Grau 12
– Grande Mestre Arquiteto
Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba – 1ª Região
0225 - LOJA DE PERFEIÇÃO PAZ E AMOR
FUNDADA
EM 11 DE ABRIL DE 1972
CAMPINA
GRANDE - PARAÍBA
Grau 12 – Grande Mestre
Arquiteto
Por Hiran de Melo
Pacíficos
e Amados Irmãos,
A semelhanças dos graus anteriores trataremos
este Grau em três etapas, ou partes.
PRIMEIRA PARTE
Testemunho de um Iniciado
Chegar ao Grau 12 me fez entender que esse
passo não é só mais um degrau na escada iniciática. É uma ponte entre a
sabedoria ancestral e a razão que sustenta o progresso humano. Segundo o Manual
do Grau, Salomão sonhou com uma instituição dedicada às ciências e às artes —
um projeto ousado, digno de um verdadeiro Mestre Arquiteto.
Nesse caminho, a matemática surge como a
linguagem do universo — o alfabeto com que o Grande Arquiteto escreveu as leis
do mundo. A aritmética ajuda a organizar e compreender a realidade. A
geometria, com sua precisão, é a base da construção de templos — tanto os de
pedra quanto os do espírito.
Mais do que cálculo, a matemática aqui é um caminho
simbólico. A aritmética revela a harmonia da Criação; a geometria, a beleza
do Divino. Juntas, elas nos aproximam dos mistérios que sustentam o visível.
O grau também nos leva a olhar para o passado
e perceber como o conhecimento evoluiu. Hoje, o que se fazia com esforço e
cálculos demorados cabe num clique. Mas essa facilidade não diminui a
importância das bases. Pelo contrário — sem elas, não há avanço sólido.
Esse retorno às origens nos lembra que o
maçom é, antes de tudo, um cidadão consciente. Estudar os fundamentos das
ciências é também refletir sobre justiça social, responsabilidade coletiva e o
papel do Estado em equilibrar os interesses individuais pelo bem comum.
O Grau 12 exige mais que saber: exige sensibilidade
espiritual. Salomão não é apenas o rei sábio das Escrituras, mas um símbolo
cheio de nuances. Seu templo, fruto de alianças e conflitos, revela os dilemas
entre fé, política e ética. É nossa tarefa, como maçons, refletir sobre essas
tensões sem julgamento — buscando compreender.
Salomão nos inspira não apenas pela fé, mas
pela diplomacia, pela valorização da cultura, e por entender que o conhecimento
também é ferramenta de liberdade. Ao privilegiar o mérito e estimular o saber,
rompeu com modelos religiosos rígidos e lançou as bases de uma sociedade mais
justa e plural.
O Catecismo do Grau exalta a Arquitetura como
origem das ciências. Mesmo que a divisão entre Arquitetura Civil, Naval e
Militar soe limitada hoje, ela aponta para algo maior: todo conhecimento é
uma forma de construir. E construir, aqui, é um ato espiritual.
O verdadeiro templo não é de pedra, mas de
virtudes. O Templo de Salomão é símbolo do universo e espelho da alma. Edificar
esse templo interno é nossa maior missão: buscar o sagrado por meio do estudo,
da ação e da contemplação. Não se trata de decorar símbolos, mas de viver
o que eles representam.
Essa jornada é silenciosa e pessoal. Só quem
silencia o ruído do mundo consegue ouvir a sabedoria que vem de dentro. Ao
lermos o Manual, o Catecismo e os discursos com os olhos do espírito,
percebemos que todos eles nos chamam à mesma tarefa: construir um templo moral
— dentro e fora de nós.
Como disse um irmão célebre, a Maçonaria não
busca dominar o mundo. Ela molda pessoas. Desperta consciências. Prepara
indivíduos para serem instrumentos do bem. O verdadeiro maçom é aquele que, transformado
por dentro, transforma o mundo ao seu redor.
SEGUNDA PARTE
Grau 12 – Grande Mestre
Arquiteto: Segundo a Visão de Albert Pike
Pacíficos e Amados Irmãos,
O
Grau 12 marca o início de uma nova etapa na caminhada do maçom. Até aqui, os
graus anteriores trataram principalmente de lições morais e de justiça. Agora,
começamos a aprender sobre sabedoria, arte e conhecimento, ligados à construção
do Templo — tanto o Templo simbólico, quanto o nosso próprio aperfeiçoamento
interior.
Segundo
o Mestre Albert Pike, este grau representa um ponto de virada: o maçom deixa de
ser apenas um guardião da Lei e se torna um criador consciente. Ele passa a
compreender que também é responsável por moldar a si mesmo e o mundo à sua
volta.
A Arte de Construir
Neste
grau, o maçom aprende que construir não é apenas levantar pedras ou erguer
templos físicos. Construir, aqui, é um símbolo de algo maior: construir a si
mesmo e contribuir para uma sociedade mais justa e equilibrada.
