Grau 14 – Grande Eleito, Perfeito e Sublime Maçom

Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba – 1ª Região

0225 - LOJA DE PERFEIÇÃO PAZ E AMOR

FUNDADA EM 11 DE ABRIL DE 1972

CAMPINA GRANDE -  PARAÍBA

 

Grau 14 – Grande Eleito, Perfeito e Sublime Maçom

 

Por Hiran de Melo

 

Pacíficos e Amados Irmãos,

 

A semelhanças dos graus anteriores trataremos este Grau em três etapas, ou partes. 

 

PRIMEIRA PARTE

 

Testemunho de um Iniciado

 

Quando meus Mestres entenderam que eu estava pronto para receber o Grau de Perfeito e Sublime Maçom, confesso: me senti pequeno diante da grandeza do que se anunciava. Tive a nítida sensação de que ainda havia tanto a aprender..., mas ao mesmo tempo, fui tomado por uma gratidão serena — por tudo que já tinha vivido, sentido, construído.

 

O Grau 14 não é apenas um ponto de chegada. É também um novo começo. É como se todos os passos anteriores, todos os símbolos e rituais, encontrassem aqui um novo sentido — mais profundo, mais interno, mais verdadeiro. Não se trata de resumir o caminho, mas de integrá-lo. De passar da compreensão para a vivência.

 

Visões de Mundo

 

Há quem veja o mundo como algo pronto, estático, perfeito desde sempre. Outros o enxergam como um campo em constante movimento, onde tudo muda, tudo pulsa, tudo evolui.

 

Na tradição filosófica, há ecos dessas visões em muitos mestres. Mas na Maçonaria, o caminho é claro: acreditamos na transformação. Acreditamos que o ser humano é obra em andamento, barro em modelagem constante — e que nosso trabalho é lapidar a pedra bruta todos os dias, com humildade e coragem.

 

A Loja de Perfeição

 

A Loja de Perfeição é esse lugar sagrado onde irmãos se encontram para construir juntos algo que não se vê com os olhos, mas que se sente com o coração: o Templo Interior.

 

Aqui, “perfeição” não é meta inalcançável nem status de impecabilidade. É jornada. É processo. É decisão diária de ser melhor do que fomos ontem.

 

Como nos lembra o Evangelho: “Se queres ser perfeito, vai...” — ou seja, caminha. A perfeição está no movimento, no servir, no doar-se por um ideal que vai além do próprio ego.

 

A Busca que Não Acaba

 

O que é ser perfeito? Desde o Grau de Companheiro, essa pergunta nos acompanha. E a resposta, talvez, seja simples e profunda ao mesmo tempo: não está na ausência de erros, mas no compromisso sincero de crescer com eles.

 

A verdadeira recompensa não são os graus nem os títulos, mas a alma que se fortalece no silêncio, na escuta e na ação justa.

 

A Perfeição que se pratica

 

Ser perfeito é amar o próximo de verdade.

É buscar a verdade com coragem, mesmo que doa.

É agir com justiça, mesmo que não haja aplauso.

É respeitar quem pensa diferente, mesmo sem concordar.

O verdadeiro maçom não é o que brilha sozinho, mas o que acende luz nos outros.

 

Perfectibilidade: A Obra em Mim

 

A perfectibilidade é pessoal. Não é disputa. Não é corrida. É compromisso com o próprio caminho.

 

Ser melhor do que fui ontem — esse é o desafio. E quando isso acontece, o mundo ao redor também muda para melhor.

 

Rito de Passagem: Um Batismo pelo Mérito

 

No Grau 14, vivi algo como um novo batismo. Mas não como aquele que se recebe ao nascer — este é diferente: é um batismo consciente, conquistado com esforço, estudo e transformação real.

 

Se o batismo da fé é dom divino, o batismo maçônico é fruto de merecimento. Ambos buscam a elevação do espírito — por caminhos que se encontram no mistério.

 

A Palavra Perdida

 

Desde o Grau de Mestre, ouvimos falar dela: a Palavra Perdida. Mas como algo que era de todos se perdeu?

 

Há muitas interpretações. Compartilho algumas, não como verdades, mas como inspirações:

 

Talvez tenha sido uma senha antiga, esquecida, que só se transmite a quem é digno.

