Instrução
do Grau 4: Friedrich Nietzsche
Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba – 1ª Região
0225 - LOJA DE PERFEIÇÃO PAZ E AMOR
FUNDADA
EM 11 DE ABRIL DE 1972
CAMPINA
GRANDE - PARAÍBA
Grau 4 – Uma leitura crítica inspirada na filosofia de
Friedrich Nietzsche
1. A Moral do Dever e a Vontade Submissa
No texto Grau 4 (*)
lê-se: “...assunção do dever... inabalável fidelidade... dedicação
ao cumprimento do dever... Justiça como princípio emanado da Divindade”.
Uma leitura crítica perceberia aqui não uma
exaltação da virtude, mas a sombra de uma moral que domestica. O dever, quando
elevado a ideal sagrado, pode se tornar uma forma de submissão da vontade
individual. A justiça deixa de ser um valor vivido e passa a ser uma imposição
— uma régua que mede a obediência, não a grandeza.
Essa é a moral dos que preferem segurança à
liberdade, obediência à criação, conformidade à potência. É uma moral nascida
do medo e sustentada pela culpa.
“Ainda adorais uma moral como se fosse
eterna, mas ela é invenção humana — muitas vezes, dos fracos para limitar os
fortes”.
2. O Mestre Secreto e o Verdadeiro Eu
No texto: “O Mestre Secreto é aquele que já
escutou, no silêncio do Templo, a voz do seu verdadeiro Eu”.
Há aqui um vislumbre de autenticidade. Ouvir
a si mesmo pode ser o primeiro passo rumo à liberdade. Mas o “verdadeiro Eu”
evocado ainda parece moldado por valores antigos — justiça, sacrifício, verdade
— que carregam o peso de séculos de tradição religiosa e filosófica. Vozes
herdadas, disfarçadas de essência.
“Vosso ‘Eu’ ainda está preso ao altar da
moral! Onde está o homem que ri, que cria seus próprios valores, que dança
sobre os escombros dos ídolos antigos?”
3. O Sacrifício
No texto: “...abraçar os princípios que seu
martírio personifica: a inabalável fidelidade aos seus compromissos, o espírito
de sacrifício em prol do ideal...”
O culto ao martírio, tão comum na cultura
ocidental, pode ser visto como a glorificação da fraqueza. Transformar o
sofrimento em virtude é inverter os valores da vida. O que eleva o ser humano
não é o padecimento idealizado, mas a superação, a força, a capacidade de
afirmar a existência com todas as suas contradições.
4. O Olho que Tudo Vê e a Consciência como Prisão
No texto: “...nenhuma ação ou pensamento
escapa ao escrutínio da Verdade... a avaliação deve emanar do próprio indivíduo”.
Uma vigilância constante, mesmo que venha de
dentro, pode ser mais sufocante do que libertadora. Quando internalizamos o
“olho” que tudo vê, criamos uma prisão invisível — não de muros, mas de culpa.
A consciência, quando moldada por regras herdadas, já não é voz interior, mas
eco do rebanho.
“Chamais isso de consciência, mas eu vejo
ainda o chicote do pastor marcado em vossas costas”.
5. O Silêncio e a Sabedoria que Reprime
No texto: “O silêncio... é elevado à condição
de suprema expressão da sabedoria adquirida”.
Silenciar pode ser prudente, mas também pode
ser um modo sutil de repressão. A sabedoria verdadeira não se esconde — ela
age, transforma, ri. A reverência do silêncio, quando não é escolha consciente,
é apenas mais uma máscara da renúncia.
“Silêncio? Prefiro o trovão do espírito
livre, o riso daquele que rompe correntes”.
6. Acolhida e Mansidão Cristã
No texto: “Seja manso de coração, ensinou o
Mestre da Semana Santa. Não sejas fariseu...”
Essa mansidão — tão celebrada quanto exigida
— ainda ecoa os valores de uma moral do ressentimento. A humildade, quando
imposta, é o disfarce da impotência. O ser criador não busca acolhida; ele
impõe sua presença. Ele não se curva diante do mundo — o transforma.
“O leão não busca acolhida, ele ruge sua
liberdade. A humildade é a máscara dos ressentidos”.
7. O Ritual: Caminho ou Sinal?
No texto: “O ritual é um valioso sinal no
caminho, não o próprio caminho da Paz e do Amor”.
Essa distinção é um avanço. O ritual como
sinal — e não como fim — abre espaço para o movimento, para a criação, para a
vida vivida fora da liturgia. Mas a ideia de “Paz e Amor” ainda aponta para um
ideal harmonioso demais para um mundo onde tudo pulsa em conflito e
transformação. O caminho do verdadeiro iniciado não é feito de conforto, mas de
reinvenção constante.
Por enquanto
A leitura crítica aqui proposta — inspirada
na visão filosófica de Friedrich Nietzsche — mostra que, apesar da nobreza do
texto original, ainda há ali marcas profundas de uma tradição que valoriza a
culpa, o dever e o sacrifício em detrimento da liberdade, da criação e da
afirmação da vida.
O verdadeiro Mestre, nessa perspectiva, não é
aquele que guarda os segredos do passado, mas aquele que ousa criar novos
caminhos. Ele não busca consolo — busca potência. E não se refugia em valores
prontos, mas constrói os seus, com coragem, com riso, com vontade.
Hiran de Melo
Presidente da Excelsa Loja de Perfeição
“Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba,
Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a
República Federativa do Brasil.
(*) Grau 4 – Mestre Secreto, recomendo a leitura para melhor entender o
presente trabalho. Veja no link: https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/04/inspetoria-liturgica-do-estado-da_15.html |
Descrição
da Ilustração
A imagem tece uma tensão filosófica entre o peso da tradição e a leveza da
libertação. À esquerda, em tons sombrios, um templo em ruínas aprisiona figuras em submissão, sob um olho
vigilante que se desintegra. À direita, em cores vibrantes, uma figura central dança livremente sobre os escombros,
seus braços abertos em um gesto de afirmação da vida e um riso desafiador.
O contraste de iluminação é gritante: o lado
esquerdo é opressor, enquanto o direito irradia potência e criação, simbolizando a transição do medo para a força.
A ilustração convida à reflexão sobre a crítica
nietzschiana à moralidade, celebrando a criação de novos valores e a afirmação do "Eu" autêntico que ri e dança sobre as
ruínas dos ídolos antigos.
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