GRAU 8 – Intendente dos
Edifícios
Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba – 1ª Região
0225 - LOJA DE PERFEIÇÃO PAZ E AMOR
FUNDADA
EM 11 DE ABRIL DE 1972
CAMPINA
GRANDE - PARAÍBA
GRAU 8 – Intendente dos
Edifícios
Por Hiran de Melo
Pacíficos
e Amados Irmãos,
A semelhanças dos graus anteriores trataremos
este Grau em três etapas, ou partes.
PRIMEIRA PARTE
Testemunho de um Iniciado
Os Mistérios do Grau 8 me fazem pensar que
ele também poderia ser chamado de Grau dos Educadores. Foi com esse
espírito que Salomão formou um conselho de mestres experientes, chamados de
Intendentes dos Edifícios. A missão: guiar e ensinar com sabedoria.
A Jornada Começa
No ritual de iniciação, entrei numa câmara
sagrada onde a Verdade e a Sabedoria se tornavam quase palpáveis. Antes de
cruzar aquela porta, reconheci minha ignorância — primeiro passo de quem quer
realmente aprender.
Fui desafiado em conhecimentos cabalísticos e
numerológicos. Nada era mecânico. Era preciso entrega, foco e, acima de tudo,
humildade.
Aprender para Ensinar
Mostrar domínio dos Mistérios Simbólicos e
saber olhar para dentro de mim foram provas essenciais. Meu desejo era claro:
fazer parte do círculo dos educadores.
O mar de bronze e o candelabro de sete braços
me serviram como símbolos da purificação e da luz interior. Contar e
compreender os nós da corda em volta do templo foi mais do que um exercício —
foi um despertar. Ali entendi o valor do Espírito como guia silencioso.
Receber o avental e a faixa verde foi mais do
que uma honra: foi um chamado para seguir os caminhos da sabedoria e ensinar a
Arte do Construtor Moral com humildade e fidelidade à Lei.
Crescer Junto com os Irmãos
Conhecer os Cinco Pontos da Felicidade
me mostrou a importância de estender a mão aos irmãos e compartilhar
conhecimento. Crescer, para o maçom, não é algo solitário — é um caminho que se
percorre junto.
A conexão entre os Graus 7 e 8 fica clara
quando falamos de julgamento. O verdadeiro educador avalia com discernimento e
amor, sempre pensando no crescimento de todos.
Amparo nos Momentos Difíceis
Os Mistérios do Intendente me colocaram
frente a frente com a fragilidade humana — como na tragédia de Hiram. Mas foi o
apoio dos irmãos que realmente me ensinou o valor do amparo mútuo.
Um verdadeiro Intendente é aquele que
sustenta o outro quando tudo balança. E esse é o papel de todo maçom: estar
presente quando o irmão mais precisa.
Cada Obreiro é Único
O grau também ensina algo fundamental: cada
irmão tem sua própria essência e seus próprios dons. A missão do educador não é
moldar todos no mesmo formato, mas ajudar cada um a florescer conforme sua
vocação.
O que fala bem pode se tornar Mestre Orador.
O que vibra com a música, um Mestre de Harmonia. Não há função menor ou maior —
cada uma tem sua dignidade.
O Chamado à Escuta
O Intendente precisa ter escuta atenta,
sensibilidade e flexibilidade. Em vez de impor modelos, ele adapta caminhos. Só
assim cada irmão pode crescer fiel a quem é — e não a quem esperam que ele
seja.
Para Refletir
Este testemunho não é um manual, nem uma
lição para ser decorada. É um convite ao coração e à mente. Pode ser lido como
uma reflexão sobre liderança, ensino ou fraternidade — tudo ao mesmo tempo. Mas
o verdadeiro sentido só aparece quando você deixa o texto ecoar dentro de você.
Segunda Parte
GRAU 8 – Intendente dos
Edifícios: Segundo a Visão de Albert Pike
Iremos retornar à imagem do construtor, inspirados
na visão simbólica e filosófica de Albert Pike, agora com nova
consciência: o iniciado já não ergue apenas muros, mas
coordena, supervisiona e lidera a construção do Templo moral da humanidade — e,
sobretudo, o seu próprio.
