O Reencontro com a Luz

Minha iniciação na Maçonaria aconteceu pouco antes da pandemia. Naquela época, tudo parecia fazer sentido. Eu vivia os rituais de elevação e exaltação com o coração aberto e a mente cheia de curiosidade. Cada passo era uma novidade, cada sessão trazia um aprendizado. Eu realmente sentia que estava no lugar certo.

Mas aí veio o silêncio. Um período de pausa não só das atividades, mas também do interior. Sem as sessões, longe dos irmãos e da rotina maçônica, acabei mergulhando em mim mesmo. Foi um tempo difícil, cheio de dúvidas e saudade. Mesmo assim, a chama não se apagou. Ficou ali, quieta, esperando a hora certa de voltar a brilhar.

E essa hora chegou. Voltei com vontade, com energia, com sede de viver tudo de novo. Foi como respirar depois de muito tempo embaixo d’água. A Maçonaria me recebeu de braços abertos, como quem acolhe alguém da família que estava longe. E aí veio a iniciação no Grau Quatro, que para mim, foi mais que uma simples passagem: foi um novo começo.

Na primeira vez que entrei na Loja de Perfeição, fui tomado por uma emoção que eu não esperava. Parecia que estava sendo iniciado de novo. Me senti pequeno diante da grandeza daquele momento. Como um novo aprendiz, mas agora com a bagagem de quem já conhece um pouco do caminho. Ansioso, emocionado e muito grato por estar ali.

Esse novo ciclo é mais do que subir um degrau. É uma chance de me reencontrar, me reconstruir e buscar ser um maçom mais consciente, mais sensível e mais comprometido. Sigo agora com o coração aberto, pronto para aprender, servir e crescer. Porque, no fim das contas, a busca pela perfeição começa dentro da gente.

Neemias Ximenes – Mestre Secreto

 

Breve Consideração

Por Hiran de Melo

1. Linguagem e Estilo

O texto de Neemias Ximenes é direto, sincero e emocional. Ele se expressa com clareza, usando palavras simples que tocam o leitor. Isso mostra que o autor fala do coração. Não há rebuscamento, mas sim autenticidade, o que torna a leitura acessível e envolvente.

Estilisticamente, o texto segue uma narrativa pessoal e simbólica, com estrutura em três momentos:

Ø O Despertar (Iniciação e primeiros graus);

Ø A Queda no Silêncio (Pandemia e afastamento);

Ø O Reencontro com a Luz (Retorno e Grau Quatro).

Essa estrutura ecoa o ciclo morte–renascimento–ascensão, comum nas tradições iniciáticas, mas também ressoa com a filosofia nietzschiana.

2. Filosofia de Nietzsche (na hermenêutica de Scarlet Marton)

Segundo a filósofa Scarlet Marton, Nietzsche não deve ser visto como um pensador do caos ou da destruição, mas sim como alguém que convida à recriação de si mesmo, à superação interior, e ao retorno à vida com mais intensidade.

Neemias descreve exatamente esse processo. Ele não fala apenas de uma volta física à Maçonaria, mas de uma transformação interior que aconteceu no silêncio. O silêncio que poderia ser visto como fraqueza, aqui é gestação – como Nietzsche diz: “É preciso ter o caos dentro de si para dar à luz uma estrela dançante”.

A pandemia, nesse sentido, foi como a “morte simbólica do velho eu”. Mas em vez de se perder, o Mestre Neemias esperou a hora de renascer. E quando isso acontece, ele não volta ao mesmo ponto: ele ressurge mais forte, mais consciente, como o “espírito livre” de Nietzsche.

Na leitura de Marton, o espírito livre nietzschiano não é alguém que nega os valores, mas que os recria a partir da própria experiência de vida. Isso é o que vemos no retorno de Neemias: ele volta com nova força, com mais responsabilidade e mais amor à jornada.

3. A Busca Pela Luz e a "Transvaloração"

Nietzsche falava em transvalorar os valores – isto é, transformar os valores que herdamos, dando-lhes um novo sentido. O texto de Neemias faz isso quando diz que a “subida ao Grau Quatro” não é apenas uma ascensão formal, mas uma transformação pessoal, um novo nascimento.

Ele passa a enxergar o Grau não como título, mas como missão interior: crescer, servir, aprender. Isso mostra que ele não segue cegamente, mas vive os rituais como expressão do seu próprio caminho. Essa é a essência da filosofia de Nietzsche – viver de forma autêntica e intensa, sem se esconder atrás de convenções vazias.

4. A Filosofia da Superação

Neemias escreve: "A busca pela perfeição começa dentro da gente." Essa frase sintetiza, de forma acessível, o que Nietzsche chamou de vontade de potência – o impulso natural do ser humano para se superar, se transformar e criar novos sentidos para sua existência.

Esse reencontro com a Luz, portanto, não é apenas um retorno exterior – é uma afirmação da vida mesmo depois do sofrimento. Como ensina Nietzsche, “Tudo que não me mata, me fortalece”. Neemias viveu isso: o silêncio não o destruiu, o preparou.

Conclusão

“O Reencontro com a Luz” é um belo exemplo, simples e profundo, do que a filosofia de Nietzsche propõe: viver com intensidade, criar novos sentidos e superar a si mesmo.

A leitura de Scarlet Marton nos ajuda a ver que Neemias não é apenas um maçom voltando aos trabalhos. Ele é um homem que, ao passar pela escuridão, reencontrou sua luz interior e agora sobe novos degraus com mais consciência, humildade e força.

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