LOJA DE PERFEIÇÃO 


Instrução do Grau 4 - 2ª Parte - Immanuel Kant

Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba – 1ª Região

0225 - LOJA DE PERFEIÇÃO PAZ E AMOR

FUNDADA EM 11 DE ABRIL DE 1972

CAMPINA GRANDE -  PARAÍBA

 

Instrução do Grau 4 – Questionário 2ª Parte, ao olhar de Immanuel Kant

 

Análise Filosófica à Luz de Immanuel Kant

 

Refletir sobre este questionário simbólico à luz da filosofia moral de Immanuel Kant, especialmente sua visão da religião nos limites da razão, nos conduz a uma leitura ética e racional dos elementos apresentados. Para ele, os símbolos não têm valor por sua materialidade ou tradição histórica, mas pelo que representam na razão prática — isto é, sua ligação com o dever moral autônomo.

 

O que mais vistes no Sanctum Sanctorum?

 

O Sanctum Sanctorum pode ser compreendido como a imagem do reino interior da razão moral, onde os princípios éticos mais elevados são contemplados. Cada objeto listado deixa de ser visto como dogma ou rito externo e passa a expressar ideias que regulam a vida prática:

 

Arca da Aliança: a lei moral interior, o imperativo categórico, gravado não em pedras, mas na própria razão humana.

Querubins: guardiões da consciência, símbolos da vigilância moral.

Candelabro de sete luzes: expressão das diversas virtudes ou dimensões da razão prática.

Altar Triangular: a tríade liberdade, razão e dever.

Altar dos Perfumes: a pureza das intenções, mais elevada que a simples ação visível.

Mesa dos pães propiciais: o alimento espiritual fornecido pela razão moral.

Altar dos Juramentos: compromisso com a autonomia e a boa vontade.

Altar dos Sacrifícios: a renúncia ao egoísmo em favor da lei universal.

 

Nessa perspectiva, os símbolos só têm valor quando expressam princípios racionais e morais.

 

O que a Arca representa? — A aliança entre Deus e seu povo

 

Aqui, a aliança não é um contrato externo com um Deus pessoal, mas a submissão da vontade humana à lei moral universal — aquilo que a consciência reconhece como dever.

 

Forma e materiais da Arca

 

A descrição literal da madeira ou do ouro não é o essencial. O que importa é o sentido simbólico:

 

Ouro por dentro e por fora: a pureza da moralidade, que deve ser íntegra tanto na intenção quanto na ação.

Querubins: não figuras míticas, mas sinais da vigilância da razão sobre desejos e inclinações.

 

Propiciatório

 

Não há espaço para aplacar a ira de um Deus passional. A verdadeira reconciliação é interna: abandonar o agir por medo ou desejo (heteronomia) e abraçar o agir por dever (autonomia).

 

Tábuas da Lei

 

Mármore branco: imutabilidade e universalidade da lei moral.

Decálogo: valioso não por ter sido revelado, mas por coincidir com o imperativo categórico — aquilo que a própria razão reconhece como necessário e universal.

 

A distinção entre:

Lei Divina (deveres para com Deus): princípios de moral interna.

Lei Moral (deveres para com o próximo): fundamento da vida social, marcada pela reciprocidade e pela universalidade.

 

Síntese

 

Este questionário não é um catecismo religioso, mas um retrato simbólico da vida moral autônoma:

 

A verdadeira santidade do “Templo” está na razão prática, não nos rituais.

 

A verdadeira aliança com Deus é agir segundo princípios que possam ser universais.

 

O culto mais elevado é agir por dever, e não por medo ou interesse.

 

Os mandamentos valem porque são racionais e universais, e não apenas por terem sido revelados.

 

Assim, o Sanctum Sanctorum deixa de ser um espaço físico para se tornar um templo interior, construído na consciência moral de cada ser humano.

 

Hiran de Melo – Presidente da Excelsa Loja de Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.

 

Vale a pena ler de novo:

https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/04/instrucao-do-gr-au-4-questionario-2.html

 

Anexo

 

Um Diálogo entre Albert Pike e Immanuel Kant

 

A interpretação do questionário simbólico pode seguir diferentes caminhos, dependendo da lente através da qual o observador o contempla. De um lado, a visão esotérica de Albert Pike, em Morals and Dogma, que enxerga nos elementos do Templo de Salomão uma linguagem sagrada para o despertar da alma. De outro, a leitura ética e racional de Immanuel Kant, para quem todo símbolo vale não pelo objeto em si, mas pela ideia moral universal que nele se expressa.

 

O Sanctum Sanctorum

 

Para Pike, o Sanctum Sanctorum é o espaço sagrado da alma, onde o Iniciado encontra a centelha divina. Cada objeto — Arca, Querubins, Candelabro, Altares e Mesa dos Pães — é um guia simbólico da jornada interior rumo à Luz e à purificação espiritual.

 

Já para Kant, o Sanctum Sanctorum não é um recinto de mistério, mas uma metáfora do reino da razão prática. Ali, os mesmos objetos perdem o caráter ritualístico e se tornam expressões da lei moral: a Arca é o imperativo categórico; os Querubins, a vigilância da consciência; o Candelabro, as virtudes da razão; e o Altar dos Sacrifícios, a renúncia ao egoísmo em favor da lei universal.

 

A Arca da Aliança

 

Na leitura simbólica de Pike, a Arca é a aliança do homem com sua própria consciência superior. Sua forma, materiais e ornamentos traduzem verdades espirituais: a acácia simboliza a imortalidade da alma, o ouro reflete pureza interior e exterior, e os Querubins guardam os segredos divinos.

 

Para Kant, contudo, o essencial não está na matéria ou no ornamento, mas no sentido racional: o ouro por dentro e por fora representa a integridade moral entre intenção e ação. A verdadeira aliança não é com um Deus pessoal, mas com a lei moral universal, gravada na razão de cada ser humano.

 

O Propiciatório e as Tábuas da Lei

 

Pike vê no propiciatório o equilíbrio entre Justiça e Misericórdia, lembrando que a espiritualidade deve iluminar a letra fria da lei. As Tábuas, divididas em Lei Divina e Lei Moral, apontam a dupla missão do iniciado: elevar-se espiritualmente e contribuir para uma sociedade justa.

 

Kant, por sua vez, recusa a ideia de aplacar a ira divina. A reconciliação é interna: agir não por medo ou interesse, mas por dever. O Decálogo tem valor não por ter sido revelado, mas porque coincide com o imperativo categórico, sendo universal e necessário.

 

Síntese Comparativa

 

Ambas as leituras convergem na importância da construção do Templo interior, mas divergem nos fundamentos:

 

Pike oferece um caminho esotérico, no qual cada símbolo conduz o iniciado ao aperfeiçoamento da alma e à comunhão com o Grande Arquiteto do Universo.

Kant propõe um caminho racional, em que a verdadeira santidade está em agir por dever, reconhecendo na razão prática a expressão mais elevada da lei universal.

 

Assim, a simbologia do questionário pode ser vista tanto como roteiro iniciático quanto como retrato da vida moral autônoma. O Iniciado, ao refletir sobre esses dois horizontes, descobre que o Templo de Salomão pode ser lido tanto como metáfora da alma quanto como metáfora da razão — e que em ambas as perspectivas a finalidade é a mesma: a elevação do homem rumo à verdade, à justiça e à liberdade.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog