Iniciação ao Grau 4 Maçônico
Em dezembro de 2006, iniciei
minha jornada maçônica aos meus 21 anos, idade mínima necessária para uma
iniciação. Minha iniciação ainda se encontra marcada de maneira muito detalhada
em minha memória até os dias de hoje (quase 19 anos). Após um período de
presenças, comecei a entender sobre o fundamento das sessões maçônicas de
aprendiz. Com a vida profana atribulada e atenuações de irmãos maçônicos em
minha jornada em loja, passei um período adormecido, preferi a paz e o
silêncio. Após cinco anos, voltei e logo, cumpri minhas obrigações, fui elevado
para o grau de companheiro maçom, já com algumas mudanças e pensamentos sobre a
maçonaria. Em loja, os irmãos atenuantes em minha jornada continuavam, me
incomodavam, novamente adormeci, dessa vez, por sete anos.
No último ano (2024), decidi
retornar a minha jornada maçônica por convites insistentes de meu pai, que já
possui o grau 33. Eu já com 39 anos de idade, casado, pai e com a vida profana
estável, decidi retornar e dessa vez, mais determinado a trilhar a jornada
maçônica e com alguns meses fui elevado ao grau de Mestre maçom pela loja.
Estou há mais de um ano na atividade e confesso aos meus amados irmãos, que
revigorado com todas as ações e acontecimentos, mesmo com os atores atenuantes
em loja, que com a maturidade, consegui conversar, alinhar e levantar as
bandeiras da fraternidade, da força e da união, nome de minha loja Simbólica.
Este ano, tive a honra de
ser convidado para fazer parte da Loja Perfeição, Paz e Amor (Com um belo nome
como este, fica difícil negar a um convite!) e eu disse SIM! Fiz diferente:
comprei todo o traje maçônico, da
gravata ao sapato, nenhum detalhe faltou! Tudo novo! Chegou o dia, convidei
minha família, que sempre me apoia e está presente, entre os componentes que a
constituem, está minha filha de 7 anos de idade, que compõe o quadro abelhinha
das filhas de Jó, da loja Regeneração Campinense, ela, logo aprovou o novo traje
e ao chegar na loja para minha iniciação, me fez a seguinte pergunta de maneira
imperativa: “VAI SER NA MINHA MAÇONARIA?”. Respondi com um sorriso no rosto:
“Sim, filha! Agora é a nossa maçonaria!”.
Em loja, muitos irmãos
iniciando a mesma jornada, 16 mestres maçons de variadas potências e variadas
cidades, até de outros estados, não houve uma ausência sequer. Na iniciação do
4º grau, todos os detalhes foram planejados e realizados pelos nossos irmãos
mestres, felizes e satisfeitos, os poderosos, generosos e orgulhosos com a
iniciação ali executada, com discursos inesperados, eram os corações falando
através dos amados irmãos. No fim da sessão solene, ajudei aos amados irmãos na
organização da loja, demorei um pouco, ao finalizar, desci as escadas do salão
e sem nem mesmo terminar de descer todos os degraus, um grito no salão: “É ele!
É Papai!”, todos os presentes viraram para mim e de repente um abraço que durou
segundos, mas se eternizou em meu coração com o significado de Perfeição, Paz e
Amor.
Orlando Araújo de Lima Filho – Mestre Secreto
Breve Consideração
Por Hiran de Melo
O
texto do Mestre Orlando Araújo de Lima Filho narra sua jornada na maçonaria
como um verdadeiro rito de passagem, cheio de pausas, recomeços e
amadurecimento. À primeira vista, é o relato de um irmão que percorre o caminho
simbólico da iniciação, mas, olhando com mais atenção, ele nos oferece também
uma profunda reflexão sobre pertencimento, superação e transformação pessoal.
Um
olhar filosófico sobre esse relato pode ser enriquecido pelas ideias de Pierre
Bourdieu, um pensador francês que dedicou sua vida a entender como os seres
humanos vivem dentro de grupos, tradições e instituições. Para ele, todo grupo
social — seja uma escola, uma igreja, um time de futebol ou, nesse caso, uma
loja maçônica — possui o que ele chama de habitus, que são hábitos,
costumes e modos de agir que não estão escritos, mas que se aprendem convivendo
com os outros.
Mestre
Orlando Araújo, ao descrever suas entradas, saídas e retornos à maçonaria,
mostra como o habitus maçônico foi sendo lentamente reconstruído em sua
vida. No início, jovem e inexperiente, ele absorve o ambiente com curiosidade,
mas também enfrenta obstáculos que o afastam. Esses obstáculos — chamados por
ele de "atores atenuantes" — são também parte do campo social,
ou seja, das relações de força e disputa que existem dentro de qualquer grupo
humano, inclusive dentro da própria maçonaria.
Mas
o que faz essa história especial é que, mesmo diante das dificuldades, ele
retorna. E retorna com uma bagagem diferente: mais maduro, com a vida pessoal
mais equilibrada, com um novo olhar sobre si mesmo e sobre os irmãos. Bourdieu
diria que, com o tempo, o habitus de Orlando se ajustou melhor ao campo
maçônico. Ele já não é mais o jovem que espera que tudo se encaixe com
facilidade. Agora, ele atua com mais firmeza, investe na fraternidade, se
reconcilia com os irmãos e assume com mais consciência seu lugar na loja.
Outro
ponto importante do texto é a presença da família, especialmente da filha, que
pergunta com brilho nos olhos: “Vai ser na minha maçonaria?”. Esse pequeno
gesto mostra como a maçonaria não é apenas um espaço ritualístico ou simbólico,
mas também um lugar de laços afetivos, de continuidade e de legado.
É
nesse momento que o rito deixa de ser apenas individual e se torna coletivo. É
ali, naquele abraço apertado ao final da cerimônia, que o valor da iniciação se
revela em sua plenitude.
A
filosofia de Bourdieu nos ensina que não somos apenas indivíduos soltos no
mundo. Somos formados pelos ambientes onde convivemos, e também os transformamos
com nossas ações.
Mestre
Orlando Araújo, com sua história, mostra como um maçom pode trilhar esse
caminho, com quedas e retornos, mas sempre guiado pelos ideais de Perfeição,
Paz e Amor — que, no fim das contas, são construídos, vividos e sentidos,
como ele tão bem demonstra.
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