Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba – 1ª Região
0225 - LOJA DE PERFEIÇÃO PAZ E AMOR
FUNDADA
EM 11 DE ABRIL DE 1972
CAMPINA
GRANDE - PARAÍBA
A Essência do Secretário Íntimo
I. A Essência do Secretário Íntimo e sua Relevância Iniciática na ótica de Pike
O Grau 6 do Rito Escocês Antigo e Aceito, conhecido como Secretário
Íntimo, é um dos altos graus que, embora menos praticado, contém profundos
ensinamentos morais, éticos e filosóficos. Sua origem remonta à França do
século XVIII, emergindo no seio da Loja "La Parfaite Harmonie", em
Bordeaux, com a importante participação de Étienne Morin, figura-chave na
consolidação dos Altos Graus do Rito de Heredom e, posteriormente, do R∴E∴A∴A∴.
Esta mensagem apresenta uma análise do Grau 6 à luz dos ensinamentos de
Albert Pike, destacando sua estrutura ritualística, simbolismo e,
principalmente, os valores iniciáticos que o compõem.
1. A
Perspectiva Histórica e a Tradição Pikeana
Albert Pike, em sua monumental obra Morals and Dogma, classifica o Grau
de Confidential Secretary como uma lição sobre a discrição, fidelidade e
serviço ao próximo. Ele identifica neste grau uma alegoria moral que transcende
a narrativa literal, destacando a importância do silêncio, da prudência e do
julgamento justo — princípios fundamentais à filosofia maçônica.
Para Pike, o título “Confidential Secretary” não é meramente uma
referência a uma função palaciana, mas representa o compromisso espiritual do
maçom com a confiança, o segredo e a responsabilidade. A confiança é vista não
como um direito adquirido, mas como um mérito conquistado por meio do caráter.
2. Zelo,
Julgamento e Redenção
A lenda central do Grau gira em torno do fiel servo Johaben, cuja
lealdade o conduz ao limiar da tragédia. Ao seguir Hiram, Rei de Tiro, por zelo
e temor pela segurança de seu soberano, Salomão, ele é interpretado como
espião, sendo julgado apressadamente e condenado à execução.
Pike interpreta este episódio como uma poderosa advertência sobre os
perigos do julgamento precipitado e a importância do autocontrole, tema
reiterado pelo brocardo latino que encerra o ensinamento do grau: “Audi, vide,
tace, si vis vivere in pace” — Ouve, vê e cala, se queres viver em paz.
A intervenção de Salomão, que promove a paz e desfaz o mal-entendido,
reflete o ideal maçônico de justiça equilibrada pela misericórdia. A escolha de
Johaben como Secretário do novo tratado simboliza a reabilitação por meio da
compreensão e da generosidade — temas centrais no pensamento de Pike sobre a
construção moral do iniciado.
3. A
Moral Iniciática e os Deveres do Maçom
Para Albert Pike, o Grau 6 é um exercício de introspecção ética. O maçom
aprende que a verdadeira dignidade do cargo não está na função, mas na
integridade com que ele é exercido. O segredo confiado deve ser guardado não
apenas como obrigação formal, mas como expressão de respeito pela confiança
alheia.
Entre os ensinamentos fundamentais deste Grau, conforme ecoado por Pike,
destacam-se:
A excelência do desinteresse
e da generosidade;
O dever de curar
dissensões e restaurar a paz;
A necessidade da
boa-fé e da lealdade;
O valor do autocontrole
e da resposta branda;
A repulsa ao
julgamento apressado;
A discrição como
virtude essencial da amizade.
Esses princípios, para Pike, não são ideais abstratos, mas ferramentas
práticas para a lapidação do caráter do iniciado.
4.
Simbolismo e Ornamentação do Grau
A iconografia do Grau 6 é rica em significados. O Templo, decorado em
negro salpicado de lágrimas prateadas, evoca o luto por Hiram Abiff e o
ambiente de introspecção e solenidade. As espadas cruzadas sobre o altar
simbolizam a vigilância e a prontidão, enquanto o pergaminho representa o
tratado — símbolo do pacto de paz e aliança.
A joia do grau, um triplo triângulo com caracteres samaritanos, é
carregada de simbolismo: o triângulo é uma figura sagrada, representando a
trindade das virtudes cardeais que se exige do Secretário Íntimo: sabedoria,
discrição e lealdade.
5. A Paz
como Síntese do Grau
Albert Pike vê no Grau 6 uma das mais belas lições do R∴E∴A∴A∴. Embora não seja
um dos graus mais populares ou praticados, sua relevância ética é
incontestável. Ele propõe ao iniciado a superação de seus instintos mais
imediatos (como a curiosidade, o julgamento e o orgulho) em favor da
serenidade, da confiança e da harmonia.
Ao transformar a injustiça em aprendizado, a mágoa em perdão e o erro em
redenção, o Grau 6 realiza, segundo Pike, a mais sublime das operações
iniciáticas: a transmutação da ignorância em sabedoria e do conflito em
concórdia.
II.
A Essência do Secretário Íntimo e sua Relevância Iniciática, na ótica de
Heidegger dialogando com Pike
O Grau 6 do Rito Escocês Antigo e Aceito, chamado de Secretário
Íntimo, é como um tesouro escondido dentro da Maçonaria. Pouco praticado, é
verdade, mas cheio de significados profundos. Ele nasceu no século XVIII, na
França, dentro da Loja “La Parfaite Harmonie”, e tem conexões diretas com a
formação dos chamados Altos Graus.
Mas o que esse grau realmente ensina? O que faz dele algo tão especial
para quem busca mais do que símbolos e cerimônias? É sobre isso que vamos
conversar aqui — com base no pensamento de Albert Pike e em uma leitura
inspirada, acessível e que também dialoga com ideias filosóficas, como as de
Heidegger, sobre o ser, o silêncio e o sentido da existência.
1. O
compromisso com o segredo e com o outro
Albert Pike chamava esse grau de Confidential Secretary, ou seja,
secretário de confiança. Mas ele não via isso como um cargo político ou
cerimonial, e sim como uma lição de vida: a de saber calar, observar e agir com
responsabilidade.
Para Pike, guardar um segredo não é só ficar em silêncio — é respeitar o
outro. É entender que há coisas que nos são confiadas, e que não nos pertencem.
Que a confiança é algo que se conquista com caráter, e não se exige com
títulos.
Em termos mais filosóficos, como diria Heidegger, é quando saímos do
“falatório” e entramos em contato com o ser verdadeiro das coisas, com o
que está “velado” — e que só se revela a quem sabe esperar, ouvir e permanecer
atento no silêncio.
2. O
dilema de Johaben: entre o zelo e o julgamento
A história contada neste grau tem como personagem central Johaben, um
servo fiel do Rei Salomão. Ao perceber que Hiram, Rei de Tiro, estava irado ao
visitar as terras prometidas por Salomão, Johaben, preocupado, decide escutar
atrás da porta para proteger seu rei.
Mas ele é descoberto e interpretado como espião. Um erro de leitura. Um
julgamento precipitado. Hiram quer sua execução imediata.
Salomão, no entanto, age com prudência. Busca entender. Investiga os
fatos. E, ao final, não só perdoa Johaben, mas o transforma em Secretário da
nova aliança entre os reis.
Essa passagem nos ensina muito. O zelo sem sabedoria pode ser confundido
com imprudência. E o julgamento sem escuta é injustiça. A intervenção de
Salomão representa o verdadeiro espírito maçônico: equilibrar justiça com
compaixão.
A moral do grau é clara: “Ouve, vê e cala, se queres viver em paz”.
