Grau 11 – Sublime Cavaleiro
Eleito
Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba – 1ª Região
0225 - LOJA DE PERFEIÇÃO PAZ E AMOR
FUNDADA
EM 11 DE ABRIL DE 1972
CAMPINA
GRANDE - PARAÍBA
Grau 11 – Sublime Cavaleiro
Eleito
Por Hiran de Melo
Pacíficos
e Amados Irmãos,
A semelhanças dos graus anteriores trataremos
este Grau em três etapas, ou partes.
PRIMEIRA PARTE
Testemunho de um Iniciado
Ao chegar ao Grau 11 — Cavaleiro Eleito dos
Doze — fui levado a refletir sobre algo fundamental e atemporal: o poder, como
ele é exercido e os perigos da centralização. As instruções do grau não nos
entregam respostas prontas, mas chaves simbólicas para pensar liderança, responsabilidade
e justiça.
A jornada continua a partir da Lenda de
Hiram. Salomão, reconhecendo o valor dos quinze cavaleiros do grau anterior,
decide dividir seu reino em doze tribos e delegar o governo a doze deles — não
por mérito individual, mas por sorte. Um gesto que mistura confiança, humildade
e fé em algo maior que a própria razão.
A escolha não foi aleatória: o número 12
carrega forte simbolismo — as tribos de Israel, os apóstolos, os meses do ano —
remetendo à harmonia e totalidade. Já os 15 Eleitos trazem em si a soma de
números simbólicos: 3, 5 e 7 — espiritualidade, equilíbrio e perfeição moral.
Salomão não aplicou um sistema político como
conhecemos hoje. Ainda assim, sua decisão nos inspira: governar é partilhar
responsabilidades, e liderar é saber confiar no coletivo. O Grau 11 não
prega ideologias, mas nos convida a refletir criticamente sobre modelos de
organização social. O socialismo pode buscar igualdade, mas muitas vezes falha
na prática. O liberalismo valoriza a liberdade, mas pode gerar exclusões. A
Maçonaria, por sua vez, forma homens livres — pensantes, éticos e fraternos.
O sorteio dos Doze me marcou profundamente.
Ali, Salomão demonstrou que justiça não é só lógica — é entrega ao invisível.
E mesmo com autoridade, cada líder permaneceu vinculado à visão maior do Rei.
Assim também é nossa jornada: somos livres, mas não soltos; temos voz, mas
também consciência.
Mas o grau não para no raciocínio. Ele nos
empurra para dentro. Aos poucos, percebi que os símbolos não explicam — eles
despertam. A iniciação aqui não é só ritualística, é transformação
interior. O verdadeiro Eleito não é apenas alguém que governa, mas alguém que
se purifica — que trilha a via da luz com humildade e firmeza.
A obediência nesse grau não é subserviência.
É alinhamento com a Lei que pulsa dentro de nós. Ser Cavaleiro Eleito é vigiar
o orgulho, a vaidade, a mentira — não nos outros, mas em nós mesmos. É saber
que o poder, se não for guiado pelo Amor e pela Verdade, se corrompe.
Lembro do beijo simbólico entre os Eleitos.
Ele não é só um gesto. É compromisso, é comunhão, é reconhecimento do outro
como irmão. Não é o beijo que conquista, mas o que se entrega. Uma expressão
silenciosa da fraternidade profunda entre aqueles que servem o mesmo ideal.
Nesse grau, aprendi que a verdadeira
sabedoria nasce no coração. Os rituais falam à alma. O intelecto ajuda a
entender, mas só o coração compreende de verdade. Por isso os símbolos não
envelhecem: porque são vivos em quem os vive.
Receber este grau não é um prêmio — é um
chamado. Um chamado à maturidade espiritual, ao uso consciente do poder, e ao
serviço humilde à Luz.
Cavaleiro Eleito dos Doze,
agora também Excelente Mestre:
Portas símbolos sagrados.
Ergues a espada que não ataca, mas defende.
E sabes que a Justiça, sem Amor, vira tirania.
E que a Verdade, sem humildade, se transforma em orgulho.
Luta, sim — mas dentro de ti.
Defende a Verdade — começando por ti.
E nunca esqueças: foste eleito não por
conquista, mas por vocação.
SEGUNDA PARTE
Grau 11 – Sublime Cavaleiro
Eleito: Segundo a Visão de Albert Pike
Pacíficos
e Amados Irmãos,
O
Grau 11 encerra a chamada Trilogia dos Elús (graus 9, 10 e 11) e trata
da responsabilidade do maçom como defensor consciente da
justiça e da verdade — não apenas contra o mal exterior, mas
principalmente contra a corrupção moral e institucional,
que muitas vezes se esconde dentro da própria alma ou das estruturas sociais.
