir as paixões, mas reconhecê-las e transformá-las em força criativa.

 

A Dor como Caminho para a Sabedoria

 

O texto afirma que a dor é instrumento para a evolução espiritual. Nietzsche não negaria o valor da dor — mas entenderia seu papel de forma diferente. Para ele, a dor fortalece, porque nos obriga a crescer e criar sentido a partir do caos. A dor não nos purifica — ela nos desafia a ir além de nós mesmos, a construir algo novo.

 

Nietzsche nos diria:

 

O que não me mata, me fortalece”.  - Crepúsculo dos Ídolos

 

Nietzsche rejeitaria a ideia de que o sofrimento nos aproxima de uma perfeição espiritual. Ele diria: não use a dor como ponte para o divino, mas como material para construir quem você é.

 

A Verdade como Ideal Supremo

 

No texto, a busca pela “Verdade” é tratada como um ideal sagrado e absoluto. Nietzsche, por sua vez, nos alerta: não existe uma única verdade eterna — existem interpretações. A ideia de uma Verdade única e definitiva, segundo ele, é uma ilusão herdada de tradições antigas como o platonismo e o cristianismo.

 

Não existem fatos, apenas interpretações”. — Fragmentos Póstumos

 

Em vez de seguir uma “estrela-guia” fixa, Nietzsche propõe: cada um deve encontrar sua própria visão do mundo, criando sentidos a partir da própria experiência.

 

Humildade, Pureza e Fidelidade: Virtudes ou Fraquezas?

 

O texto valoriza virtudes como humildade, pureza de intenções e fidelidade à Verdade. Para Nietzsche, essas virtudes são, muitas vezes, formas de submissão. Ele acreditava que a moral tradicional nasceu da impotência, e que os valores dos “bons” foram criados pelos fracos como reação aos fortes.

 

Os bons foram sempre os que não tinham garras”. — Genealogia da Moral

 

Nietzsche valorizava a coragem, a força criativa e a vontade de viver plenamente, mesmo quando isso vai contra os valores estabelecidos.

 

O Templo Interior e a Centelha Divina

 

A simbologia do templo interior e da letra Yod (que representa a centelha divina) remete à ideia de que o ser humano reflete o divino. Nietzsche negaria essa visão. Para ele, o homem não reflete o divino — o homem cria os deuses.

 

Deus está morto. E nós o matamos”. — A Gaia Ciência

 

Nietzsche acreditava que, ao inventarmos ideias como "alma" ou "espírito divino", estamos tentando dar sentido a um mundo que, por si só, é caótico e sem garantias. Para ele, é preciso assumir esse caos e fazer dele uma obra de arte.

 

Conclusão Nietzschiana: O Antimestre Perfeito

 

Nietzsche não negaria a importância da jornada simbólica do Grau 5, mas a interpretaria de outra forma. O verdadeiro “Mestre”, para ele, seria aquele que:

 

Aceita seus instintos, suas sombras e contradições.

Cria seus próprios valores, sem depender de ideais eternos.

Transforma suas paixões e dores em força criadora.

 

Em vez de reconstruir um templo para refletir o divino, Nietzsche nos diria:

 

Torna-te o templo da tua própria vontade de potência.

 

Se essa análise ecoa em ti, talvez Nietzsche esteja te convidando, não a abandonar os símbolos da maçonaria, mas a ressignificá-los de dentro para fora, com coragem e autenticidade. Se não ecoa, espere um pouco, aí vem Kant.

 

II. Grau 5 – Mestre Perfeito - análise do texto na visão de Immanuel Kant

 

Ao observarmos o conteúdo do Grau 5 da Maçonaria sob a luz da filosofia moral de Immanuel Kant, percebemos que muitos dos ideais apresentados se alinham fortemente com os princípios centrais do pensamento kantiano — especialmente no que diz respeito à autonomia da vontade, ao dever, à razão prática e à dignidade do ser humano.