É uma lição de maturidade emocional, de autocontrole — e também de leitura
profunda do outro, como nos convida Heidegger: olhar para o ser e não apenas
para o que aparece na superfície.
3. Lições
morais: discrição, lealdade e generosidade
O que se aprende no Grau 6 não é algo distante da vida real. São lições
simples, mas profundas, e absolutamente necessárias:
Saber agir
com generosidade, mesmo quando ninguém está olhando.
A
importância de restaurar a paz onde houver conflito.
Ser fiel à
palavra dada e digno da confiança recebida.
Praticar o
autocontrole em momentos de raiva ou julgamento.
Entender o
silêncio não como fraqueza, mas como força interior.
Cultivar
amizades verdadeiras, baseadas em respeito e discrição.
Para Pike, isso tudo é mais do que virtude: é trabalho de lapidação
interior. É como o processo filosófico de “desvelamento” em Heidegger —
tirar as camadas que encobrem o ser autêntico. O maçom, nesse grau, aprende a
agir pelo bem comum e não por vaidade.
4. O
símbolo fala: o templo, a luz e o triângulo
O ambiente do Grau também ensina. O templo é escuro, coberto por
lágrimas prateadas — luto e reflexão. A luz vem de 27 chamas. No centro,
espadas cruzadas, um livro e um pergaminho. É o espaço do silêncio, do pacto e
da vigilância.
A joia do grau — um triplo triângulo com letras samaritanas — representa
sabedoria, discrição e lealdade. O triângulo, como símbolo, fala do equilíbrio,
da união entre céu e terra, espírito e ação.
Esse símbolo é como a ideia de aletheia em Heidegger: a verdade
como algo que se desvela. Para isso, é preciso tempo, atenção e silêncio —
exatamente o que o grau pede de quem o vivencia.
5. Um
grau discreto, mas essencial
Apesar de pouco praticado, o Grau 6 é um dos mais transformadores. Não
há grandes poderes atribuídos a ele. Não há pompa. Mas há profundidade. Ele
mostra como o erro pode virar perdão, como a desconfiança pode virar aliança, e
como o zelo sincero pode ser reconhecido e valorizado.
É um grau que nos chama à responsabilidade com os sentimentos dos
outros, com os segredos que nos são confiados e com a paz que devemos cultivar,
primeiro dentro de nós mesmos.
No fundo, o Secretário Íntimo nos ensina que o verdadeiro poder
está em servir com dignidade, ouvir com atenção e falar com sabedoria. E que,
muitas vezes, o silêncio fala mais alto que mil palavras.
III. O Secretário Íntimo: O Silêncio que Constrói a Justiça na ótica de
Arendt
O Grau 6 do Rito Escocês Antigo e Aceito, chamado Secretário Íntimo,
apresenta-se como um dos graus mais simbólicos e profundos da Maçonaria
filosófica. Embora nem sempre praticado com frequência, ele traz uma lição essencial
para a formação moral do iniciado: agir com sabedoria, julgar com justiça e
escutar com humildade.
Nesta mensagem, vamos refletir sobre esse grau à luz de dois pensadores
— Hannah Arendt e Franklin Leopoldo e Silva — que, embora não
ligados à Maçonaria, nos ajudam a entender melhor o verdadeiro papel do
Secretário Íntimo dentro e fora da Loja.
Johaben:
o iniciado silencioso
A lenda do grau nos apresenta Johaben, um servo fiel que, por
zelo, segue o rei Hiram de Tiro. Sua intenção é proteger Salomão, mas ele é mal
interpretado e julgado como traidor. Sem defesa, é condenado à morte
injustamente — até que a verdade vem à tona e Salomão retifica o erro do
julgamento.
Neste momento, Johaben não se revolta, não exige reparações. Ele
simplesmente permanece digno em sua lealdade. Por isso, é elevado ao
cargo de Secretário Íntimo.
Essa história nos ensina que o verdadeiro iniciado é aquele que sabe
calar quando o mundo grita, que sabe esperar quando todos julgam.
