Cântico do Mestre Secreto
Por
Jivago de Azevedo Chaves
Após o simbólico está o secreto,
descalço na terra, simples no passo.
Caminha quem sabe que é leve o espaço
do espírito livre que aceita calar.
No templo velado pela luz interior,
ecoa um chamado sem voz nem clamor.
Não busca honrarias, nem glórias
terrenas,
mas sim a verdade, em sendas serenas.
Guardião do segredo, com lume na mão,
vigia em silêncio com firme atenção.
Humilde é o servo que fiel à missão,
rege-se pela luz e pela razão.
Discrição: seu manto sagrado.
Constância: martelo do obreiro elevado.
Com passos discretos, honrando o dever,
sabendo que servir é também renascer.
No templo do ser, o Mestre constrói
com silêncio e trabalho o que nunca se
dói.
A vitória aqui não reluz em vaidade,
mas brilha em silêncio em pura verdade.
Análise estilística
e filosófica do poema "Cântico do Mestre Secreto”
Introdução
O poema “Cântico do Mestre Secreto” de Jivago
de Azevedo Chaves é um texto poético de profundo valor simbólico e filosófico,
especialmente quando lido dentro da tradição iniciática maçônica. Sua estrutura
lírica e seu conteúdo remetem ao ideal do iniciado silencioso, que trilha o
caminho do autoconhecimento e da superação interior. Podemos compreender melhor
essa caminhada à luz do pensamento de Friedrich Nietzsche, conforme
interpretado pela filósofa brasileira Scarlet Marton, que destaca o Nietzsche
que valoriza a vida, a criação de si mesmo e a superação dos valores prontos.
Estilo: Simplicidade e Profundidade
O estilo do poema é direto, porém
simbólico. Utiliza uma linguagem acessível, mas com uma camada densa de
significados. O uso da métrica fluida, da sonoridade discreta e da imagem
simbólica – como "luz interior", "servo fiel", "templo
do ser" – constrói um ambiente iniciático e contemplativo. O tom é
humilde, mas firme, ecoando o silêncio respeitoso do verdadeiro buscador.
O texto evita o brilho do ego. Em vez
de exaltar feitos visíveis, louva o serviço silencioso e o compromisso interno.
Assim, o poema honra o papel do Mestre Secreto: aquele que opera no invisível,
guiado não pelo aplauso, mas pela verdade.
Filosofia: Nietzsche como guia do espírito livre
Friedrich Nietzsche propõe, em sua
filosofia, a ideia do espírito livre – aquele que rompe com os dogmas, com a
moral imposta e busca criar novos valores a partir de si mesmo. Para Scarlet
Marton, Nietzsche não é um niilista que destrói tudo, mas alguém que propõe um
caminho de transvaloração: superação dos antigos valores e criação de um novo
modo de ser.
Vejamos agora como esses elementos
aparecem no poema:
1. “Após o simbólico está o secreto”
Aqui temos uma distinção clara entre o
que é visível e o que é essencial. Isso ecoa Nietzsche quando ele critica os
valores herdados e superficiais da sociedade – aquilo que parece ter valor, mas
não tem profundidade. O caminho do Mestre Secreto, então, começa quando o maçom
vai além das formas e rituais e busca o verdadeiro sentido da existência.
Velada citação de Scarlet Marton: A superação do
simbólico é o movimento do espírito livre que “desfaz os véus” impostos pelas
tradições sem alma.
2. “Caminha quem sabe que é leve o espaço / do espírito livre que
aceita calar”
Essa imagem do “espírito livre” que
caminha em silêncio é nitidamente nietzschiana. O verdadeiro sábio, para
Nietzsche, não precisa da aprovação dos outros. Ele encontra força em sua
própria interioridade. O silêncio aqui não é ausência de fala, mas presença
plena de consciência.
Para o maçom, isso significa agir com
retidão mesmo quando ninguém vê – porque já se tornou luz para si mesmo.
3. “Não busca honrarias, nem glórias terrenas”
O poema rejeita os valores comuns da
sociedade (status, glória, reconhecimento). Nietzsche chama isso de valores
decadentes, criados por uma moral que domestica o homem. O Mestre Secreto segue
outro caminho: busca a verdade, a elevação do ser, mesmo que isso não lhe traga
reconhecimento social.
Scarlet Marton observa que
Nietzsche não quer destruir a moral, mas superá-la por uma ética do indivíduo criador.
O Mestre, então, é o homem que recria sua moral a partir de dentro.
4. “No templo do ser, o Mestre constrói / com silêncio e trabalho o
que nunca se dói”
Esse é o momento mais poderoso do
poema. Aqui o “templo” não é um prédio físico, mas o ser humano mesmo. A
construção é espiritual, e nela não há dor no sentido niilista – porque a dor
foi integrada como parte da criação. O Mestre está além do ressentimento.
Isso nos leva ao ideal do além-do-homem (Übermensch), aquele que cria sentido mesmo onde os
outros só veem vazio.
5. “A vitória aqui não reluz em vaidade”
A vitória silenciosa e humilde é o
oposto do triunfo exterior, superficial. Em Nietzsche, a verdadeira conquista é
a autossuperação. O poema afirma que o Mestre vence sem vanglória – porque sua
luta é interna. Ele domina a si mesmo, e isso basta.
Para Scarlet Marton, a maior vitória
nietzschiana é viver como uma obra de arte, silenciosamente bela e
profundamente fiel à sua essência.
O Mestre como
símbolo do além-do-homem
Em suma, o “Mestre Secreto” é uma
imagem poética daquele que realiza o ideal nietzschiano: o ser que se torna o
que é, silenciosamente, guiado não pela vaidade, mas por uma luz interior. Sua
discrição, constância e fidelidade à missão ecoam o espírito livre que
Nietzsche tanto valorizava – e que Scarlet Marton nos ajuda a compreender como
alguém que não se acomoda com os valores herdados, mas ousa construir os seus
próprios.
Hiran
de Melo
Presidente
da Excelsa Loja de Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria
Litúrgica do Estado da Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33
do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.
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