 

A Moralidade como Dever

 

O texto afirma que o Mestre Perfeito é aquele que busca a perfeição moral não como um fim que se atinge, mas como um ideal que se persegue com dedicação. Essa visão é coerente com a ética de Kant, que ensina que agir moralmente é agir por dever, ou seja, cumprir aquilo que a razão nos apresenta como correto, independentemente de recompensas ou resultados.

 

Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne uma lei universal”. — Immanuel Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes

 

Para Kant, quando o Mestre Perfeito age com pureza de intenção, fidelidade à verdade e justiça, ele está seguindo uma lei moral universal que vale para todos os seres racionais. Isso é o que dá valor moral à sua conduta.

 

Autodomínio e Racionalidade

 

No Grau 5, fala-se da necessidade de vigilância sobre os próprios impulsos e do controle das paixões. Para Kant, essa vigilância é essencial: não devemos ser guiados por emoções ou interesses pessoais, mas sim pela razão. O homem verdadeiramente ético é aquele que age de forma racional e consciente, mesmo quando isso exige esforço ou sacrifício.

 

Kant não condenava os sentimentos, mas acreditava que eles não devem ser o fundamento das decisões morais. O Mestre Perfeito, ao dominar seus vícios e paixões, age de acordo com a razão — e isso o torna moralmente digno.

 

A Dignidade Humana e o Templo Interior

 

A ideia de reconstrução do “Templo interior” tem, em Kant, um paralelo claro: trata-se do processo de se tornar um agente moral autônomo. Para o filósofo, a dignidade humana está em cada pessoa ser capaz de agir por si mesma, com base na razão e no dever, e de reconhecer, nas outras pessoas, essa mesma capacidade.

 

O homem, e de modo geral todo ser racional, existe como fim em si mesmo”. — Crítica da Razão Prática

 

Assim, o progresso espiritual do Mestre Perfeito é também uma caminhada ética rumo à valorização da própria humanidade e da humanidade alheia.

 

A Perfeição Moral como Ideal da Razão

 

O texto diz que a perfeição moral não é um ponto de chegada, mas um ideal a ser buscado constantemente. Kant concordaria plenamente. Para ele, a razão prática nos orienta a buscar a perfeição, não porque podemos alcançá-la por completo, mas porque essa busca nos faz melhores e mais conscientes do nosso dever.

 

Esse ideal de perfeição não é externo ao homem — ele nasce da razão dentro de cada um de nós, que nos chama a agir com retidão mesmo em um mundo imperfeito.

 

A Verdade e a Justiça

 

A fidelidade à verdade e o compromisso com a justiça, destacados no texto, também estão no centro da filosofia moral kantiana. Para Kant, mentir é sempre errado, pois compromete a confiança necessária à convivência humana. A justiça, por sua vez, exige que respeitemos os direitos dos outros como se fossem os nossos.

 

O Mestre Perfeito, ao agir com retidão, ajudar os necessitados e defender os injustiçados, pratica o dever moral de forma exemplar — não por conveniência, mas por convicção racional.

 

Conclusão Kantiana: O Mestre como Legislador Moral

 

Kant via o homem moral como alguém que não apenas obedece a leis morais, mas é capaz de criá-las com base na razão e no dever. Esse ser é um verdadeiro "legislador moral", pois reconhece que a moralidade deve ser universal.

 

Assim, o verdadeiro Mestre Perfeito:

 

Não age por interesse ou medo, mas por consciência do dever;

Reconhece a dignidade em si e nos outros;

Constrói-se moralmente como um templo vivo, guiado pela razão;

É exemplo de autonomia e responsabilidade.

 

À luz do pensamento de Immanuel Kant, o Mestre Perfeito é aquele que:

 

Age por dever e não por conveniência;

Submete suas emoções à razão prática;

Busca a perfeição moral como um ideal que orienta sua jornada;

Valoriza e respeita a dignidade de todo ser humano;

Vive segundo princípios que poderiam se aplicar a todos os homens, em qualquer lugar.

 

Assim, ele se torna verdadeiramente a pedra angular do templo da alma, não como reflexo de uma moral imposta de fora, mas como expressão autêntica da razão moral que vive dentro de si.

 

III. Grau 5 – Mestre Perfeito - análise do texto na visão de Gilles Deleuze

 

Entre Fluxos, Transformações e a Construção de Si

 

Irmãos, ao interpretarmos o Grau 5 do REAA pela ótica do filósofo francês Gilles Deleuze, somos convidados a deslocar o olhar: deixar de ver a moral como um “caminho reto” rumo à perfeição, e enxergá-la como um campo de criação contínua, de linhas de fuga, de potência vital que se reinventa na dor e no movimento.

 

Deleuze não fala em termos de verdades fixas ou essências eternas — ele fala em processos, devir e criação de novas formas de existir. Com isso em mente, vejamos como o conteúdo do Grau 5 pode ser reinterpretado sob essa luz criadora.

 

Do Trauma ao Devir: A Dor como Potência

 

O texto inicia com a perda de Hiram Abiff, um evento simbólico de luto e ruptura. Para Deleuze, o sofrimento não é um obstáculo à vida, mas um disparador de transformação. A dor que desorganiza também abre brechas, linhas de fuga, que podem levar a uma nova organização — não baseada na reconstrução do que foi perdido, mas na criação de algo novo.

 

Não se trata de encontrar a si mesmo, mas de se perder, de se desfazer”. — Deleuze & Guattari, Mil Platôs

 

Assim, o Mestre Perfeito não é aquele que reconstrói o “mesmo templo”, mas aquele que se reinventa a partir da perda, abrindo-se a um novo modo de ser.

 

Contra a Perfeição, a Multiplicidade

 

O texto fala de “perfeição moral”, “pureza”, “controle das paixões”. Deleuze, no entanto, questionaria a própria ideia de perfeição como um ideal fixo e transcendente.

 

Ele preferiria falar em multiplicidade: somos feitos de muitas forças, desejos, intensidades. Não se trata de controlar, mas de canalizar o caos criador que há em nós.

 

Para Deleuze, o “eu” não é um centro fixo, mas um campo de forças em constante movimento. O verdadeiro Mestre não domina a si mesmo para se tornar "puro", mas se permite fluir, compondo com suas forças para criar novos modos de vida.

 

A Ética da Potência em vez da Moral da Renúncia

 

Onde o texto diz: “dominar os vícios, controlar os impulsos”, Deleuze perguntaria: por que reprimir? Por que domesticar a vida? A filosofia dele não é uma moral de mandamentos, mas uma ética da potência — ou seja, agir de acordo com aquilo que aumenta nossa capacidade de existir e afetar o mundo.

 

A questão dele não seria “estou sendo moralmente correto?”, mas: “isso me torna mais potente, mais vivo, mais criador?”. Para Deleuze, a ética está em construir-se como obra de arte viva — como o Grau 5 propõe, mas não por meio de renúncia, e sim por meio da experimentação.

 

O Templo como Corpo sem Órgãos

 

A reconstrução do templo interior é central no Grau 5. Deleuze poderia reinterpretar esse templo não como algo sagrado e ideal, mas como o que ele chama de “corpo sem órgãos” — um corpo liberto de estruturas fixas, capaz de criar novas conexões, novos afetos, novas formas de vida.

 

O corpo sem órgãos é o campo de imanência do desejo”. — Deleuze

 

Nesse sentido, o verdadeiro templo não é aquele que espelha um “divino transcendente”, mas aquele que expressa plenamente a imanência da vida — a vida que pulsa, deseja, se conecta e se transforma.

 

A Letra Yod: Criar em vez de Representar

 

O texto apresenta a letra י (Yod) como símbolo da centelha divina. Deleuze, desconfiado de qualquer transcendência fixa, diria: não há centelha dada por Deus — há forças criadoras imanentes no próprio ato de viver.

 

A verdadeira centelha está na capacidade de criação que cada um possui, não como reflexo do divino, mas como força de produção de sentido, de novos mundos e novas subjetividades.

