Algumas coisas precisam mesmo terminar

O final de um ciclo pode doer, mas ele não é o final de nossas vidas. Não é porque “algo” termina que significa que “tudo” se acaba. E quer saber? Algumas coisas precisam mesmo terminar. Porque por mais que a gente queria, insista, e ache que é bom, nem tudo que queremos é realmente bom para nós. Quando a gente cresce de tamanho, as roupas do passado já não nos servem mais. Isso também vale para pessoas, lugares e situações. Não dá para insistir no que já não é mais do nosso tamanho.

Um final pode sempre trazer dor, e junto com ele a lembrança do passado, o medo e a incerteza do futuro. A gente precisa respeitar o nosso sofrimento e a nossa própria vulnerabilidade. Mas também superar e entender que algumas coisas precisam morrer para que outras possam nascer.

O final de algo geralmente representa algo muito maior, o final de um padrão ou de uma versão nossa que agora precisa se reinventar. Finais são renascimentos. São processos sagrados em que podemos (e devemos) mergulhar dentro de nós, rever como chegamos aonde estamos, que atitudes, sentimentos, pensamentos precisamos reformular, qual o lixo interno que ficou acumulado que precisa ser jogado fora, e quais forças e potenciais estão em “trabalho de parto” prontas para nascerem em nós.

Dói para nascer. E a gente morre e nasce muitas vezes nessa vida, em todos os momentos que a gente se reinventa e começa de novo. E isso é lindo.

Tem coisas que na verdade nos prendem e a gente nem percebe. E é quando elas terminam que a gente se reinventa, se descobre e faz nascer uma versão nossa muito mais forte e feliz que antes.

Que “recomeçar sempre que for preciso”, seja o nosso maior lema, e que a gente nunca esqueça que às vezes o que nos parece um final doloroso é só o começo da melhor fase da nossa vida.

Alexandro Gruber – Terapeuta

Uma Travessia Iniciática para o Ser

Por Hiran de Melo


Para os Irmãos que buscam o renascimento consciente

Há textos que não apenas se leem — se vivem. O de Alexandro Gruber é um desses. Ele pulsa como uma canção de Gonzaguinha e ressoa como um pensamento de Heidegger. E para nós, maçons, que trilhamos o caminho do aperfeiçoamento interior, esse texto é mais que reflexão: é um espelho simbólico, uma pedra bruta que convida à lapidação.

“Algumas coisas precisam mesmo terminar”, diz o autor. E essa frase, simples à primeira vista, carrega o peso e a leveza de um rito de passagem. Como nos ensinou Gonzaguinha, viver é ousar — e ousar é saber que o recomeço é um gesto de coragem. Já Heidegger nos lembra que o Ser só se revela quando nos dispomos a abandonar o que já não nos serve. O fim, portanto, não é queda: é abertura.

A metáfora das roupas que não cabem mais é especialmente tocante. Ela nos fala de crescimento, de desconforto, de desapego. E isso vale para ideias, vínculos, hábitos — tudo aquilo que, por mais familiar, já não sustenta a verdade que pulsa em nós. Como Irmãos, sabemos que o processo iniciático exige essa entrega: deixar morrer o que é velho para que o novo possa nascer.

O texto não se fecha em lamento. Ele se abre em rito. Finais são renascimentos, diz Gruber, e essa afirmação soa como uma instrução silenciosa dentro do templo. A imagem do “trabalho de parto” interno é potente: mostra que há dor, sim, mas também criação. Que morrer e nascer muitas vezes é não apenas possível, mas necessário. E que cada renascimento nos aproxima da nossa essência mais legítima.

Heidegger falava da angústia como reveladora — um estado em que o mundo perde suas certezas e nos força a encarar o vazio. Mas esse vazio, para nós, é espaço sagrado. É o silêncio entre colunas, o intervalo entre graus, o momento em que o Ser se prepara para se manifestar. Gonzaguinha, por sua vez, cantava que “a vida merece que se viva pra ver no que vai dar”. E esse “ver” é o olhar do iniciado: aquele que não teme o escuro, porque sabe que ali mora a luz.

No fim, o texto nos oferece um lema: “recomeçar sempre que for preciso”. E esse lema, para nós, é mais que conselho — é um chamado à autenticidade. Um convite à liberdade de ser quem se é, mesmo que isso exija deixar para trás o que já não cabe. Recomeçar é habitar o tempo com verdade. É fazer do instante presente uma morada para o Ser que pulsa, silencioso, esperando que o deixemos nascer.

Que cada fim seja, então, um novo grau. Que cada dor seja uma iniciação. E que cada recomeço nos aproxime daquilo que somos, quando somos inteiros.

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