 

Talvez seja um poder íntimo, que cada um encontra no próprio silêncio.

 

Ou talvez seja o Nome de Deus — tão sagrado, que jamais poderia ser dito sem profanar o Mistério.

 

Talvez... a Palavra nunca tenha se perdido. Talvez ela sempre tenha estado aqui — esperando ser reconhecida.

 

Celebração dos Mistérios

 

Fui conduzido ao Altar das Oblações. Ali, entreguei minha vida simbólica à Ordem, com o coração em paz e os joelhos no chão.

 

Passei pelas águas do Mar de Bronze — que renovaram algo em mim.

 

Senti o perfume do incenso e a luz do fogo tocando minha mente e minha alma.

 

Fui ungido com azeite, trigo e vinho — frutos da terra e da tradição. E com essa unção, recebi três bênçãos: pensar com clareza, falar com verdade, sentir com justiça.

 

E então fui investido. Consagrado. Recebido com um abraço que parecia eterno — um abraço que dizia, sem palavras: "Você chegou, irmão."

 

Era um domingo bonito. Havia sorrisos, mãos apertadas, olhos brilhando. E tudo se uniu num instante que não vou esquecer.

 

As palavras do poeta Dani Black ressoaram dentro de mim:

 

"Eu sou maior do que era antes

Estou melhor do que era ontem


Sou filho do mistério e do silêncio

Somente o tempo vai me revelar quem sou...."

 

Encerramento

 

Este é o meu testemunho. Receba-o com um Triplo e Fraterno Abraço, vindo deste obreiro que, ainda menino, atravessou os portais da Loja Regeneração Campinense pelas mãos de meu pai — o Cavaleiro Kadosh Severino Herculano de Melo.

 

Ali nasceu o sonho. Aqui começa o compromisso.

 

Exortação Final

 

O Grau 14 não é um troféu. É uma promessa. Ele nos lembra que a jornada continua — e que agora é nossa vez de abrir caminho para os que virão.

 

Que os símbolos nos inspirem. Que as lições nos fortaleçam. Que sejamos, cada dia mais, Templo vivo — onde habita o silêncio, a luz e o amor.

 

Feliz é aquele que é reconhecido como Maçom!

 

 

 

SEGUNDA PARTE

 

Grau 14 – Grande Eleito, Perfeito e Sublime Maçom - Segundo a Visão de Albert Pike

 

Pacíficos e Amados Irmãos,

 

O Grau 14 encerra os chamados Graus Inefáveis do Rito Escocês Antigo e Aceito e representa, segundo Albert Pike, a plenitude espiritual que o iniciado alcança após atravessar as etapas de purificação, busca e reconstrução interior. É aqui que o iniciado, tendo descido às profundezas do seu ser (nos graus anteriores), finalmente reconstrói seu templo interior e recebe a plenitude da luz espiritual. Portanto, este grau se constitui a consagração de uma jornada simbólica que parte da ignorância e caminha até a iluminação.

 

É um grau de síntese e elevação espiritual, no qual os elementos da justiça, sabedoria, moralidade e verdade, trabalhados em graus anteriores, são reunidos sob a ideia de perfeição interior e da presença do Divino em todas as coisas. Nesse contexto, a “perfeição” não se refere à ausência de falhas, mas ao estado de consciência desperta.

 

1.Temática Central e Comparações Filosófica

 

Este grau celebra a reconciliação do homem com o seu princípio criador, com a Verdade Suprema, simbolizada pelo Nome Inefável de Deus, reencontrado e agora compreendido não apenas intelectualmente, mas espiritualmente.

 

O iniciado neste grau é convidado a deixar de ser um simples buscador para se tornar um sábio construtor da harmonia universal, alguém que compreendeu o que é ser templo vivo do Grande Arquiteto do Universo (G.'.A.'.D.'.U.'.).

 

A ideia principal deste grau — reconciliar-se com o princípio divino e tornar-se templo vivo do GADU — é um tema comum na filosofia espiritual de várias culturas.

 

1.1 Platão e a Recordação da Verdade

 

Platão, em sua teoria da anamnese, ensina que o conhecimento verdadeiro já habita a alma, mas está esquecido. A missão do filósofo é relembrar o que sempre esteve ali. De modo semelhante, o Grau 14 afirma que o Nome Sagrado — símbolo da Verdade Suprema — não é algo a ser descoberto fora de si, mas reencontrado no templo interior.