 

A Verdade? Há Apenas Diferença

 

A “fidelidade inabalável à Verdade” é celebrada no texto como virtude essencial. Deleuze diria: não há uma Verdade, com V maiúsculo — há multiplicidade de perspectivas, fluxos de sentido, diferenças que se expressam de modos variados.

 

A verdade não é aquilo que se representa, mas aquilo que se produz”. — Deleuze

 

Para o Mestre Deleuziano, o compromisso não é com um “ideal fixo de verdade”, mas com a produção de novos sentidos, com a liberdade de pensar o impensado, de criar outras formas de ver e estar no mundo.

 

Conclusão Deleuziana: O Mestre como Criador de Si

 

Na visão de Deleuze, o verdadeiro Mestre Perfeito não se aperfeiçoa para se encaixar num ideal, mas para inventar-se continuamente. Ele é:

 

Um experimentador da própria existência;

Um criador de si, em constante mutação;

Um corpo em movimento, em relação, em fluxo com o mundo.

 

Ele não busca “ser puro”, mas ser múltiplo. Não busca “dominar o eu”, mas dissolver o eu para fazer de si uma multiplicidade viva.

 

O Mestre Perfeito, na visão de Deleuze:

 

Não se reconstrói — se reinventa;

Não busca a pureza — vive a multiplicidade;

Não controla a vida — cria com ela;

Não reflete o divino — expressa a potência da existência;

Não busca verdades eternas — cria sentidos novos, únicos, vivos.

 

IV. Grau 5 – Mestre Perfeito - análise do texto na visão de Pierre Bourdieu

 

Entre hábito, capital simbólico e construção de virtude

 

Amados Irmãos, ao refletirmos sobre o conteúdo simbólico e moral do Grau 5 do REAA à luz da filosofia social de Pierre Bourdieu, abrimos um campo de compreensão que vai além da moral tradicional. Bourdieu nos convida a olhar para o contexto social, para os espaços de poder simbólico e para os hábitos invisíveis que moldam nossas atitudes — mesmo aquelas que acreditamos ser mais “livres” ou “espirituais”.

 

Vamos, então, aplicar esse olhar sociológico à figura do Mestre Perfeito.

 

O Grau 5 como Campo de Transformação do Habitus

 

O “habitus” é um dos conceitos centrais de Bourdieu: é um conjunto de disposições, comportamentos e valores que cada um de nós carrega, resultado de nossa história de vida e inserção social.

 

Quando o Grau 5 propõe o domínio das paixões e o esforço pela perfeição moral, podemos compreender isso como um trabalho consciente sobre o habitus. Ou seja, o Mestre Perfeito começa a perceber que suas reações, crenças e atitudes não surgem do nada — são construídas, herdadas — e que é preciso reeducá-las, refiná-las e espiritualizá-las.

 

O Mestre Perfeito aprende que o “eu” que ele julga controlar, muitas vezes, já foi moldado por estruturas invisíveis.

 

O Capital Simbólico da Virtude

 

Bourdieu também fala de capital simbólico — que é o prestígio, o respeito e a autoridade que alguém adquire em um campo social. Na maçonaria, esse capital simbólico não é dado por riqueza ou status social externo, mas por algo mais profundo: a virtude reconhecida pelos irmãos, o esforço pelo bem, a dedicação ao estudo, a vivência dos valores da Ordem.

 

O Mestre Perfeito, ao viver com humildade, pureza e fidelidade à Verdade, acumula capital simbólico legítimo dentro da fraternidade. Mas atenção: para Bourdieu, o verdadeiro valor simbólico não é aquele usado como moeda de troca para poder, e sim aquele que é reconhecido como legítimo pelos pares — pelos que também trilham o mesmo caminho de transformação.

