O templo maçônico e a representatividade para minha vida
Por Rômulo Figueiroa
A vida maçônica é a trajetória de um
indivíduo dentro da Maçonaria, uma fraternidade discreta,
filosófica e iniciática que busca o aperfeiçoamento moral, intelectual e
espiritual dos seus membros, que tem início numa caverna, local que representa
a individualidade e o isolamento, dando oportunidade ao autoconhecimento e o
equilíbrio de si, tudo isso unidos a símbolos que nos fazem refletir e adquirir
força, coragem e determinação para ingressarmos num mundo de conhecimento e aprendizagem,
com objetivo de tornarmos homens mais justos, para replicarmos esses
ensinamentos a todos que convivem conosco.
Comigo
não poderia ser diferente, ingressei nesse “universo”, cheio de dúvidas e
curiosidades, mas seguro de que era algo que sempre desejei e que seria
importante para minha formação pessoal, pois, o pouco que conhecia da ordem
através de homens sérios, de caráter e que transmitiam com afinco a
perseverança, a firmeza e a confiança de que podemos desfrutar de um mundo
melhor, com justiça e dignidade, me fornecia grandes perspectivas do que
poderia adquirir e alcançar, para poder colaborar com a formação de uma
sociedade mais humana, generosa, fraterna e caridosa.
Minha
primeira entrada num Templo maçônico foi justamente no dia de minha iniciação,
de olhos vendados, caminhando para o desconhecido, foi essa minha primeira
impressão, porém tinha o apoio de um irmão que, de modo serene e seguro,
conversou comigo antes e me deixou bastante tranquilo, fui caminhando e sendo
inserido numa Ordem milenar que ainda causa bastante curiosidade e interesse a
quem deseja se moldar para o bem. Fui cumprindo as viagens e me deixando ser
guiado para um destino sem volta, que a cada passo me deixava mais instigado
com a certeza que estava certo de minha decisão.
Quando me tiraram a venda que consegui ver a
luz, o medo e a insegurança tomaram conta de mim, diversas espadas apontadas em
minha direção, foi assim as boas vindas de um profano curioso e que busca
respostas para os mínimos detalhes da vida, assim sempre fui, um aluno que
perguntava, buscava respostas, mas nunca se conformara com a primeira ou com
respostas decoradas. Nesse primeiro momento o Templo não teve uma importância
efetiva, tudo sendo novidades, amigos-irmãos, conhecidos que eu não imaginara
que pertencesse a Ordem, estavam presentes e essa foi nossa primeira impressão.
Mas
tudo se modificaria já na primeira reunião que participei, desde o encontro no
átrio, a entrada no Templo onde eu comecei a enxergar alguns símbolos e
simbologias, umas até conhecidas como as quatro Virtudes Cardeais (por ser de
família católica e ter vivido minha vida inteira dedicada a religião, aprendi
diversos conceitos e símbolos que a Igreja utiliza), porém com significado mais
específico, nessa mesma reunião houve uma explanação magnifica do Irmão Mestre
Maçom Walber Colaço sobre essas Virtudes (Prudência, Justiça, Fortaleza e
Temperança) vi que estão presentes nos quatro cantos do Templo, representam os
pilares da moralidade maçônica e refletem a busca pelo aperfeiçoamento pessoal
na construção de uma sociedade justa e harmoniosa, significado muito parecido
com o que havia estudado na Igreja católica: Pilares essenciais para a vida
Cristã, pois são a base de todas as outras virtudes e atuam como dobradiças que
abrem as portas para uma vida de moralidade e retidão.
Após
esse contato, consegui enxergar mais símbolos e a vontade de entender me fizeram
ler, buscar explicações, perguntar, procurar saber e interpretar cada
significado com a rotina diária de minha vida pessoal. Obvio que algumas
perguntas ficaram sem respostas, afinal, ainda era um pequeno aprendiz que
iniciará a vida maçônica e precisava amadurecer e ter certeza que a Ordem
penetraria em meu ser. Essa resposta fui construindo com o passar do tempo,
deslumbrado com o que a Maçonaria poderia me ofertar e propor como um
verdadeiro aprendiz.
O
Templo para mim é um local de obter explicações para os percalços de nossas
inquietações, o espaço perfeito de interação e aprendizado, de troca de
conhecimentos e da emanação de boas energias, simplesmente a miniatura de toda
extensão terrena, o ponto perfeito onde o maçom desenvolve à construção de um templo
interior, onde se busca aprimorar seus valores éticos e morais.
Adentrar
ao Templo, poder aprender cada símbolo e transmitir para a sociedade é a
essência do “ser maçom”.
Análise Simbólica do texto “O Templo Maçônico e a Representatividade para Minha Vida” à luz da Hermenêutica de Albert Pike
Por Hiran de Melo
Primeiras palavras
Aprecio muito e incentivo sempre
que as peças de arquitetura maçônica tratem do testemunho do obreiro. E esta
peça de autoria do Mestre Maçom Rômulo Figueiroa se encaixa exatamente na minha
recomendação.
Introdução – O que é
a Hermenêutica?
A hermenêutica é a arte de
interpretar textos, símbolos e significados escondidos. Para Albert Pike, um
dos maiores pensadores da Maçonaria no século XIX, os rituais, as palavras e os
símbolos usados na Maçonaria não devem ser entendidos de forma literal ou
superficial. Eles são como portas simbólicas para o autoconhecimento, para o
crescimento moral e espiritual.
Pike dizia que cada símbolo
fala à razão, ao sentimento e à alma, e que cada maçom deve fazer um esforço
pessoal para interpretar esses significados — não aceitar respostas prontas,
mas buscar a verdade com coragem e reflexão. É isso que o Mestre Maçom Rômulo
Figueiroa faz em sua jornada.
1. A Caverna e a
Iniciação: o Nascimento Interior
O texto começa com uma
imagem forte: o início da jornada maçônica se dá na escuridão, com os olhos
vendados, como quem está em uma caverna.
Para Albert Pike, a caverna
é um símbolo do estado inicial do ser humano, que ainda não conhece a verdade e
vive limitado por suas dúvidas, preconceitos ou medo. Entrar na Maçonaria
vendado é um modo de dizer que o verdadeiro conhecimento começa com a humildade
de quem aceita não saber tudo.
A “primeira luz” que se vê
ao tirar a venda não é só a luz física do ambiente, mas a luz do entendimento —
a primeira faísca de consciência do que é ser um buscador da verdade.
2. Os Símbolos e as
Virtudes: Aprender a Ler o Mundo
O Mestre Maçom Rômulo
Figueiroa comenta que, em sua primeira reunião, reconheceu símbolos que já
havia visto antes na Igreja, como as Quatro Virtudes Cardeais: Prudência,
Justiça, Fortaleza e Temperança.
Aqui, Pike diria que o
símbolo é como uma ponte entre a tradição e a razão. Ele aparece igual, mas o
sentido é sempre ampliado. Não se trata apenas de “saber o que significa”, mas
de viver o símbolo em seu cotidiano, usá-lo para refletir e agir com mais
equilíbrio.
Essas Virtudes, como lembra
o Mestre Maçom Rômulo Figueiroa, não são apenas “ensinamentos morais”, mas ferramentas
para melhorar a si mesmo e a sociedade. Para Pike, o objetivo da Maçonaria não
é apenas ensinar boas ideias — é formar bons homens, ativos e conscientes do
seu papel no mundo.
3. O Templo como
Espelho Interior
Uma das passagens mais
bonitas do texto é esta:
“O Templo para mim é um local de obter
explicações para os percalços de nossas inquietações... é a miniatura de toda
extensão terrena”.
Aqui temos um ensinamento
central de Albert Pike: o Templo externo é apenas um reflexo do Templo interior.
Ou seja, não adianta estar fisicamente num lugar sagrado se sua mente e seu
coração não estiverem em busca de transformação verdadeira.
A construção do Templo, para
Pike, é uma metáfora para a construção do caráter. Cada reunião, cada símbolo,
cada ritual é como um tijolo colocado na construção de si mesmo.
4. A Jornada do
Aprendiz: Humildade, Busca e Abertura
O Mestre Maçom Rômulo
Figueiroa se define como um “pequeno aprendiz”, alguém ainda em formação. Isso
é muito importante na filosofia de Pike: ninguém é dono da verdade. O
verdadeiro sábio é aquele que sabe que ainda tem muito a aprender.
Essa humildade é o que
permite ao maçom interpretar a vida como um livro simbólico, onde tudo — até as
dificuldades — pode conter uma lição. O Templo, assim, é visto não como um fim
em si mesmo, mas como um meio de autoconhecimento e de serviço ao bem comum.
Por fim, o texto expressa o
desejo de transmitir para a sociedade os ensinamentos aprendidos na Maçonaria.
Isso também é parte da visão de Albert Pike: o conhecimento simbólico não serve
apenas para contemplar, mas para agir com justiça, generosidade e coragem no
mundo real.
Ser maçom, nesse sentido, é assumir
a responsabilidade de viver de forma mais ética e consciente, inspirando outros
a fazerem o mesmo — seja por meio do exemplo, do trabalho comunitário ou do
diálogo.
Interpretar para
Transformar
A leitura hermenêutica do
texto, à luz de Albert Pike, mostra que a Maçonaria é menos um lugar de
respostas prontas e mais um caminho de descobertas pessoais. Cada símbolo, cada
passo no Templo, é uma oportunidade de ler o mundo com mais profundidade,
refletir sobre si mesmo e escolher com mais consciência.
Para os jovens, essa visão
pode ser inspiradora: ela mostra que a verdadeira sabedoria não está em decorar
fórmulas, mas em interpretar a vida com sentido. O Templo, como o texto mostra,
não é feito apenas de paredes — ele é construído com virtudes, com busca
interior e com o compromisso de fazer o bem.