A
geometria, a proporção, a ordem e a beleza — que são princípios da arquitetura
— passam a representar também as qualidades que devem existir dentro de nós.
Ser Grão-Mestre Arquiteto é buscar harmonia em tudo o que se faz.
O
Mestre Albert Pike destaca que esse grau desenvolve a mente racional, o senso
de beleza e a disciplina interior. O maçom é chamado a se tornar um verdadeiro
artesão da sabedoria.
Símbolos e Seus Significados, segundo Albert Pike
Neste
grau, as ferramentas do arquiteto ganham novos sentidos:
Compasso
e Esquadro
Representam
a união entre o espírito (compasso) e a matéria (esquadro). O verdadeiro
arquiteto pensa com clareza e age com equilíbrio.
Medidas
e proporções
Lembram
que tudo o que construímos — inclusive o nosso caráter — precisa de verdade,
justiça e beleza.
Templo
Agora
é um símbolo da alma humana. Ele representa o ideal de perfeição que buscamos
alcançar dentro de nós.
"A arquitetura do universo é obra de uma inteligência suprema.
O maçom deve aprender a construir com sabedoria, seguindo os mesmos princípios."
(Albert Pike, adaptado)
Entendimento Filosófico
O
Grau 12 nos ensina que o conhecimento verdadeiro não separa razão e fé. Ele une
ciência e espiritualidade. Para isso, recorre a tradições antigas como a
geometria pitagórica, a filosofia hermética e os símbolos da construção.
O
maçom é convidado a refletir sobre três ideias principais:
Construa
seu Templo interior com equilíbrio, ética e propósito. Domine sua mente
como um arquiteto domina seus projetos.
Veja
o todo: não basta ser técnico, é preciso agir com visão espiritual e moral.
Deveres do Grande Mestre Arquiteto
De
acordo com os ensinamentos de Albert Pike, o iniciado neste grau tem três
grandes responsabilidades:
Buscar o conhecimento
verdadeiro, com humildade e senso crítico.
Unir razão e
espiritualidade,
entendendo que fé sem base é frágil, e razão sem alma é vazia.
Agir com ordem,
clareza e responsabilidade, como alguém que constrói não só prédios, mas
também valores.
Por enquanto
O
Grau 12, no Rito Escocês Antigo e Aceito, representa a transição do campo moral
para o campo da criação consciente. O maçom agora é um arquiteto — não apenas
de obras materiais, mas de ideias, de atitudes e de ideais.
Como
Grande Mestre Arquiteto, ele é lembrado de que cada palavra, gesto e escolha
são como pedras colocadas na construção do seu próprio templo interior.
E
esse templo, se for edificado com sabedoria, justiça e verdade, resistirá ao
tempo e servirá de exemplo para todos os que vierem depois.
TERCEIRA PARTE
Grau 12 – Grande Mestre
Arquiteto: Leituras Filosóficas
A
análise filosófica do Grau 12 – Grande Mestre Arquiteto, à luz das obras
de Nietzsche, Kant e Heidegger, e mediada pela hermenêutica de Oswaldo
Giacóia Jr., revela camadas profundas de sentido na simbologia maçônica,
especialmente sob a interpretação de Albert Pike. Este grau, que marca a
passagem do domínio moral para a criação consciente, ecoa temas fundamentais da
filosofia ocidental, como a formação do sujeito, a liberdade, a razão e o
sentido do ser.
1. O Maçom como Criador:
Nietzsche e a Transvaloração dos Valores
Ao
afirmar que o iniciado “deixa de ser apenas um guardião
da Lei e se torna um criador consciente”, o texto nos convida a lembrar
da noção nietzschiana de superação do homem moral tradicional. Para
Nietzsche, o homem que apenas repete valores herdados ainda está sob o jugo do Espírito
Camelo — aquele que carrega, obedece, suporta.
No
Grau 12, o maçom rompe com esse estado. Ele não apenas segue normas externas
(moral do rebanho), mas se converte em fonte de valor, como o Espírito
Leão, que ousa dizer “eu quero”. Ele constrói o seu templo interior — uma
metáfora do sujeito que toma posse de si e do mundo.
A
criação aqui não é apenas prática ou simbólica, mas ontológica: o maçom cria a
si mesmo como um novo tipo de ser, no espírito do Übermensch, o
além-do-homem.
Albert
Pike, ao chamar o maçom a se tornar um “artesão da sabedoria”, sugere essa
autonomia criadora — a busca por um saber que não é recebido, mas construído. E
mais: que a beleza, a proporção e a ética são elementos indissociáveis dessa
criação, numa estética da existência.
2. A Ética da Forma: Kant e o Imperativo
do Equilíbrio
Quando
o Grau 12 fala da construção do templo interior com “equilíbrio,
ética e propósito”, encontramos a sombra da ética kantiana,
especialmente em sua ideia de autonomia moral.
