GRAU 7 – Preboste e Juiz
Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba – 1ª Região
0225 - LOJA DE PERFEIÇÃO PAZ E AMOR
FUNDADA
EM 11 DE ABRIL DE 1972
CAMPINA
GRANDE - PARAÍBA
GRAU 7 – Preboste e Juiz
Por Hiran de Melo
Pacíficos
e Amados Irmãos,
A semelhanças dos graus anteriores trataremos
este Grau em três etapas, ou partes.
PRIMEIRA PARTE
Testemunho de um Iniciado
No antigo regime, o rei era tudo: legislava,
executava e julgava. A divisão entre os poderes só foi surgir com o tempo,
conforme os povos foram amadurecendo em consciência e organização.
No simbolismo do Grau 7 do Rito Escocês
Antigo e Aceito, essa mudança é refletida na continuação da Lenda de Hiram. O
Manual do grau é bem enxuto, o que leva muitos irmãos a buscar no Livro Sagrado
dos Hebreus mais pistas sobre os mistérios que aqui se revelam.
A Justiça Após Hiram
Com o assassinato de Hiram, as obras do
Templo pararam — mas não por muito tempo. Um novo mestre assumiu a condução dos
trabalhos. Só que, além de retomar a construção, era preciso garantir proteção
ao novo arquiteto e justiça para todos os envolvidos na obra.
A solução? Em vez de um único juiz, Salomão
criou um conselho de sete juízes — os Prebostes — liderados por Tito, guardião
da chave da urna de ébano onde ficavam as reclamações e decisões. Assim, nasce
o princípio central do Grau: Justiça só é legítima quando é igual para todos.
Civil e Militar: Uma Nova Dimensão
No simbolismo, “Preboste” se liga à Justiça
Militar, enquanto “Juiz” remete à Justiça Civil. E ainda havia os 3.600
Inspetores, que cuidavam da disciplina entre os 150 mil trabalhadores do
Templo. Mesmo que a obra fosse civil, a presença de elementos militares nesse grau
marca algo maior: a união entre autoridade e justiça, com equilíbrio e
propósito coletivo.
Muitos juristas interpretam esse grau de
forma técnica, mas aqui, proponho um olhar mais espiritual — escutar o
símbolo com os ouvidos da alma.
A Vivência Iniciática
Éramos sete irmãos recém-chegados do Grau 6,
conduzidos pelo Mestre de Cerimônias até a porta do Templo. Três batidas
rituais nos receberam. Ao entrar, sentimos uma presença forte e silenciosa no
centro — irradiando ordem, sentido e unidade.
Durante o ritual, recebemos a chave da urna
de ébano e a revelação do local onde está guardado o coração do Mestre Hiram.
Na tradição simbólica, o coração é o centro
sagrado do ser. É nele que mora o segredo mais profundo. Assim como a urna e o
baú — que guardam o coração e os planos do Templo — nos mostram: julgar com
justiça exige razão iluminada pelo coração.
A mística do Grau nos ensina: não existe
Justiça sem Amor. E não há Amor verdadeiro sem Justiça.
Julgar com o Coração
Julgar começa por conhecer. E conhecer é o
que permite acolher. Só acolhendo podemos amar — e só amando, julgar com
sabedoria.
A Justiça cega, baseada apenas em regras
frias, falha na sua missão. Como na Idade Média, quando mulheres que pensavam
diferente foram queimadas como “bruxas”, julgadas por homens que diziam seguir
o Deus do Amor, mas nunca buscaram compreendê-las.
Condenar sem conhecer é injustiça desde o
começo.
O Valor da Humildade
Walter Rehfeld narra, em um breve conto
místico judaico:
“Um mestre cometeu um erro sem querer.
Disseram-lhe: ‘Agora você perdeu seu lugar no Oriente Eterno’. Ele respondeu:
‘Que bom. Agora posso servir sem esperar nada em troca.’”
Esse pequeno trecho revela uma grande
verdade: o verdadeiro servidor é aquele que julga não por poder, mas por
compromisso com a Verdade — com humildade, sem vaidade.