 

Assim como o prisioneiro da Alegoria da Caverna precisa sair das sombras para ver a luz, o maçom neste grau vence a escuridão interior para contemplar a luz do espírito.

 

1.2 Aristóteles e a Ética da Plenitude

 

Para Aristóteles, a felicidade (ou eudaimonia) é o fim último da vida humana, alcançado pela prática da virtude e pelo uso pleno da razão. O Grau 14 também propõe que o maçom alcance sua realização ao construir uma vida virtuosa, baseada na sabedoria, na moral e na espiritualidade — uma espécie de “felicidade espiritual”, que transcende o prazer e o sucesso material.

 

1.3 Estoicismo e o Domínio Interior

 

Os estóicos, como Sêneca e Epicteto, ensinavam que o verdadeiro bem está na alma, e que o homem sábio é aquele que vive de acordo com a natureza e a razão. O maçom que alcança o Grau 14 já entendeu que a paz não vem do mundo externo, mas do domínio das paixões e da fidelidade à consciência. Ele se torna senhor de si mesmo — como o sábio estoico.

 

2. Simbolismo do Grau 14: Leitura Filosófica

 

Albert Pike vê este grau como a realização de toda a simbologia dos graus anteriores. A jornada do iniciado, cheia de desafios, quedas e ascensões, finalmente o leva a um estado de plenitude simbólica.

 

O Templo Reconstruído

 

O templo representa a alma que foi trabalhada, purificada e elevada, sobre a base sólida da sabedoria, da fé e da moralidade. Essa imagem é parecida com a da psique edificada na filosofia cristã neoplatônica, onde o homem é chamado a transformar-se num “templo vivo”, morada da divindade. Santo Agostinho dizia: “Volta para dentro de ti; no interior do homem habita a verdade”.

 

O Triângulo com o Nome Inefável

 

Três vértices, três mundos: Deus, Universo e Homem. Não se trata de conhecer o nome em si, mas de compreender o princípio eterno que ele simboliza. Este símbolo pode ser interpretado à luz da Trindade Filosófica Hermética (corpo, alma e espírito), mas também da tríade neoplatônica de Plotino: Uno, Intelecto e Alma. O Nome Inefável, assim, é a síntese desses três princípios — a expressão da Unidade em todas as coisas.

 

A Luz Perfeita

 

Símbolo da iluminação interior e da revelação espiritual. O iniciado agora vê com os “olhos do espírito”. Esta luz representa a iluminação espiritual, o despertar da consciência superior. É o que o budismo chama de nirvana, o hinduísmo chama de moksha, e os místicos cristãos chamam de visão beatífica. Para o iniciado, essa luz não vem de fora, mas nasce no coração que se tornou puro.

 

3. A Filosofia Esotérica em Albert Pike

 

Albert Pike, grande estudioso das tradições esotéricas, aproxima o Grau 14 de várias correntes de pensamento:

 

A ideia da harmonia universal como expressão de um princípio divino ecoa no símbolo do templo perfeito. Assim como os pitagóricos viam os números como reflexo da ordem cósmica, o maçom é convidado a ser um reflexo vivo dessa harmonia.

 

O reencontro com o Nome Inefável é similar à jornada cabalística pela Árvore da Vida, onde o buscador sobe pelas sefirot até alcançar a unidade com o Divino (Kether). O Nome, nesse contexto, é a revelação da identidade do homem com a centelha divina.

 

A jornada maçônica é um movimento de retorno (epistrophé) ao Uno. Para Plotino, esse retorno ocorre quando a alma se afasta das aparências e reencontra sua fonte. O mesmo acontece no Grau 14: o maçom volta-se para dentro, encontra a luz e se reintegra ao Princípio Criador.

 

4. Deveres Filosóficos do Sublime e Perfeito Maçom

 

Cada dever citado por Pike pode ser lido como parte de uma ética iniciática, comparável à de grandes pensadores:

 

Ser guia e exemplo moral como o sábio estoico, que ensina mais por ações do que por palavras.

 

Buscar sabedoria para servir como Sócrates, que dizia: “Conhecimento sem virtude é vaidade”.