 

A Reconstrução do Templo como Reestruturação Social de Si

 

O texto fala do Templo interior a ser reconstruído. Bourdieu nos ajudaria a entender esse Templo como a estrutura de disposições internas que precisa ser redesenhada, desconstruindo os velhos hábitos herdados da ignorância, do egoísmo e da vaidade — todos traços que vêm, muitas vezes, da sociedade que nos formou.

 

O Mestre Perfeito não apenas “melhora seu caráter”, ele reconstrói sua estrutura social interna: repensa o que valoriza, o que deseja, o que considera verdadeiro ou justo.

Assim, o templo que ele ergue dentro de si é um espaço novo, onde o espírito prevalece sobre os vícios da competição, do status e da vaidade social.

 

A Verdade como Disputa Simbólica

 

O texto exalta a fidelidade à Verdade. Bourdieu não nega o valor da Verdade, mas alerta: o que se chama de verdade muitas vezes é resultado de lutas simbólicas. Em outras palavras, em toda sociedade (inclusive na Maçonaria), há disputas sobre o que é válido, o que é justo, o que é verdadeiro — e essas definições muitas vezes refletem relações de poder.

 

O Mestre Perfeito, consciente disso, deve buscar a Verdade com espírito crítico e vigilância constante, para que não reproduza como verdade apenas o que herdou, mas aquilo que foi realmente compreendido, vivido e testado pela razão e pela experiência.

 

Humildade como Distinção Ética

 

Na teoria de Bourdieu, existe uma luta constante por distinção — ou seja, por se destacar, ser diferente, ser melhor. O mundo valoriza quem é distinto. Mas no Grau 5, a distinção ética não é marcada por luxo, aparência ou status externo, e sim por humildade, silêncio e serviço.

 

O verdadeiro Mestre não precisa dizer que é Mestre. Ele é reconhecido por seu comportamento, por sua constância e por sua ética.

 

Essa humildade não é falsa modéstia. É uma nova forma de distinção simbólica, onde o brilho vem do espírito, e não do ego.

 

Conclusão Bourdieuana: O Mestre como Agente de Transcendência Social

 

Para Bourdieu, o mundo social está cheio de estruturas que nos condicionam, mas também nos oferece ferramentas para transcender essas estruturas — como o conhecimento, a cultura e a espiritualidade. A maçonaria, como espaço simbólico e ritualístico, é um campo onde essa transcendência é possível.

 

O Grau 5, nesse sentido, não é apenas um momento de crescimento individual, mas de superação das limitações sociais invisíveis. O Mestre Perfeito se torna um ser ético que, ao transformar a si mesmo, também contribui para um novo modo de ser no mundo.

 

O Mestre Perfeito, segundo Pierre Bourdieu, é aquele que:

 

Trabalha conscientemente sobre seu habitus, suas crenças e seus padrões de comportamento;

Busca a virtude como capital simbólico legítimo, sem vaidade nem desejo de dominação;

Reconstrói seu templo interior como uma nova estrutura social de si mesmo;

Luta pela Verdade com espírito crítico, atento às influências do meio;

Se distingue pela humildade e pelo exemplo silencioso;

Atua como agente de superação e elevação das condições humanas e sociais.

 

V. Grau 5 – Mestre Perfeito - análise do texto na visão de Michel Foucault

 

O Grau 5 como Ritual de Reconstrução Moral

 

Segundo Albert Pike, o Grau 5 marca o início da reconstrução do Templo – não mais com pedras exteriores, mas com virtudes interiores. O Irmão deixa de ser um mero aprendiz do ofício e se torna um agente moral consciente.

 

Para Foucault, esse tipo de rito é um exemplo de como as instituições (como a Maçonaria, a Igreja ou o Estado) ensinam às pessoas como devem ser, como devem agir e até como devem pensar sobre si mesmas. Isso não é algo negativo em si, mas precisa ser compreendido com lucidez.

 

O Mestre Perfeito é formado a partir de um ideal. E Foucault nos pergunta: Esse ideal é libertador ou aprisionador? Ele forma ou formata o sujeito?