Síntese Iniciática
O Grau 7 ensina que a Justiça só se realiza
de forma plena quando o julgador cultiva três virtudes essenciais:
Prudência – para evitar o erro
apressado;
Atenção – para enxergar além da
aparência;
Zelo – para cuidar do outro como se cuida de um
altar.
Conhecer para acolher. Acolher para amar.
Amar para julgar com sabedoria.
Que essa verdade habite em nós — e entre nós.
Segunda Parte
GRAU 7 – Preboste e Juiz: Segundo a Visão de Albert Pike
Desvendando a Justiça como Pilar da Jornada Maçônica
Irmãos Mestres Maçons, adentramos agora um
marco significativo em nossa jornada iniciática: o Grau de Preboste e Juiz.
Neste estágio, o tema central que nos convoca à reflexão é a Justiça.
Contudo, a compreensão que ora se nos apresenta transcende a mera concepção de
valor social, elevando-se à esfera da virtude divina e intrínseca ao
ser.
No Grau 7, o maçom é investido da função
simbólica de juiz. Diferentemente dos tribunais seculares, contudo, o
julgamento aqui proposto é de natureza moral, filosófica e eminentemente
interior. Para
o Mestre Albert Pike, este grau revela-se como um dos mais profundos no que
concerne à responsabilidade ética do iniciado.
Não se trata, pois, de erigir-nos em juízes
do mundo profano ou mesmo de nossos Irmãos. A tarefa que se nos impõe é a mais
árdua e essencial: julgar a nós mesmos com a firmeza da razão e a compaixão que
emana de um coração fraternal.
Como nos adverte a profunda sabedoria de
Mestre Pike: “O julgamento que se impõe ao outro deve
primeiro ser imposto a si mesmo, sob a luz da razão e da consciência”.
A Missão do Preboste e Juiz
A função simbólica do Juiz no Grau 7
desdobra-se em um tríplice dever:
Ser guardião vigilante da Justiça e da
Verdade,
princípios basilares de nossa Ordem.
Ser exemplo vivo de equidade,
imparcialidade e inabalável retidão moral, irradiando esses valores em todos os nossos
atos.
Compreender profundamente que julgar
é, antes de tudo, servir, buscando a harmonia e o bem comum, e jamais
exercer qualquer forma de domínio.
Para cumprir essa elevada missão, o Juiz deve
cultivar em seu ser:
Um coração puro,
fonte de discernimento e benevolência.
Uma mente serena,
capaz de ponderar com clareza e objetividade.
Um espírito firme e humilde,
consciente de suas próprias imperfeições e sempre aberto ao aprendizado.
A Filosofia Subjacente ao Grau
Segundo a luminosa perspectiva de Albert
Pike, o verdadeiro Juiz maçônico: Não se detém na busca incessante pelo erro
alheio, mas direciona seus esforços para o aperfeiçoamento coletivo da Loja e da
Humanidade.
Exerce o julgamento fundamentado na razão, mas
imbuído da compaixão que
nos irmana.
Possui a profunda compreensão
de que o tribunal mais augusto e inexorável é aquele erigido no âmago de sua
própria consciência.
Ecoando a sabedoria do Mestre Pike: “A
Justiça não é uma espada cega, mas uma balança equilibrada na mão de um
espírito iluminado”.
Os Símbolos que Iluminam o Caminho
Nossa reflexão sobre a Justiça no Grau 7 é
enriquecida pela contemplação de símbolos eloquentes:
A Balança
Este símbolo primordial evoca o delicado equilíbrio
entre o rigor necessário e a indispensável misericórdia. Para
Pike, ela representa o julgamento verdadeiramente justo, que pondera as intenções que motivam as ações, e não apenas os atos em
sua superficialidade.
A Espada
Emblemática do poder da Justiça, a
espada nos adverte, simultaneamente, sobre o grave risco de
utilizá-la desprovida de sabedoria e temperança. Sua elevação só se
justifica quando o coração do Juiz repousa em paz,
livre de paixões e preconceitos.