 

Cultivar humildade espiritual como os místicos de todas as tradições, que reconhecem que o saber maior está além das palavras.

 

Construir continuamente o templo interior como o filósofo que se exercita na alma todos os dias, porque a sabedoria não é um ponto de chegada, mas um caminho.

 

Por enquanto

 

O Grau 14 não entrega uma palavra secreta, mas revela que a maior verdade já habita em nós. O iniciado não encontra algo novo — ele reconhece o que sempre esteve presente, mas velado pelas ilusões do mundo e pelas limitações do ego.

 

O verdadeiro templo é o coração que vive em justiça; o verdadeiro nome de Deus é aquele que se escreve com ações”. — Parafraseando Albert Pike

 

Na filosofia, essa é a jornada da alma para si mesma — um retorno ao ponto de origem, agora transformada pela consciência, pelo amor e pela verdade. O Sublime e Perfeito Maçom é aquele que, como dizia Heráclito, compreendeu que “o caminho para cima e para baixo é um só” — pois quem desce às profundezas do ser é também quem sobe às alturas do espírito.

 

TERCEIRA PARTE

 

Grau 14 – Grande Eleito, Perfeito e Sublime Maçom – Leituras Filosóficas

 

A leitura do Grau 14, inspirada nas interpretações de Albert Pike e alinhada à sensível hermenêutica de Giuseppe Giacóia Jr., abre um diálogo silencioso com grandes linhas do pensamento ocidental — como as de Kant, Nietzsche e Heidegger. Esse diálogo se dá em uma chave ontológica e existencial, rica em símbolos e voltada à experiência interior do ser.

 

1. O Grau 14 e a Metafísica da Interioridade

 

No centro do grau está o “Nome Inefável”, símbolo de uma Verdade Suprema que se redescobre no interior do iniciado. Aqui, a ideia de uma verdade inalcançável por meios puramente racionais se transforma: o que antes era inacessível, agora pode ser intuído — não pelo intelecto lógico, mas pela vivência moral e iniciática. O “templo interior” não é apenas um lugar simbólico, mas o espaço onde a razão ética se manifesta como iluminação viva, e não como imposição abstrata.

 

Nessa perspectiva, o iniciado não precisa conhecer o Nome como se fosse um objeto externo. Ao contrário, ele vive como se ele existisse — e, assim, o realiza em seus próprios atos. O Nome se torna presença ética, ação justa, e não conceito.

 

2. Transvaloração do Sagrado

 

Na jornada do Grau 14, o Nome já não é algo dado de fora, mas uma construção interior. Ele não se impõe como dogma, mas surge como expressão viva de uma força criadora. Aquele que desce aos graus inferiores e retorna, não é mais o mesmo: ele renasce como alguém capaz de criar novos valores a partir de si mesmo.

 

Esse novo templo não é edificado sobre a culpa, mas sobre a potência afirmativa da vontade. O Nome, aqui, não é encontrado: é forjado, esculpido na própria trajetória do iniciado. Não é estático, mas símbolo de uma superação contínua de si — um movimento em direção a um sentido que se constrói, e não se recebe.

 

3. O Templo como Espaço de Revelação

 

O “Templo Reconstruído” no Grau 14 não representa apenas uma alma virtuosa. Ele é o lugar onde o ser se deixa entrever — onde o sagrado não se impõe, mas se revela no silêncio. O Nome Inefável não se pronuncia; ele se manifesta na ação justa, na escuta interior, no modo como o iniciado habita o mistério.

 

Esse templo não precisa de palavras: ele é presença. A verdadeira luz, neste estágio, não é algo que se possui, mas algo que simplesmente se deixa acontecer. Não se trata de dominar um saber, mas de deixar-se tocar por aquilo que permanece oculto, mas essencial.

 

4. O Retorno ao Uno

 

Segundo Giacóia, os símbolos não dizem: eles convocam. O Grau 14 não oferece respostas, mas um caminho. Seu ensino não é doutrinário, e sim vivencial. Ele convida o iniciado a tornar-se aquilo que já é em essência — mas que ainda não reconheceu. O templo não é algo que se entra: é algo que se é. A oração não é dita: é vivida.

 

Hiran de Melo – Presidente da Excelsa Loja de Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.

 

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