Instrução do Grau 4: Pierre Bourdieu

Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba – 1ª Região

0225 - LOJA DE PERFEIÇÃO PAZ E AMOR

FUNDADA EM 11 DE ABRIL DE 1972

CAMPINA GRANDE -  PARAÍBA

 

Grau 4 – Uma leitura à luz da sociologia de Pierre Bourdieu

 

Ler o Grau 4 (*) a partir da visão sociológica de Bourdieu é observar não apenas o conteúdo simbólico do texto, mas os jogos de poder, prestígio e distinção que ele sugere. A maçonaria, nesse sentido, se apresenta como um espaço carregado de significados sociais e culturais — onde os rituais não apenas revelam ideias, mas também organizam posições e comportamentos.

 

A seguir, exploramos cinco aspectos dessa análise.

 

1. Um espaço com regras próprias

 

O texto sugere que, ao atingir o Grau 4, o irmão passa a ocupar um lugar mais elevado dentro da jornada maçônica:

“O Grau de Mestre Secreto assinala a transição para a senda filosófica do Rito Escocês Antigo e Aceito...”

 

Esse tipo de linguagem mostra que a maçonaria funciona como um espaço simbólico com suas próprias regras — onde os títulos, os graus e os rituais atribuem status e reconhecimento. O irmão que "transita" para essa nova etapa não apenas acumula conhecimento, mas conquista um lugar especial dentro da estrutura. É uma forma sutil de ascensão social — ainda que dentro de um campo simbólico.

 

2. Saber como forma de prestígio

 

O texto valoriza intensamente o conhecimento e a capacidade de compreender verdades profundas:

 

“O Mestre Secreto é aquele que já escutou, no silêncio do Templo, a voz do seu verdadeiro Eu”.

 

Essa frase carrega uma ideia importante: poucos chegam a esse nível. O saber aqui é quase um filtro, separando os que “estão prontos” dos que ainda não estão. E como toda linguagem simbólica e esotérica, ela pode funcionar como uma barreira: quem compreende se destaca; quem não compreende, fica à margem. Assim, o conhecimento se torna uma forma de distinção.

 

3. Moldando o comportamento do iniciado

 

O texto também indica claramente como um Mestre deve agir:

 

“O iniciado internaliza a premissa de que nenhuma ação ou pensamento escapa ao escrutínio da Verdade...”

 

Essa ideia reforça um modelo de conduta ideal. O irmão é convidado a incorporar certos valores — justiça, discrição, verdade — como se fossem parte natural de sua identidade. Esse processo de formação de um comportamento esperado molda o modo de agir, sentir e pensar do iniciado. E embora isso seja apresentado como virtude, também funciona como uma forma de controle simbólico.

 

4. Quem pode saber? Quem pode falar?

 

Outro trecho que chama atenção é:

 

“A chave dos mistérios é confiada unicamente àqueles que demonstram estar preparados...”

 

A imagem da chave aqui funciona como um símbolo de exclusão sutil. Ela sugere que apenas alguns merecem o acesso ao que é sagrado ou verdadeiro. Pode parecer inofensivo, mas esse tipo de linguagem cria divisões: entre os que detêm o saber e os que apenas seguem. É o que se pode chamar de uma forma suave de exclusão — uma “violência” simbólica que acontece sem força física, apenas com palavras e símbolos.

 

5. Quando a lógica se quebra: acolher é resistir

 

Mas algo muda no final do texto. O tom, antes solene e hierárquico, se torna mais simples e direto. De repente, não é mais o saber que importa, mas o acolhimento, a escuta, a humildade:

 

“Cheia de irmãos mestres fragmentados, com dificuldades de ouvir, de ler e de falar...”

 

“O ritual é um valioso sinal no caminho, não o próprio caminho da Paz e do Amor”.

 

Essas frases desmontam a estrutura simbólica que vinha sendo construída. Em vez de distinção, propõem compaixão. Em vez de prestígio, presença. Aqui, o texto sugere que o verdadeiro valor está em cuidar dos irmãos, não em subir degraus.

 

Esse gesto é uma forma de resistência simbólica — ou seja, um modo de questionar as regras do próprio sistema sem necessariamente sair dele. Ao escolher a fraternidade antes da hierarquia, o texto abre espaço para outra maçonaria: mais humana, mais acessível, mais sensível.

 

Conclusão: entre graus e gestos

 

O Grau 4, visto com os olhos da sociologia, aparece como um símbolo de prestígio, mas também de separação. Ele carrega um saber valorizado, comportamentos esperados e uma estrutura sutil de exclusão. Porém, ao final, o próprio texto reconhece que há algo maior do que o rito: o gesto de acolher.

 

A maçonaria, como qualquer espaço simbólico, se equilibra entre tradição e transformação. O desafio, talvez, seja não abandonar seus ritos — mas garantir que eles sirvam à vida, e não o contrário.

 

O verdadeiro segredo pode não estar na chave, nem no templo, mas no modo como olhamos e cuidamos uns dos outros.

 

Hiran de Melo

Presidente da Excelsa Loja de Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.

 

(*) Grau 4 – Mestre Secreto, recomendo a leitura para melhor entender o presente trabalho. Veja no link:

https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/04/inspetoria-liturgica-do-estado-da_15.html

 

Descrição da Ilustração

 

A ilustração retrata o interior de um templo maçônico, com símbolos complexos adornando paredes, pilares e tetos. O espaço é projetado com uma estrutura hierárquica, com plataformas elevadas sugerindo dinâmicas de poder. Algumas figuras em trajes formais interagem em cenas de fraternidade e cuidado mútuo, enquanto outras parecem isoladas, destacando a tensão entre colaboração e hierarquia dentro da organização.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog