Mensagem de um Irmão Mestre Maçom

 

Boa noite, meu Amado Irmão,

 

Uma realidade muito interessante se impõe: ao serem iniciados em nossa Ordem, os neófitos frequentemente esperam encontrar, desde o início, uma orientação clara sobre o verdadeiro desbastar da Pedra Bruta — conforme simbolizado pela posição do Esquadro e do Compasso sobre o Livro da Lei. Esperam que esse processo seja contínuo, vivo e transformador.

 

No entanto, com o passar do tempo, vemos o Esquadro e o Compasso mudarem de posição — grau após grau — sem que haja, de fato, uma mudança interior correspondente. Aquele que ontem era neófito, hoje é Mestre, mas muitas vezes um Mestre leigo, alguém que carrega apenas os títulos, não a sabedoria.

 

O que deveria ter sido aprendido foi deixado para trás. O Homem-Maçom, que deveria ter se formado no conhecimento iniciático, capaz de guiar os novos Irmãos, muitas vezes permanece tão alheio quanto eles.

 

Desde o princípio, não se ensinou que a matéria domina o espírito — uma verdade que, quando reconhecida, poderia iniciar o processo de superação. E no terceiro grau, tampouco se ensina que o espírito deve dominar a matéria — princípio fundamental da Maestria.

 

Assim, meu Amado Irmão, o essencial permanece desconhecido, enquanto nos detemos no ensino de muitas coisas que, na verdade, poucos valores possuem.

 

Fraternalmente,


Inácio Loiola

 

Resposta

 

Boa noite, meu amado Irmão e Mestre Inácio,

 

Antes de tudo, obrigado por sua mensagem tão sincera e profunda. Ela me tocou porque fala de algo que muitos de nós sentimos, mas que poucos têm coragem de expressar: a sensação de que estamos caminhando, mas sem realmente sair do lugar.

 

Você apontou com muita clareza uma realidade que acontece dentro de nossas Lojas: muitos Irmãos entram com o coração cheio de esperança, achando que vão encontrar um caminho claro para lapidar sua Pedra Bruta — que vão se tornar homens melhores, mais conscientes, mais espirituais.

 

Mas, com o tempo, tudo vira costume, formalidade, símbolo repetido sem sentido. O Esquadro muda de posição, os graus aumentam, mas a transformação interior, essa não acontece.

 

Esse problema que você levantou me lembra muito do que o filósofo Martin Heidegger chamava de "vida inautêntica". É quando a gente vive no piloto automático, só repetindo o que todo mundo faz, sem refletir, sem se perguntar pelo verdadeiro sentido das coisas. Na Maçonaria, isso se reflete quando a gente sobe de grau, mas continua sendo o mesmo por dentro — como você bem disse, um “Mestre leigo”.

 

Heidegger falava que viver de verdade é encarar a vida de frente, inclusive com seus desafios e seus mistérios. É deixar de esperar que as respostas venham de fora, e começar a escutar o que vem de dentro — da alma. Isso tem tudo a ver com o que você disse sobre o espírito dominar a matéria.

 

Não é uma frase bonita: é uma prática de vida. É parar de ser escravo dos nossos desejos, do orgulho, da vaidade, da rotina — e começar a viver com propósito, com profundidade.

 

A verdadeira iniciação, meu Irmão, não é só aquela que acontece no templo com os olhos vendados. É aquela que a gente vive todos os dias, quando decide se transformar de verdade. Quando a gente para de “esperar que ensinem” e começa a buscar, com humildade e coragem, o que o coração já nos sussurra.

 

Você também falou de algo muito importante: o papel do Mestre. O Mestre não é aquele que só fala bonito ou decora o ritual. O verdadeiro Mestre é aquele que já passou pela câmara escura de si mesmo, que enfrentou seus próprios medos, que renasceu em silêncio, e que agora guia os outros não com palavras, mas com o exemplo.

 

Acho que a sua mensagem é um chamado para que a gente volte à essência, volte ao que realmente importa. Porque, como disse Heidegger (de um jeito que a gente pode traduzir assim): "não é a quantidade de informações ou de títulos que transforma o homem, mas a profundidade com que ele vive a sua existência".

 

Talvez o que está faltando em muitas Lojas — e em muitos de nós — não seja mais grau ou mais cerimônia, mas mais escuta, mais verdade, mais entrega. Voltar a ouvir o silêncio, o símbolo, o coração.

 

Obrigado por nos lembrar disso.


Teu Irmão Hiran de Melo, em busca de Luz.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog