Uma Jornada de Pertencimento e Transformação

 

Ao ser iniciado há quase 20 anos, no momento em que estive conhecendo e dentro da Câmara das Reflexões, senti um pouco de medo. Porém, com a página a ser preenchida naquela ocasião, fui fazendo uma autorreflexão em cada pergunta que precisava ser respondida, o que me levou a ficar mais tranquilo. Pude realmente perceber que, mais cedo ou mais tarde, todos nós vamos passar por esse momento de transição: do finito ao infinito, do terreno para o celestial, do imperfeito para o perfeito. Pois este é o grande plano elaborado e criado por nosso Ser Supremo, o Homem Celestial — onipotente, onipresente e onisciente.

Ao ser retirado do lugar já mencionado e aguardar os trâmites posteriores, fiquei bastante apreensivo com o desenrolar que viria a acontecer. Mas tinha plena confiança de que tudo seria feito dentro das leis e dos princípios básicos de uma sociedade de bons homens, pois meu padrinho foi meu próprio pai. Desde criança, eu o acompanhava em suas saídas semanais para assistir às reuniões da instituição.

Também vale ressaltar que fui iniciado no clube Lowtous na década de 1988, se não me falha a memória.

O que realmente me incomodou no dia da minha iniciação na Ordem Maçônica foi a chinela, que estava pequena e muito apertada em meu pé. Isso, como disse o apóstolo Paulo, foi o espinho na carne.

Ao receber a luz, fiquei com a visão ofuscada por um certo período de tempo. Mas, assim que comecei a enxergar de maneira plena, vi muitos amigos e conhecidos, a quem passei a chamar de irmãos.

Hoje, continuo filiado à minha Loja-mãe e Potência-mãe. Nada mais justo que honrar e cumprir os compromissos assumidos perante a assembleia presente naquela data especial.

Atualmente sou:

Diretor do Rito Adonhiramita no GOPB, COMAB, CMI;

Venerável Mestre da Augusta e Grande Benfeitora Loja Simbólica Fraternidade Força e União nº 8;

Cavaleiro Rosa-Cruz no Sublime Capítulo Lúcio Nelson Martins;

Eleito dos Nove na Loja de Perfeição Paz e Amor.

Walber Wesley Félix de Araújo, MI

Breve Consideração

Por Hiran de Melo

O relato do Irmão Walber Wesley Félix de Araújo sobre sua iniciação na Ordem Maçônica é mais do que uma lembrança pessoal — é um testemunho vivo da força que a Maçonaria tem de transformar, acolher e moldar o ser humano. Cada passo descrito por ele, desde a entrada na Câmara das Reflexões até os cargos que hoje ocupa, revela que a iniciação não é um simples ritual: é o início de uma jornada que toca o corpo, a mente e o espírito.

Ao entrar na Câmara das Reflexões, o silêncio e o medo se misturam com as perguntas escritas no papel. É o momento em que o homem se vê diante de si mesmo, confrontando seus limites e sua essência. Essa experiência, embora íntima, é também profundamente social. O filósofo francês Pierre Bourdieu nos ensina que nossa identidade é moldada por símbolos, práticas e memórias que herdamos e vivemos em grupo. Assim, ao preencher aquelas perguntas, o Irmão não apenas refletia sobre sua vida — ele começava a internalizar os valores da Maçonaria, a formar seu “habitus maçônico”.

A presença do pai como padrinho reforça essa ideia. Desde criança, o Irmão acompanhava as saídas semanais rumo à Loja, sem saber que já estava sendo preparado para esse mundo simbólico. A iniciação, nesse caso, não começou no dia do ritual, mas muito antes, nas vivências familiares, nos gestos repetidos, na confiança construída. É a herança silenciosa que passa de geração em geração, como um fio invisível que liga passado, presente e futuro.

Mesmo o detalhe aparentemente simples — a chinela apertada — carrega um ensinamento. O desconforto físico, lembrado com humor como o “espinho na carne” de Paulo, mostra que os rituais não são vividos no abstrato. Eles acontecem no corpo, na pele, na realidade concreta. E é justamente aí que mora a beleza da iniciação: ela nos ensina que o caminho maçônico não é feito apenas de glórias, mas também de pequenas provações que nos lembram da humildade necessária para crescer.

Ao receber a luz, o Irmão passa por uma transformação. A visão ofuscada dá lugar ao reencontro com amigos que agora são chamados de irmãos. Não se trata apenas de enxergar com os olhos, mas de ver com o coração. É o momento em que o homem imperfeito se reconhece como parte de algo maior, orientado pelo desejo de aperfeiçoamento e pela força da fraternidade.

Hoje, ao ocupar cargos e responsabilidades em diferentes corpos da Ordem, o Irmão mostra que a iniciação foi apenas o começo. Ela plantou uma semente que continua a florescer em forma de serviço, liderança e compromisso. Seu testemunho nos lembra que a Maçonaria é, acima de tudo, uma escola de vida — um espaço onde o finito toca o infinito, onde cada gesto é carregado de sentido, e onde cada compromisso assumido se transforma em prática viva de fraternidade.

Ser maçom não é apenas vestir um avental. É viver uma cultura, honrar uma tradição e construir uma identidade que se renova a cada passo dentro da Ordem. É pertencer a um caminho que nos convida, dia após dia, a sermos melhores do que fomos ontem.

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