A
Arte da Liderança Ética na Construção do Futuro
Irmãos, ao alcançarmos o Grau 8, nossa
jornada maçônica nos eleva a uma nova condição. Deixamos para trás a função de
meros obreiros ou juízes, e somos agora investidos no papel de Intendentes –
supervisores, responsáveis pela condução da Obra.
Segundo Albert Pike, este grau simboliza a
liderança consciente e ética, que emprega a sabedoria para coordenar os
esforços de muitos em prol de um propósito sagrado: a construção do templo
coletivo da civilização moral.
Como
nos ensina o Mestre Pike: “O verdadeiro líder não manda
— orienta. Não exige — serve. Não brilha sozinho — acende outras luzes”.
Objetivo
do Grau 8
Ensinar ao maçom que autoridade e
responsabilidade são faces da mesma moeda.
Prepará-lo para liderar com justiça,
sabedoria e humildade, virtudes essenciais ao Intendente.
Inspirá-lo a transcender a visão da
construção como mera obra material, compreendendo-a como uma missão espiritual
e social de vastas proporções.
Simbolismo
do Grau
A riqueza simbólica deste grau nos oferece
profundas lições:
As Colunas e o Templo
Representam o progresso da humanidade em sua
marcha ascensional e a construção espiritual do homem interior. Cada pedra
simboliza uma virtude a ser cultivada, e cada falha nos serve de alerta para a
necessidade de constante aprimoramento.
Os Instrumentos de Medição
Simbolizam a justiça, a precisão e a
integridade que devem nortear a ação do Intendente. O Mestre Pike, lembram-nos
que o verdadeiro líder deve, antes de julgar os outros, medir a si mesmo com
rigor e honestidade.
O Plano de Construção
Representa o grande desígnio da Criação e a
necessidade de nos submetermos à Ordem Universal que rege o cosmos. O
Intendente, portanto, não é o arquiteto do mundo, mas sim aquele que executa
com fidelidade os planos do Grande Arquiteto do Universo.
Ensinamentos
Morais
O Mestre Albert Pike, em sua sabedoria,
destaca neste grau a importância de virtudes essenciais ao líder maçônico:
Disciplina interior
A verdadeira liderança emana do autocontrole
e do domínio das próprias paixões.
Humildade diante da Obra
Nenhum indivíduo é maior que o propósito
coletivo que nos une.
Colaboração fraterna
Nenhum edifício, seja ele material ou
espiritual, se constrói sozinho. A união de esforços é fundamental.
Visão moral e espiritual
Tudo o que construímos no mundo exterior deve
ser um reflexo da edificação que promovemos em nosso mundo interior.
Como nos adverte Mestre Pike: “Mais valioso que a pedra
cortada é o espírito lapidado. A obra visível é reflexo da construção invisível”.
O
Edifício Simbólico
Mestre Pike nos revela que o verdadeiro
edifício que o Intendente supervisiona é a construção de uma sociedade justa e
fraterna, onde:
A verdade constitui o alicerce sólido
sobre o qual se ergue a obra.
As paredes são erguidas com a retidão e o
amor fraternal que nos irmanam.
E o teto é formado pela esperança
inabalável no aperfeiçoamento moral da humanidade.
Influências
Filosóficas
A rica simbologia do Grau 8 ecoa tradições
filosóficas que moldaram o pensamento ocidental:
A tradição pitagórica, com
sua ênfase na ordem, na harmonia e na proporção como princípios fundamentais do
universo.
O conceito hebraico de “Avodah”, que nos apresenta o
trabalho como forma de adoração e serviço a Deus e à comunidade.
A ética platônica do bem
comum, que nos ensina que o verdadeiro líder é aquele que serve ao coletivo, e
não se curva aos ditames do próprio ego.
A
Liderança Iniciática
O Intendente
dos Edifícios é, em essência, aquele que:
Coordena
os esforços com sabedoria, discernindo os talentos de cada um e
distribuindo as tarefas com justiça.
Zela
pela harmonia da Obra, promovendo a concórdia e a união entre
os obreiros.
Corrige
com mansidão e ensina pelo exemplo, inspirando seus Irmãos a seguirem o
caminho da virtude.
Mestre Pike nos adverte que o orgulho, a
pressa e o autoritarismo são os piores inimigos da verdadeira liderança
espiritual, capazes de comprometer a solidez da construção.
Nas palavras do sábio Mestre Pike: “A autoridade moral não se
impõe — se conquista, pelo serviço e pela retidão”.
Por
enquanto
Irmãos, o Grau 8 nos convida a ascender à
condição de mestres da construção simbólica e da liderança moral. Não somos
mais simples obreiros ou observadores; somos agora responsáveis pelo progresso
da Obra em todas as suas dimensões – a edificação de nossa própria vida, o fortalecimento
de nossa Loja e a construção de um mundo mais justo e fraterno.
TERCEIRA PARTE
GRAU 8 – Intendente dos
Edifícios: Leituras Filosóficas
A análise filosófica do Grau 8 –
Intendente dos Edifícios, segundo a visão de Albert Pike, revela uma
compreensão iniciática da liderança que pode ser enriquecida por uma leitura
velada à luz de Immanuel Kant, Friedrich Nietzsche e Martin
Heidegger, especialmente sob a lente hermenêutica de Oswaldo Giacóia Jr..
Esse grau, que introduz o maçom ao papel de
supervisor ético da grande Obra, é mais do que uma metáfora organizacional: é
um chamado à edificação espiritual do humano enquanto ser ético e finito,
lançando o iniciado em uma crise filosófica de ação, dever e autenticidade.
1. A Ética da Autoridade:
Kant e a Liderança por Dever
A primeira lição do Grau 8 gira em torno do
equilíbrio entre autoridade e responsabilidade, um binômio profundamente
kantiano. Para Kant, autoridade verdadeira não é derivada da posição social ou
do carisma, mas da autonomia moral – da capacidade de agir segundo
princípios que possam ser universalizados. A máxima de Pike, “A autoridade moral não se
impõe — se conquista, pelo serviço e pela retidão”, ecoa o imperativo
categórico, em que a moralidade de um ato depende não das consequências,
mas da intenção conforme ao dever.
Assim, o Intendente é aquele que comanda não
por imposição, mas por exemplo. Sua autoridade emana da forma como encarna o
princípio, não do título que ostenta.
Liderar, aqui, não é exercer poder — é manifestar
o dever enquanto ação concreta, sem esperar reconhecimento. Essa renúncia
ao ego está no coração da ética do bem comum e se alinha à ideia de que
a construção do Templo moral é, antes de tudo, a construção do imperativo
interior da razão prática.
2. A Superação do Ego:
Nietzsche e a Liderança Criadora
No entanto, se Kant nos oferece a estrutura
normativa da ação justa, Nietzsche introduz uma dimensão crítica
indispensável à análise desse Grau: o combate contra a servidão da moral de
rebanho. O Intendente que se curva à formalidade vazia da liderança ou à
obediência cega aos ritos, transforma-se em um ser funcional, não em um
criador de sentido.
A máxima nietzschiana – “Torna-te quem tu és”
– convoca o iniciado a assumir uma liderança que não seja repetição, mas transvaloração,
isto é, uma liderança que cria novos valores a partir do autoconhecimento e da
coragem de se tornar espírito livre.
Cada pedra a ser erguida no Templo é também
um ato de superação interior, em que o iniciado deve lapidar seu próprio
espírito, vencendo os instintos de dominação, vaidade e servidão moral.
A liderança verdadeira, assim, não busca o
aplauso, mas afirma o valor da construção como ato criativo e ético. Nesse
sentido, o Intendente nietzschiano não se contenta com o edifício herdado
— ele busca continuamente reconfigurar os fundamentos.
3. A Finitude da Obra:
Heidegger e o Intendente como Dasein
A gente entende melhor o papel do Intendente
quando olha para esse grau com os olhos de Heidegger, especialmente com suas
ideias de cuidado (Sorge) e de Geworfenheit — que é o fato de sermos “lançados”
no mundo, sem ter escolhido onde ou como começar. O iniciado não começa do zero
nem decide as condições da Obra: ele já se encontra no meio dela, com tarefas
em andamento, pedras a cortar, estruturas em construção.
A vida do Intendente é marcada por uma
condição profundamente humana: ele se encontra entre o que já está posto e
aquilo que ainda precisa ser construído. É esse espaço — entre o que foi
herdado e o que ainda está por vir — que define sua jornada. Ele não escolheu
as circunstâncias da Obra, nem o ponto em que começou a participar dela. Já
chegou com tarefas em andamento, com estruturas em construção.
Essa experiência expressa o que Martin
Heidegger chamou de Geworfenheit — um termo que significa “lançamento” ou
“arremesso”. Quer dizer que a gente é jogado no mundo sem aviso, sem escolha,
sem roteiro. Não decidimos nascer, nem o tempo ou o lugar onde começamos a
viver. Já caímos no meio da história, com uma cultura, um corpo, uma linguagem,
um trabalho em andamento. E é a partir desse cenário que precisamos agir.
O Intendente, então, aprende o verdadeiro
sentido do cuidado — não como ansiedade ou medo de errar, mas como compromisso:
com a construção, com os outros e com o próprio ser. Ele cuida da Obra porque
está dentro dela, e isso faz parte do seu modo de existir no mundo.
O “Plano de Construção”, mencionado no texto,
representa aquilo que Heidegger chamaria de estrutura de sentido do mundo.
O Intendente, então, não é o criador absoluto, mas aquele que habita a Obra,
cuidando dela com responsabilidade, sabendo que nunca a verá concluída. Sua
missão é preservar a harmonia da totalidade — ainda que esta permaneça
sempre incompleta.
Como destaca Giacóia em sua hermenêutica
heideggeriana, o ser do homem é “projeto aberto ao possível”, e a liderança só
é autêntica quando reconhece sua finitude e acolhe o inacabamento como parte
da missão.
A “colaboração fraterna” nesse contexto não é
apenas uma exigência moral, mas uma condição ontológica: ninguém
constrói sozinho porque ninguém é sozinho. A construção do templo é
também o próprio modo de ser do homem no mundo — um ser-com-outros em
constante edificação.
4. A Obra Invisível: Entre a Ética e o Ser
Pike nos conduz, ainda, a um ponto de
transição sutil e poderoso:
“Mais valioso que a pedra cortada é o espírito lapidado”.
O que está em jogo aqui é uma mudança
profunda: deixar de buscar valor apenas nas aparências ou nas conquistas
externas, e passar a reconhecer o valor que vem do ser — o valor ontológico. O
templo que se constrói por fora, com pedras e estruturas, é só um reflexo de
algo muito mais importante: a construção interior. Como diria Heidegger, aquilo
que aparece diante dos olhos aponta para algo mais fundo, que está oculto, mas
é essencial. Nesse sentido, a obra visível é uma maneira de revelar — ou
desvelar — o processo espiritual por trás dela.
Por isso, o Intendente não é apenas alguém
que coordena tarefas ou cuida da ordem prática. Ele se torna um guardião da
verdade — não de uma verdade fixa, mas daquela que vai se revelando na ação
simbólica, na vivência ética, no cuidado com o outro. Ele lidera não só para
manter a estrutura funcionando, mas para ajudar a abrir caminhos, dar sentido,
inspirar. Ele transforma o trabalho em um espaço de revelação interior.
O Intendente passa, então, a ser mais do que
um supervisor técnico — ele se torna guardião da verdade, isto é, do
processo de desocultamento que se realiza na e pela ação simbólica e ética. Ele
lidera não apenas para organizar, mas para iluminar caminhos de
sentido.
A Ética Iniciática como Projeto de Ser
À luz da filosofia ocidental, o Grau 8
revela-se como um estágio de maturidade existencial, em que o iniciado é
chamado a unir:
A ética formal do
dever, como em Kant;
A afirmação trágica
do valor, como em Nietzsche;
A compreensão
finita do cuidado e da obra, como em Heidegger.
Pela leitura hermenêutica de Giacóia, essa
liderança simbólica não é um modelo institucional, mas um modo de ser,
um caminho de interpretação da existência como construção ética. A
“edificação da civilização moral” nada mais é do que o projeto existencial
de habitar o mundo com responsabilidade, justiça e autenticidade.
O Intendente dos Edifícios é, enfim, aquele
que habita o tempo como obra, e que compreende que construir é sempre
reconstruir-se — na pedra e no espírito.
Hiran de Melo – Presidente da Excelsa Loja de
Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da
Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA
da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.
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