Instrução do Grau 5: Friedrich Nietzsche

Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba – 1ª Região

0225 - LOJA DE PERFEIÇÃO PAZ E AMOR

FUNDADA EM 11 DE ABRIL DE 1972

CAMPINA GRANDE -  PARAÍBA

 

Grau 5 – Mestre Perfeito através da lente filosófica de Friedrich Nietzsche


Entre dor, instinto e criação de si

 

Refletir sobre o Grau 5 (*) da Maçonaria através da lente filosófica de Friedrich Nietzsche é mergulhar numa visão provocadora — que não apenas contrasta com os valores apresentados no texto, mas os desafia de forma radical. Em vez de reafirmar conceitos como perfeição moral, pureza ou fidelidade à verdade, essa leitura vira-os ao avesso, questionando suas origens e intenções.

 

A perfeição moral sob suspeita

 

O Mestre Perfeito é descrito como alguém que busca dominar seus impulsos e cultivar virtudes como humildade e retidão. Mas será que essa busca é mesmo um sinal de força? Ou seria, talvez, um reflexo de uma moral criada para domesticar a vida?

 

A ideia de perfeição moral pode, muitas vezes, esconder um movimento de repressão — onde o instinto é sufocado e a espontaneidade, controlada. A tal "virtude" se torna uma forma de obediência, não de liberdade. E o risco aqui é claro: tornar-se "bom" não por coragem, mas por medo.

 

“A moralidade é o instinto de rebanho no indivíduo”. – Além do Bem e do Mal

 

A dor como potência de criação

 

No Grau 5, a dor é apresentada como ferramenta de crescimento espiritual. A visão aqui é semelhante — mas com um tom bem diferente. A dor, sim, tem valor. Mas não porque nos purifica ou nos aproxima de alguma ideia de perfeição, e sim porque nos força a mudar, a nos reinventar.

Não há promessa de redenção na dor — há a chance de criar algo novo a partir dela.

 

“O que não me mata, me fortalece”. – Crepúsculo dos Ídolos

 

Verdade? Qual delas?

 

O texto reverencia a Verdade como um ideal absoluto. Mas quem define o que é verdadeiro? E com base em quê?

 

A provocação aqui é clara: talvez não existam verdades eternas, mas apenas perspectivas. A ideia de uma verdade única pode ser só mais uma invenção útil — uma maneira de organizar o mundo (ou de controlá-lo).

 

“Não existem fatos, apenas interpretações”. – Fragmentos Póstumos

 

Buscar a verdade, então, é muito mais sobre coragem para pensar por si do que sobre seguir uma luz pré-estabelecida.

 

Virtudes ou máscaras?

 

Humildade, pureza, fidelidade: o texto as apresenta como virtudes essenciais. Mas talvez essas qualidades, tão valorizadas, sejam também formas sutis de submissão. Um tipo de "bondade" que nasce mais da impotência do que da força.

 

“Os bons foram sempre os que não tinham garras”. – Genealogia da Moral

 

A verdadeira força não se esconde atrás da moral tradicional. Ela cria novos valores, mesmo quando isso incomoda.

 

Sobre templos, centelhas e caos

 

A ideia de reconstruir o templo interior e reconhecer a centelha divina sugere que há algo sagrado a ser revelado dentro de nós. Mas talvez não exista centelha alguma vinda “de fora”. Talvez sejamos nós que inventamos os deuses — e não o contrário.

 

“Deus está morto. E nós o matamos”. – A Gaia Ciência

 

Nesse caso, o templo a ser reconstruído não seria uma morada do divino, mas um espaço onde o caos é acolhido, onde a criação brota sem garantia nem salvação. A vida, sem manual, vira obra de arte.

 

O Mestre que cria a si mesmo

 

O Grau 5 propõe uma jornada simbólica de reconstrução. Mas, nessa leitura, ela não é sobre moldar-se a um ideal — é sobre romper com ele. O verdadeiro Mestre:

 

Aceita seus instintos e contradições sem culpa;

Cria seus próprios valores, mesmo que eles choquem;

Usa a dor como matéria-prima para se reinventar;

Não reflete o divino — expressa a potência da própria existência.

 

Em vez de reconstruir um templo que obedeça a padrões antigos, ele se transforma no templo da sua própria vontade de potência.

 

Se essa leitura ressoar em ti, talvez seja hora de deixar os dogmas e trilhar um caminho próprio. Se não ressoar... bem, talvez Kant esteja logo ali na próxima coluna.

 

Hiran de Melo – Presidente da Excelsa Loja de Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.

 

Referências

(*) Grau 5 – Mestre Perfeito, recomendo a leitura para melhor entender o presente trabalho. Veja no link:

https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/04/inspetoria-liturgica-do-estado-da_12.html

 

Anexo

 

Descrição da Ilustração

 

A imagem retrata uma figura solitária no topo de uma paisagem montanhosa e agreste, simbolizando a vontade de poder e a luta do indivíduo para transcender limitações. A figura, com uma expressão determinada, veste roupas escuras e simples, representando a rejeição das normas sociais convencionais. Os elementos naturais duros, mas belos, que a rodeiam simbolizam o processo desafiador, mas necessário, de superar a dor e tornar-se um mestre autocriado do próprio destino. A iluminação dramática, com longas sombras e ênfase no contraste entre luz e escuridão, espelha as ideias de Nietzsche sobre a dualidade da existência e a superação do sofrimento. O sentido de admiração e grandeza na cena enfatiza a capacidade do indivíduo para a autocriação e o objetivo final de atingir um estado de maestria. Gostaria que eu gerasse uma nova imagem com uma descrição diferente?

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