O
maçom, como Kant propõe em sua moralidade racional, não age por inclinação ou
conveniência, mas por dever — segundo máximas que possam valer como lei
universal. A geometria e a proporção que regem a arquitetura do universo
são expressões simbólicas do a priori moral: uma estrutura racional
inscrita na própria razão humana, que orienta a conduta justa e bela.
A
disciplina interior, destacada por Pike, é o eco do imperativo categórico. A
liberdade kantiana — agir segundo leis que eu mesmo me dou — torna-se aqui o
modelo do arquiteto ético. Não é o construtor arbitrário, mas aquele que ordena
o mundo segundo princípios racionais e universais.
Para
Kant, a razão prática é a capacidade da razão de orientar nossas ações
morais. Ou seja, enquanto a razão teórica busca conhecer o mundo (como
funciona a natureza, por exemplo), a razão prática diz respeito à forma como
devemos agir — especialmente com base em princípios éticos.
A
razão prática é o que nos permite agir não só por interesse ou inclinação, mas
por dever. Ela é guiada por leis morais que a própria razão reconhece
como válidas para todos, independentemente das consequências. O principal
exemplo disso é o imperativo categórico, que propõe: “Age apenas segundo
aquela máxima pela qual possas ao mesmo tempo querer que ela se torne uma lei
universal”.
3. Ser e Construção: Heidegger e o Templo
como Lugar do Ser
A
imagem do templo como símbolo da alma, no Grau 12, ressoa com força
heideggeriana. Em “A origem da obra de arte”, Heidegger afirma que o templo
não representa o divino: ele o faz aparecer. O templo abre um mundo. Ele
funda um espaço de significação — um lugar onde o Ser pode se manifestar.
O
maçom que trabalha na construção do seu templo interior, na verdade, está
criando um novo mundo — um espaço onde o sentido da vida pode aparecer. Mais do
que isso: ele está se formando como alguém que se entende a partir da própria
existência. Nesse processo, o arquiteto vira uma ponte entre o que a gente pode
ver e tocar e aquilo que é invisível ou espiritual — algo bem parecido com o
que o filósofo Heidegger via no poeta, aquela pessoa que vive na fronteira
entre o que é conhecido e o mistério.
Ao
integrar razão e espiritualidade, ciência e fé, o Grau 12 se posiciona contra o
esquecimento do Ser — essa perda de contato com a essência em favor de uma
visão puramente técnica da existência. Nesse contexto, o verdadeiro arquiteto
não é apenas alguém que constrói, mas alguém que habita o que constrói com
consciência. Ele se assemelha ao Dasein autêntico, conceito de Heidegger para
designar o ser humano que vive no mundo de forma consciente, aberto ao sentido
do existir, atento à própria finitude e capaz de se relacionar profundamente
com o mundo, os outros e o mistério que envolve a vida.
4. A Hermenêutica da Interioridade: Giacóia e a Tradução do Sentido
Segundo
Oswaldo Giacóia Jr., pensar filosoficamente a partir de Nietzsche e Heidegger
exige um deslocamento: sair da racionalidade instrumental para uma hermenêutica
do sentido existencial. Nesse sentido, o Grau 12 pode ser lido como uma
alegoria da auto-interpretação do ser humano.
Giacóia
defende que o sujeito moderno precisa aprender a se interpretar poeticamente,
como quem lê uma obra aberta — cheia de símbolos, tensões e possibilidades. O
maçom, ao interpretar os instrumentos do arquiteto — compasso, esquadro,
proporções — não os vê apenas como ferramentas externas, mas como mediações
do seu próprio vir-a-ser.
Essa
é a hermenêutica da iniciação: a leitura de si a partir dos símbolos que
moldam a realidade. O templo não é apenas construído — ele é vivido,
interiorizado, interpretado como imagem do próprio processo de
individuação.
5. O Dever de Construir: Liberdade
com Responsabilidade
Por
fim, os “deveres do Grande Mestre Arquiteto” — buscar o conhecimento
verdadeiro, unir razão e espiritualidade, agir com clareza e responsabilidade —
condensam uma ética da liberdade madura. É o chamado à ação autêntica
(Heidegger), ao agir moralmente motivado pela razão prática (Kant), e à transvaloração
existencial (Nietzsche).
O
maçom deste grau não se exime da história nem da dor do mundo: ele a enfrenta
como um criador responsável, um poeta da existência, alguém que, ao lapidar a
si, reorganiza o cosmos moral e simbólico à sua volta.
O Templo como Obra de Si
O
Grau 12, na visão de Albert Pike, é um ponto de inflexão iniciático e
ontológico. A construção do templo interior, longe de ser uma metáfora passiva,
é um chamado filosófico: à liberdade kantiana, à criação nietzschiana, à
abertura heideggeriana ao Ser.
Ao
seguir os traços dessa construção, o maçom torna-se mais do que um obreiro:
torna-se uma obra em si mesmo — um templo vivo, habitado pela verdade,
pela beleza e pela responsabilidade.
Hiran de Melo – Presidente da Excelsa Loja de
Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da
Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA
da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.
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