Instrução do Grau 13: Gilles Deleuze
Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba – 1ª Região
0225 - LOJA DE PERFEIÇÃO PAZ E AMOR
FUNDADA
EM 11 DE ABRIL DE 1972
CAMPINA
GRANDE - PARAÍBA
Grau 13 – Uma leitura poética e filosófica à luz de Gilles Deleuze
No
caminho do Cavaleiro do Real Arco, o conhecimento não aparece como algo fixo ou
revelado de uma vez por todas. Ele surge aos poucos, em movimento, como quem se
descobre enquanto caminha. A sabedoria aqui não está em repetir verdades
antigas, mas em abrir espaço para algo novo — um modo inédito de viver e de
perceber o mundo.
1. A Verdade como Criação, não como redescoberta
"O
Nome Sagrado perdido representa mais que um segredo esotérico: ele é o símbolo
da verdade suprema que o homem moderno [...] precisa redescobrir."
A
ideia de "redescoberta" pode sugerir que a verdade está escondida em
algum lugar fixo, esperando ser encontrada. Mas e se, em vez disso, ela fosse
algo que só existe quando é criada? Como uma trilha aberta em meio à mata, o
Nome Sagrado não seria um nome definitivo — mas uma vivência que se transforma
à medida que o iniciado também se transforma.
Nesse
sentido, o Cavaleiro do Real Arco não descobre algo pronto. Ele se refaz, e o
Nome que encontra é, na verdade, o nome que se torna.
2. A descida à abóbada: desconstrução do eu fixo
"A
escavação [...] é o desvelamento da verdade que está oculta sob camadas de ego,
ignorância e orgulho."
Essa
escavação simbólica é mais do que um gesto ritual. Ela representa o abandono de
identidades rígidas — aquelas que herdamos da sociedade, dos papéis que nos
deram: pai, trabalhador, cidadão, etc. Descendo à abóbada, o iniciado rompe com
a repetição do “eu já sei quem sou” e mergulha num processo de transformação.
O
que se encontra lá embaixo não é a essência do que sempre se foi — é a
possibilidade de vir a ser outra coisa.
3. O Nome como Intensidade, não como Essência
"Não
é uma palavra, mas uma percepção. Não é um som, mas um estado do ser."
Essas
linhas captam bem uma ideia central da filosofia de Gilles Deleuze: a realidade
não se organiza por essências fixas, mas por intensidades, vibrações, afetos.
O
Nome, nesse contexto, não se escreve nem se pronuncia. Ele se vive. É um estado
de alma, uma abertura do ser. Mais que identidade, o Nome é experiência: um
ponto de máxima presença em si e no mundo.
4. O Templo como Corpo sem Órgãos
O
Templo simbólico do Grau 13 pode ser visto como um espaço interior livre das
formas impostas: um lugar onde não se repete o que já foi aprendido, mas onde
se pode reconstruir tudo — inclusive a si mesmo.
Esse
“corpo sem órgãos” é o ser em liberdade: aquele que não vive mais para agradar
estruturas antigas (família, instituições, dogmas), mas que cria novas formas
de existência, mais éticas, mais potentes, mais autênticas.
5. Os Deveres como Linhas de Fuga
Os
deveres do Grau 13 revelam-se menos como regras fixas e mais como convites à
libertação:
Buscar
a verdade com humildade →
sair do lugar do “eu sei” e abrir-se ao
desconhecido.
Purificar-se
de paixões e preconceitos →
romper com desejos impostos e padrões repetitivos.
Aprofundar-se
no autoconhecimento →
explorar outras versões de si.
Respeitar
o silêncio sagrado →
calar o ego e escutar o que ainda não tem nome.
Esses
caminhos podem ser lidos como "linhas de fuga": brechas por onde a
alma escapa da prisão do habitual.
O Grau 13 como Devir Iniciado
O
Grau 13 não trata de encontrar uma verdade guardada no fundo da alma. Ele trata
de criar. Criar formas novas de sentir, de pensar, de estar no mundo.
O
Nome Sagrado não é um destino: é uma faísca, uma intensidade, um momento em que
algo em nós se torna mais vivo. Nesse instante, o iniciado não volta ao que
era. Ele já é outro.
“Não
há essência a ser encontrada, mas intensidade a ser vivida”.
Hiran de Melo – Presidente da Excelsa Loja de
Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da
Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA
da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.
Anexo
Descrição da Ilustração
A
cena flutua entre o crepúsculo e o amanhecer — tons de azul, cinza e um leve
roxo se diluem como se o céu respirasse. No centro, uma figura quase
inexistente, sugerida por traços tênues, caminha sem destino fixo. O chão não
está pronto: ele surge sob seus passos, pincelado em tempo real, como se a
própria jornada tecesse o caminho.
Pequenas
faíscas tremulam ao longo dessa trilha nascente — não guiam, mas anunciam. São
lampejos de um Nome que não se pronuncia, só se vive. Intensidades em vez de
respostas. Verdade como criação, não reencontro.
Abaixo,
a matéria escura se enrosca em linhas curvas, densas, como se o ego escavado
ainda tentasse resistir. Mas mesmo na profundidade, há fluxo. A descida não é
queda: é abertura.
Nada
ao redor tem forma sólida. Não há muros, só espaço. O ser ali é um campo livre,
um templo sem arquitetura. De suas bordas suaves escapam caminhos inesperados —
linhas que fogem, que rompem, que convidam à reinvenção: silêncio, humildade,
purificação, autoconhecimento.
Tudo
vibra. Nada se fixa. O ser não encontra — ele se transforma. E nessa imagem que
nunca se fecha, entende-se: a verdade não está — ela acontece.
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