Análise Filosófica
Ampliada
Por Hiran de Melo
I. O início na caverna: a escuridão como ponto de partida
No relato, tudo começa com
uma venda nos olhos. O primeiro passo é dado sem enxergar, apenas sentindo.
Essa imagem não é só simbólica — ela revela uma verdade comum a qualquer
caminhada de crescimento pessoal: começamos perdidos, mas movidos pelo desejo
de clareza.
Albert Pike enxergava essa
escuridão inicial como necessária: é preciso esvaziar o ego para abrir espaço
ao verdadeiro aprendizado. O Templo, como espaço simbólico, começa justamente
onde o mundo comum termina — é o lugar onde o indivíduo começa a se construir
como sujeito consciente.
Essa travessia da escuridão
à luz também lembra o que o filósofo Nietzsche sugeria: quem busca a verdade
precisa ter coragem de enfrentar o próprio abismo, pois só quem mergulha na
escuridão de si mesmo pode emergir com a própria luz. O Templo, então, é
o espaço onde o profano aceita ser desconstruído para se tornar um aprendiz —
alguém que quer mais do que respostas fáceis.
II. Virtudes, moralidade e construção de si
As Quatro Virtudes Cardeais,
presentes nos cantos do Templo (Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança),
foram logo percebidas pelo autor como algo familiar. Criado na tradição cristã,
ele as reconhece, mas descobre novos sentidos. Ali, elas não são mandamentos
rígidos, mas direções para um crescimento consciente e autêntico.
É aqui que a filosofia de Kant
conversa com a experiência do Templo: agir moralmente é agir por dever, mas não por imposição externa — e
sim por escolha racional e autônoma. O Templo não obriga ninguém a ser
justo. Ele convida. E cabe a cada um cultivar essas virtudes, não para agradar
a ninguém, mas porque sabe que isso o torna melhor como pessoa e cidadão.
As Virtudes, assim, deixam
de ser meros símbolos decorativos e passam a ser instrumentos de vida prática.
Elas ensinam a suportar o erro, a respeitar o outro, a equilibrar desejo e
razão — sempre como parte de um processo interno, que só é possível quando o
sujeito assume responsabilidade pela própria conduta.
III. O Templo como lugar de fluxo, não de chegada
O texto mostra que o Templo
não é um lugar de “respostas prontas”, mas de inquietação. A cada reunião, um
símbolo novo aparece, uma dúvida surge, e com isso, a jornada nunca se fecha. O
autor reconhece: “algumas perguntas ficaram sem respostas”, mas isso não o
desanima. Pelo contrário, essa busca sem fim o move.
Essa experiência dialoga com
a filosofia de Gilles Deleuze, que via o pensamento como movimento, fluxo,
criação contínua. Para ele, a vida não se define por chegar a um lugar fixo,
mas por produzir sentido a partir do que se vive. O Templo, nesse olhar, não
é uma estrutura parada, mas um espaço vivo, onde o ser humano se reinventa a
cada reunião.
Não há um “fim” na jornada
maçônica, porque não há fim no esforço de se tornar mais justo, mais sensível,
mais consciente. O Templo, então, não é uma resposta — é uma pergunta constante
feita ao coração de quem entra.
IV. O saber que transforma: conhecimento como prática social
Quando o autor fala que
passou a estudar mais, buscar respostas, interpretar os símbolos e aplicá-los à
sua rotina, percebemos uma importante virada: o saber não é só teórico, é vivido.
Não é para enfeitar discursos, mas para melhorar as relações humanas e a
sociedade em que se vive.
Essa ideia é muito próxima
ao pensamento de Pierre Bourdieu, que dizia que conhecimento é poder, mas
também é prática. E quando se vive em um espaço como o Templo — onde o saber
circula de forma simbólica, ritualística e fraterna — é possível transformar
esse saber em ação no mundo: nas relações familiares, no trabalho, na
comunidade.
Assim, a Maçonaria, enquanto caminho filosófico, não se isola em
mistérios, mas convida o iniciado a ser útil, a agir no mundo com ética, a
transmitir valores. O autor expressa isso com clareza: o
essencial do ser maçom é transmitir luz — e não a guardar para si.
Conclusão: A
construção interior como projeto de vida
O texto inteiro é um
testemunho sincero de alguém que se dispõe a aprender com o que vive, a se
questionar, a evoluir com humildade. E essa talvez seja a lição mais profunda
que se pode tirar: o Templo é mais do que um lugar físico — ele é uma forma de
olhar a vida.
Com Albert Pike, aprendemos
que os símbolos são guias. Com Nietzsche, que a jornada exige coragem. Com
Kant, que a moral nasce do dever livremente assumido. Com Deleuze, que o
pensamento precisa fluir. E com Bourdieu, que o saber é transformador quando
encontra seu lugar no mundo.
O Templo, então, é um
espelho onde cada um vê o que está construindo dentro de si. E a cada passo
nessa construção, nasce um homem novo — mais consciente, mais forte, mais
fraterno.
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