 

A Vigilância de Si: o olhar interno

 

Pike fala de "vigilância constante sobre nossos impulsos". Para Foucault, isso se relaciona com o que ele chama de “cuidado de si” – um conceito presente nos filósofos antigos, que Foucault resgatou para mostrar como os seres humanos constroem suas próprias condutas éticas.

 

No Grau 5, o Irmão aprende que não basta seguir regras: é preciso observar-se, examinar suas motivações, controlar paixões e cultivar virtudes.

 

Foucault alertaria: o problema não está em seguir um ideal, mas em aceitar um modelo de perfeição sem refletir criticamente sobre ele. A verdadeira vigilância, então, é a vigilância sobre os significados que damos à perfeição, ao erro, ao bem e ao mal.

 

O Templo Interior e o Poder sobre Si Mesmo

 

O símbolo do Templo que está sendo reconstruído é, para Pike, a imagem do caráter em formação. Foucault concordaria, mas chamaria atenção para um detalhe importante: o processo de construção do sujeito sempre envolve poder.

 

O que isso significa?

 

Que toda vez que tentamos nos transformar, estamos nos submetendo a um conjunto de normas, expectativas e discursos que dizem: “isso é certo, isso é errado”, “isso é moral, aquilo é imoral”. O verdadeiro trabalho do Mestre Perfeito, então, não é só seguir o projeto do templo, mas questionar quem desenhou esse projeto.

 

O Irmão que busca a perfeição deve se perguntar:

 

Por que penso que essa virtude é mais valiosa que outra?

O que significa “ser puro”? “Ser justo”? “Ser perfeito”?

Estou buscando a verdade ou apenas me adaptando ao ideal de outro?

 

Essas são perguntas profundamente foucaultianas e, ao mesmo tempo, profundamente maçônicas.

 

A Perfeição como Caminho Ético e não como Regra

 

Para Foucault, não existe “perfeição absoluta” nem um modelo ideal de ser humano. O que existe é a possibilidade de criar a si mesmo como uma obra ética, algo que a Maçonaria também propõe.

 

O Mestre Perfeito não é aquele que nunca erra. É o que escolhe, todos os dias, reconstruir-se com consciência, coragem e liberdade.

 

Como diria Foucault: “A ética é o modo como o sujeito se relaciona com a verdade”.

 

No Grau 5, essa verdade não é imposta. Ela é descoberta, lentamente, através do silêncio, da humildade e da prática da justiça. O símbolo da Pedra com a Letra Yod representa isso: a centelha divina, sim – mas também o início de uma nova responsabilidade sobre si mesmo.

 

Foucault e Pike: Convergências

 

Apesar das diferenças de linguagem e contexto, há pontos em comum entre Pike e Foucault:

 

Albert Pike

Michel Foucault

A perfeição é esforço diário

O sujeito ético se constrói dia a dia

O templo é interior

O poder age sobre os corpos e as almas

A verdade deve ser buscada com humildade

A verdade é construída e deve ser questionada

A vigilância é uma virtude moral

O olhar constante sobre si mesmo forma o sujeito

 

Ambos, cada um à sua maneira, nos ensinam que a liberdade começa quando assumimos responsabilidade sobre nós mesmos – mas que essa responsabilidade não é cega. É reflexiva, crítica, e cheia de compaixão.

 

Por enquanto

 

Pacífico e Amado Irmão, o Grau 5 é uma lição profunda sobre reconstrução com consciência. Foucault nos ajuda a compreender que essa reconstrução não deve ser feita por obrigação, mas por escolha. Não como repetição de um modelo imposto, mas como criação de um caminho próprio, ético e transformador.

 

Que possamos, a cada dia, moldar a pedra bruta do nosso ser com lucidez, coragem e humanidade.

 

E que a perfeição que buscamos não seja uma prisão, mas uma libertação.

 

 

Nada mais.

 

(*) Grau 5 – Mestre Perfeito, recomendo a leitura para melhor entender o presente trabalho. Veja no link:

https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/04/inspetoria-liturgica-do-estado-da_12.html

 

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