O Livro da Lei
Este volume sagrado representa o princípio
eterno da Verdade e da Moral Universal, fundamentos inabaláveis de toda ordem e
harmonia. Mestre Pike nos ensina que todo julgamento, para ser legítimo, deve
estar em estrita conformidade com leis superiores, de
natureza espiritual e ética.
As Influências Filosóficas
Mestre Albert Pike, em sua vasta erudição,
associa este grau a diversas tradições filosóficas e espirituais que enriquecem
nossa compreensão da Justiça.
O Código de Moisés, como
símbolo da moral revelada, fonte de princípios éticos fundamentais.
A Justiça de Salomão, arquétipo
da sabedoria
e do discernimento aplicados na resolução de conflitos.
A filosofia estoica, com
os ensinamentos de luminares como Sêneca e Marco Aurélio, que nos exortam ao autodomínio
e ao cumprimento rigoroso do dever.
A Justiça como Virtude Iniciática Fundamental
Para Mestre Pike, a Justiça transcende a
condição de mera virtude; ela se erige como o alicerce sobre o qual
todas as demais virtudes se sustentam.
Sem a solidez da Justiça, a verdadeira Fraternidade
torna-se uma quimera.
Desprovida da equidade da Justiça, a Liberdade
degenera em caos e anarquia.
Apartada da integridade da Justiça, a própria
Verdade pode ser utilizada como instrumento de opressão.
A Indissociável União entre Misericórdia e Justiça
Este grau nos instrui, de maneira indelével,
que a aplicação da Justiça deve sempre trilhar o caminho da Misericórdia.
Como sentencia Mestre Pike com sua profunda
perspicácia: “O
Juiz que não sabe perdoar é tão injusto quanto aquele que fecha os olhos ao
erro”.
Por enquanto
Irmãos Mestres Maçons, o Grau 7 de Preboste e
Juiz é um solene chamado à maturidade moral.
O maçom que alcança este patamar deixa de ser
apenas um construtor de templos materiais ou um guardião de tradições; ele
ascende à condição de árbitro da
harmonia,
de servo da verdade e,
fundamentalmente, de juiz implacável de si mesmo.
O Preboste
e Juiz é aquele que:
Pondera
cuidadosamente suas palavras e avalia com rigor seus atos.
Exerce
o julgamento com nobreza de espírito e absoluta imparcialidade.
E, acima de tudo, vive de maneira tão íntegra
que sua conduta jamais demande ser julgada.
Que as palavras finais de Albert Pike ressoem
em nossos corações como um farol em nossa jornada: “O
verdadeiro Juiz não julga para punir, mas para ensinar. E sua sentença mais
justa é o exemplo que dá com a própria vida”.
TERCEIRA PARTE
GRAU 7 – Preboste e Juiz: Leituras Filosóficas
A Justiça como Fenômeno do Espírito
Ao adentrarmos este grau, não nos é entregue
apenas uma função ritualística, mas uma tarefa ontológica: repensar a Justiça
não como conceito jurídico ou convenção ética, mas como o núcleo trágico da
existência — a tensão entre a liberdade e o dever, entre o eu que julga e o eu
que se sabe imperfeito. Como nos adverte a tradição hermenêutica, sobretudo na
leitura de Heidegger via Giacóia, a Justiça não se possui — ela acontece, quando o Dasein se põe em
escuta de sua própria finitude.
O Juiz em Pike: Julgar a Si é Começar a Existir
Em Morals and Dogma, Pike não nos propõe o
papel de magistrados do mundo, mas de intérpretes de nós mesmos. A Justiça,
para ele, é um fogo sutil, mais voltado para o interior do que para o exterior
— ela se exerce primeiramente no tribunal silencioso da consciência. Aqui
ressoa Kant, ao afirmar que o homem possui dentro de si um tribunal moral: o
imperativo categórico, que nos impele a agir como se nossa ação pudesse
tornar-se lei universal.