Segundo
Albert Pike, neste grau o iniciado alcança uma etapa de maturidade
espiritual. Ele não é mais apenas um executor da justiça, como nos graus
anteriores, mas se torna um guardião vigilante da ordem moral,
alguém que compreende o peso da retidão e do poder.
Interpretação do Grau, segundo Albert Pike
Para
Pike, o Grau 11 representa um novo patamar de consciência: o maçom começa a
entender que a verdadeira justiça exige coragem, sabedoria e
firmeza moral. A vigilância
agora é interna e externa — deve-se observar tanto os próprios atos
quanto os sistemas que perpetuam a injustiça.
Temas Centrais do Grau
Justiça com
responsabilidade
O
iniciado passa a fiscalizar e defender a justiça em todos os níveis — inclusive
dentro da própria Ordem.
Luz e trevas
O
combate simbólico entre a verdade e a mentira, a sabedoria e a ignorância, continua em todos os graus.
Autoconhecimento
O
Sublime Cavaleiro é chamado a praticar uma introspecção honesta, julgando
primeiro a si mesmo antes de julgar os outros.
Simbolismo do Grau
Mestre
Pike oferece uma interpretação rica e profunda dos símbolos deste grau:
Os
Doze
Cavaleiros representam os que foram escolhidos não por força,
mas por virtude, sabedoria e pureza de intenções.
A
luta não é mais física, mas
moral: combate-se a hipocrisia, a mentira institucionalizada e os abusos disfarçados de
autoridade.
O
verdadeiro Cavaleiro é aquele que tem coragem de enfrentar a falsidade,
mesmo que esteja dentro da própria estrutura à qual
pertence.
Filosofia Moral do Grau
Para
Pike, o Grau 11 é uma lição sobre ética inabalável. Ele adverte:
Poder sem ética gera
tirania.
Zelo sem sabedoria
causa destruição.
A
justiça
verdadeira só pode ser praticada por quem vê o mundo com
clareza, reconhece seus próprios defeitos e ainda assim escolhe fazer o bem.
"A verdadeira justiça não é cega — ela vê o certo e o errado,
mesmo quando ambos vestem o mesmo manto."
— (Paráfrase inspirada em Albert Pike)
Deveres do Sublime Cavaleiro
O
Sublime Cavaleiro tem compromissos
sérios com sua consciência e com a sociedade:
Ser
vigilante
contra a injustiça, especialmente a que nasce da hipocrisia ou do
poder corrompido.
Agir
com equilíbrio,
firmeza e discernimento.
Manter-se
fiel à
verdade, mesmo quando ela for incômoda.
Purificar-se
continuamente,
reconhecendo que o mal mais perigoso pode estar dentro de nós.
Por enquanto
O
Grau 11 é o ponto alto da trilogia dos Elús. Marca a
passagem do iniciado que aplica a justiça para aquele que a defende com
consciência, coragem e integridade.
É
um chamado à ação silenciosa, firme e ética. O verdadeiro Cavaleiro da Luz não
luta com espadas, mas com a verdade que purifica a si mesmo
antes de ser aplicada aos outros.
TERCEIRA PARTE
Grau 11 – Sublime Cavaleiro
Eleito: Leituras Filosóficas
A
análise filosófica do Grau 11 – Sublime Cavaleiro Eleito, segundo a
visão de Albert Pike, permite uma leitura hermenêutica que entrelaça os
pensamentos de Nietzsche, Kant e Heidegger, sob o véu interpretativo da
hermenêutica crítica de Oswaldo Giacóia Jr. Trata-se aqui não apenas de um grau
iniciático da Maçonaria, mas de uma etapa simbólica de maturação ontológica e
ética, na qual o sujeito se vê convocado à superação de si mesmo e à afirmação
de um agir moral que não mais se sustenta em convenções, mas numa consciência
lúcida da responsabilidade diante do ser e da verdade.
A Interiorização da Justiça: Kant e a Autonomia da Vontade
A
ênfase no julgamento interno, que antecede qualquer ação externa do Sublime
Cavaleiro, evoca fortemente a moral kantiana da autonomia da razão prática.
Para Kant, o sujeito ético não é aquele que age por inclinação ou utilidade,
mas aquele que age por dever, obedecendo à lei moral inscrita em sua
própria razão. Quando o texto diz que o Cavaleiro "julga primeiro a si mesmo antes de julgar os outros", vemos aí
o reflexo do imperativo categórico: "Age de tal maneira que a máxima da
tua ação possa ser erigida em lei universal".