A lição
de Hannah Arendt: Julgar é pensar
Hannah Arendt, filósofa do século XX, estudou os efeitos do julgamento
sem reflexão. Ela ficou conhecida ao investigar como pessoas comuns, sem
crueldade aparente, cometeram injustiças terríveis porque simplesmente obedeceram
a ordens, sem pensar.
Isso nos lembra o Rei de Tiro, que julgou Johaben sem ouvir o outro
lado. Não porque fosse maldoso, mas porque se precipitou.
Para Arendt, o mal não nasce da maldade, mas da falta de pensamento e
julgamento ético. Em outras palavras: quem não pensa, comete erros
graves — mesmo sem intenção.
A lição
de Franklin Leopoldo e Silva: Escutar é
filosofar
Franklin Leopoldo e Silva, filósofo brasileiro, diz que filosofar é
escutar — não apenas com os ouvidos, mas com o coração. Ele ensina que,
para entender o outro, é preciso silenciar o próprio orgulho e abrir espaço
para a verdade alheia.
Johaben representa esse silêncio interior. Ele não exige, não grita, não
acusa. Ele espera que a justiça nasça do tempo certo e da consciência do outro.
E ela vem.
Assim, o Secretário Íntimo é aquele que guarda segredos, sim — mas
também guarda o respeito, a lealdade e a verdade.
O símbolo
do silêncio
A máxima do Grau 6 é clara:
“Audi, vide, tace, si vis vivere in pace.”
Ouve, vê e cala, se queres viver em paz.
Essa frase não é apenas uma regra de conduta social. Ela é uma chave
iniciática. O iniciado que ouve mais do que fala, observa mais do que
julga, e cala mais do que se impõe, constrói dentro de si um espaço de justiça.
E essa justiça não é só para si, mas para todos à sua volta.
O juízo
que constrói a paz
Quando Salomão reconhece o erro e nomeia Johaben como Secretário, ele
não está apenas corrigindo uma injustiça.
Está criando uma nova aliança baseada no perdão, na confiança e na
paz.
Este é o maior ensinamento do Grau 6:
A paz não é a ausência de conflito. É a escolha consciente de perdoar,
entender e agir com justiça.
Aplicações
práticas para o maçom
Em Loja: Ouça antes de responder. Julgue com calma.
Lembre-se de que cada irmão carrega uma história que você talvez não conheça.
Na vida profana: Não espalhe segredos ou boatos. Perdoe os erros dos outros, como gostaria
que perdoassem os seus. Guarde silêncio onde o orgulho quer gritar.
O
Secretário Íntimo em nós
Ser Secretário Íntimo é muito mais do que exercer um cargo. É tornar-se
um homem capaz de:
Escutar com
atenção.
Julgar com sabedoria.
Falar com responsabilidade.
E guardar, no coração, os valores que fazem da Maçonaria um caminho de luz.
Como ensinam os filósofos, o verdadeiro iniciado não é aquele que
conhece muitos segredos, mas aquele que sabe o valor do silêncio, da justiça e
da paz.
Que cada um de nós seja, no mundo, um Secretário Íntimo da verdade, da discrição
e da fraternidade.
Hiran de Melo
Presidente
da Excelsa Loja de Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria
Litúrgica do Estado da Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33
do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.
Referências simbólicas veladas:
Hannah Arendt, A Condição Humana (1958)
Franklin Leopoldo e Silva, O Encontro e o Tempo (2000)
Albert Pike, Morals and Dogma
Ritual do Grau 6 – R∴E∴A∴A∴
Anexo:
A imagem captura a essência do 6º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito,
focando nos temas de silêncio, confiança e reflexão interior dentro de um
templo maçônico com iluminação suave. Elementos simbólicos como espadas
cruzadas, um livro, um pergaminho e um triplo triângulo com letras samaritanas
estão incluídos.
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