Mas é Nietzsche quem tensiona esse tribunal
interno ao limite, ao denunciar que toda moral é também vontade de poder. O Juiz,
então, deve vigiar-se para não projetar sobre o outro as sombras que ainda não
reconheceu em si. “Quem luta com monstros deve cuidar para não se tornar um
deles”, adverte o pensador de Röcken (cidade natal de Nietzsche).
A Tríplice Missão do Juiz: Guardião, Exemplo, Servo
Ao receber o Grau 7, o iniciado se torna
simbólico guardião da Justiça e da Verdade, não como possuidor de tais
virtudes, mas como ponte entre elas. Kant nos diria que ele age segundo a razão
prática; Nietzsche, que ele deve criar valores com a força de seu caráter; e
Heidegger, que ele deve habitar a clareira do Ser, resistindo ao esquecimento
do essencial.
Guardião — zela pelo equilíbrio entre o dever e a
liberdade.
Exemplo — encarna o que professa, pois a verdade
ética não se transmite por palavras, mas por gestos.
Servo — compreende que julgar é antes de tudo
servir ao outro, não se colocar acima dele.
Justiça e Hermenêutica:
Entre a Espada e a Balança
Os símbolos do Grau são ferramentas
hermenêuticas. Eles não representam apenas, mas revelam.
A Balança, em sua duplicidade, ressoa a ideia kantiana
de equilíbrio entre razão e inclinação. Julgar é pesar motivos, intenções,
contextos — é saber que há sempre um “ainda por dizer” no ato humano.
A Espada é o
símbolo do juízo, mas, à luz de Nietzsche, ela pode se converter em instrumento
de ressentimento, se brandida por um espírito ressentido. A verdadeira espada é
o Logos — a palavra que separa, discerne, mas não mata.
O Livro da Lei é a
figura do a priori moral kantiano e, ao mesmo tempo, a aletheia heideggeriana —
a verdade como desvelamento. O livro não é manual, mas mistério: só se abre
àquele que se dobra diante dele.
A Justiça como Fundamento das Outras Virtudes
Albert Pike é direto: sem Justiça, não existe
Fraternidade verdadeira; sem Fraternidade, a Liberdade se perde; e sem
Liberdade, a Verdade deixa de ser viva e vira só um dogma.
É uma sequência profunda, quase como uma
escada iniciática: tudo começa com a Justiça — mas não aquela imposta de fora,
e sim uma justiça que nasce da harmonia interior e do respeito ao outro.
Essa ideia se conecta com o que Heidegger
chama de fundamento abissal (Abgrund) — algo que sustenta, mas ao mesmo tempo
desafia. Ser justo, nesse sentido, é como caminhar à beira de um abismo: você
se mantém em pé, mas sabe que não há garantias absolutas. É uma firmeza que vem
da consciência, não da certeza. Ser justo é ter coragem de viver na dúvida, mas
sem cair no vazio.
A Tensão entre Justiça e Misericórdia
Pike, como um profeta trágico, nos lembra que
não existe Justiça autêntica sem a presença da Misericórdia. Não é concessão: é redenção do humano. O
Juiz que não perdoa é idólatra da norma; esquece que o homem é um projeto, um
vir-a-ser.
Nietzsche falaria em amor fati — o amor ao
destino, à falibilidade. Kant invocaria a dignidade da pessoa humana.
Heidegger diria que julgar sem misericórdia é
esquecer que o outro também caminha para a morte.
O Juiz de Si Mesmo
O Grau 7 exige do maçom não a perfeição, mas
a sinceridade radical diante de si. Julgar é escutar o próprio silêncio, e nele
ouvir o chamado para uma vida íntegra.
O verdadeiro Juiz não pune — ensina. E ensina
com sua própria vida.
É nisso que reside a pedagogia silenciosa da
maçonaria: tornar-se exemplar, não pelo discurso, mas pela conduta.
Que os Irmãos se lembrem: quem carrega a
espada da Justiça deve primeiro atravessar com ela o próprio coração.
Hiran de Melo – Presidente da Excelsa Loja de
Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da
Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA
da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.
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