Mas
há, aqui, um deslocamento: se em Kant a razão é o fundamento do agir moral,
Pike — e por extensão, a interpretação hermenêutica de Giacóia — conduz o
iniciado a um campo mais complexo, onde a razão está atravessada pelo sofrimento
da lucidez, pela consciência da corrupção do mundo e de si. A moral
kantiana, neste contexto, é mantida como referência, mas já é pressentida sua
insuficiência diante da complexidade do real.
Nietzsche: A Transvaloração e o
Combate Interno
Quando
o texto propõe que "a luta não é mais física, mas
moral", e que o "verdadeiro Cavaleiro
enfrenta a falsidade mesmo dentro da própria estrutura à qual pertence",
ressoam aqui os ecos nietzschianos da transvaloração dos valores.
Nietzsche denuncia as estruturas morais herdadas, revelando nelas formas
disfarçadas de vontade de poder, de servidão interior e de hipocrisia social —
as mesmas que Pike atribui à “mentira institucionalizada” e ao “abuso
disfarçado de autoridade”.
O
Cavaleiro Eleito, nesse sentido, se aproxima do espírito livre
nietzschiano, que ousa romper com os dogmas estabelecidos. Ele não se contenta
com a moral de rebanho, mas assume o peso de criar sentido — de ser, ele mesmo,
o critério da verdade que o habita, na medida em que purifica sua visão
e coragem. Como diria Giacóia, esse é o espaço hermenêutico onde a filosofia de
Nietzsche se transforma num “pensamento do porvir”, uma ética da responsabilidade
radical que começa pela destruição das máscaras.
Heidegger: Cuidado,
Autenticidade e Desvelamento
O
chamado do Grau 11 para a introspecção, para uma coragem quieta e firme diante
da verdade lembra bastante o que Heidegger falava, especialmente sobre viver de
forma autêntica.
Quem
entra nesse caminho é convidado a deixar de lado o "man", aquele
jeito superficial de viver, baseado na opinião dos outros, na repetição do
senso comum. Em vez disso, é preciso viver com determinação, como Heidegger
dizia: estar realmente aberto para escutar o que o ser tem a dizer, encarar a
angústia que vem com a liberdade e se comprometer com a verdade — não como algo
pronto, mas como algo que vai se revelando.
Quando
se afirma que “a verdadeira justiça não é cega — ela vê
o certo e o errado, mesmo quando ambos vestem o mesmo manto”, temos aí
um instante de desocultamento, no qual o ser do justo se revela na tensão entre
aparência e essência. O Cavaleiro, portanto, não age por simples regras
externas, mas porque está sintonizado com um modo de ser que compreende o
trágico da existência e a urgência da responsabilidade. Essa compreensão é, em
termos heideggerianos, um acontecer hermenêutico, algo que transforma o
próprio ser daquele que interpreta.
Giacóia: A Hermenêutica da
Urgência Ética
Na
leitura hermenêutica de Oswaldo Giacóia Jr., a filosofia não se contenta com
uma interpretação do mundo; ela se compromete com uma ética do pensar.
Assim, o grau maçônico se apresenta como um espaço simbólico onde o pensamento
filosófico se torna ação — não no sentido de pragmatismo, mas de uma ação
interpretativa transformadora.
Giacóia
nos convida a compreender que a filosofia de Nietzsche, e a crítica ontológica
de Heidegger, não devem ser vistas como negadoras da moral, mas como uma
exigência de sua recriação. O Sublime Cavaleiro Eleito é aquele que compreende
esta urgência: não apenas denunciar o mal, mas reconstituir o sentido da
justiça e da verdade a partir do solo abalado da existência. É um herói
trágico, no sentido grego — alguém que, ao reconhecer a fragilidade do humano,
se ergue mesmo assim com integridade.
A Ética como Caminho Iniciático
O
Grau 11, à luz desta leitura filosófica, é um grau de ruptura e reinício.
Ele marca o momento em que o iniciado não apenas "sabe" o que é
justo, mas assume o peso de ser justo em um mundo onde a justiça é
frequentemente um simulacro. Sua luta é contra o niilismo, contra a
desintegração do sentido — e, assim, ele realiza a tarefa hermenêutica mais
nobre: interpretar o mundo para recriá-lo eticamente.
É
um grau de transição, de passagem do homem reativo ao homem afirmativo. E, como
diria Nietzsche em “Zaratustra”: “Torna-te quem tu és!” — não por
orgulho, mas por dever. O dever de ser fiel à verdade que se desvela em ti.
Hiran de Melo – Presidente da Excelsa Loja de
Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da
Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA
da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.
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