Uma
Jornada de 19 Anos - Da Curiosidade à Consciência Maçônica
Quantos
anos da minha vida, olhei para o prédio da Loja Maçônica, e não imaginava que
um dia faria parte daquele seleto grupo.... Para mim a maçonaria era
praticamente desconhecida.
Tudo
mudou, quando em uma conversa despretensiosa, pelo menos da minha parte, com o
Ednaldo Martins (Babo), que sem que eu notasse, ele me indagou como eu
enxergava, o que eu imaginava e se tinha vontade de fazer parte da MAÇONARIA.
Respondi, na minha VISÃO PROFANA, que pouco conhecia, apenas que era uma
associação SECRETA, frequentada por homens de bem, mas não sabia e o que
faziam, e os via sempre unidos.
No
dia 01 de agosto de 2026, um misto de surpresa, receio, interesse e alegria,
inundou os meus pensamentos, ao receber uma carta oriunda da Loja Maçônica de
Areia, que informava que o meu nome havia sido aceito para ingressar na Ordem
Maçônica. Claro que demonstrei todo o meu interesse e aceitei, e depois que
falei com a minha esposa (a pedido do maçom, que mais tarde descobri que se
tratava do meu padrinho), que obviamente também aceitou de pronto, fui
informado que eu iria “ENTRAR” na maçonaria no dia 26 de agosto de 2006,
justamente no dia do aniversário da minha esposa (até hoje ela diz, que poderia
ter sido em outro dia... kkkkk...).
Chega
então o grande dia que eu iria “ENTRAR” na maçonaria. Bem trajado, de calça,
paletó, sapato e meias pretas, camisa branca e gravata borboleta preta, sentia-me
muito bem vestido... Mas, ao ser recebido na porta, vendaram-me, pediram para
retirar o paletó, os sapatos, um lado da camisa branca “nova” foi despido e
calcei um chinelo desconfortável... Alguém me guiava, mesmo com cuidado, eu não
tinha a devida confiança. Retiraram a venda e me vi em um lugar, que mais
parecia uma caverna, no entanto, senti uma vontade de meditar e assim o fiz,
mas fui retirado e levado, mais uma vez vendado, para algum lugar, que
imaginava ser imenso, pois fiz várias caminhadas e os maçons chamavam de viagens,
provei de um liquido doce e de repente como mágica ficou amargo, e aos gritos,
fui retirado, achei que tinha feito algo errado. Mais uma vez retiraram a venda
dos meus olhos, me vi de frente a uma cabeça ensanguentada e alguns maçons de
rostos cobertos, quis olhar para os lados, e fui mais uma vez vendado. Alguém
me guiou e depois de um SILÊNCIO, lembro de uma voz bem forte “QUE SE FAÇA A
LUZ”, retiraram a venda dos meus olhos e a LUZ surgiu e junto a isso a
descoberta de que haviam muitos maçons, e entre eles, vários desconhecidos, que
me chamavam de IRMÃO, e entendi que havia sido INICIADO e agora era um MAÇOM,
vinculado a Aug\ e Resp\ Loja Simb\
“Prof. Leônidas Santiago”, No. 16, Jurisd\ à
Ser\ Gr\
Loj\ Maç\
do Estado da Paraíba. Lá se vão 19 anos e a certeza que tomei a decisão correta
ao aceitar fazer parte da FAMÍLIA MAÇÔNICA, que hoje sei que a MAÇONARIA não é
secreta e sim DISCRETA. Um lugar que tem como princípio a UNIÃO, através da FRATERNIDADE,
SOLIDARIEDADE e o contínuo APERFEIÇOAMENTO MORAL.
IRISVALDO SILVA DO NASCIMENTO
Breve Consideração
Por Hiran de Melo
O
relato do amado Irmão Irisvaldo Silva do Nascimento sobre sua iniciação
maçônica é mais do que uma memória pessoal — é um retrato vivo de como o
indivíduo atravessa fronteiras simbólicas e transforma sua posição social e
espiritual. Para entender essa travessia, podemos recorrer ao pensamento do
filósofo francês Pierre Bourdieu, que nos ajuda a enxergar como os espaços
sociais funcionam e como as pessoas se movem dentro deles.
A Loja como Espaço de Reconhecimento
Bourdieu
dizia que cada grupo social tem seus próprios “campos” — espaços com regras,
valores e formas de reconhecimento. A Maçonaria, nesse sentido, é um campo
simbólico onde o ingresso não depende apenas de vontade, mas de um processo de
legitimação. Irisvaldo, ao ser convidado e posteriormente iniciado, passou por
um ritual que o retirou da condição de “profano” e o inseriu em um novo campo,
onde passou a ser reconhecido como “irmão”.
Esse
processo é o que Bourdieu chama de mudança de capital simbólico. Antes,
Irisvaldo via o prédio da Loja como algo distante, quase misterioso. Depois da
iniciação, aquele espaço passou a ser seu — não apenas fisicamente, mas
espiritualmente e socialmente. Ele agora possui o “capital” necessário para ser
reconhecido dentro da Maçonaria: o conhecimento, os vínculos e os valores.
O Ritual como Transformação
O
ritual descrito — com vendas, caminhadas, provações e a revelação da luz — é
uma forma de marcar a passagem de um estado para outro. Bourdieu nos ensina que
os rituais não são apenas cerimônias: eles são mecanismos que reforçam a
importância daquilo que está sendo transmitido.
Ao
vestir-se formalmente e depois ser despido, guiado e testado, Irisvaldo viveu
uma experiência de humildade e renascimento. Ele deixou para trás o “eu
profano” e emergiu como um novo sujeito, agora parte de uma tradição que
valoriza a fraternidade, a solidariedade e o aperfeiçoamento moral.
A Luz como Símbolo de Consciência
O
momento em que se ouve “QUE SE FAÇA A LUZ” é mais do que teatral — é
filosófico. A luz representa o despertar da consciência, o acesso ao
conhecimento e à verdade. Para Bourdieu, esse tipo de símbolo reforça a ideia
de que o iniciado agora vê o mundo com outros olhos. Ele não apenas “entrou” na
Maçonaria — ele passou a enxergar a vida com mais clareza, mais propósito e mais
responsabilidade.
A Fraternidade como Capital Social
Ao
ser chamado de “irmão” por desconhecidos, Irisvaldo experimenta o que Bourdieu
chamaria de capital social: os laços de confiança e pertencimento que existem
dentro de um grupo. Esses laços não são dados — são construídos e mantidos por
meio de práticas, valores e convivência. A Maçonaria, ao promover a união e o
aperfeiçoamento moral, oferece ao iniciado não apenas um título, mas uma rede
de apoio e crescimento.
A Iniciação como Ato de Reconstrução
O
testemunho de Irisvaldo mostra que a iniciação maçônica é uma reconstrução do
ser. Ele entrou como alguém curioso e saiu como alguém transformado. A
Maçonaria, vista por Bourdieu, é um campo onde o indivíduo aprende a se
posicionar, a se reconhecer e a ser reconhecido. E isso não acontece por acaso
— é fruto de um ritual que educa, eleva e conecta.
Assim,
os 19 anos de caminhada de Irisvaldo não são apenas uma contagem de tempo — são
a prova de que a Maçonaria, quando vivida com sinceridade, é uma escola de
vida, onde cada passo é uma lição e cada irmão é um espelho.
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