Humanidade – menina alemã alimenta menino judeu em
campo de concentração
Em
Bergen-Belsen, 1944, um jovem judeu lutava para se manter vivo em meio à fome e
ao desespero. Certa vez, descobriu uma pequena fenda na cerca do campo. Do
outro lado, surgiu uma jovem camponesa alemã da mesma idade, suficientemente
corajosa para agir, apesar do perigo.
Todos os dias,
quando os guardas não vigiavam, ela empurrava um pequeno pedaço de pão através
daquela abertura. Esse gesto simples e frágil de bondade manteve-o vivo até a
libertação — um fio de esperança entrelaçado ao medo e à crueldade.
Décadas mais
tarde, o menino — agora um idoso vivendo em Nova Iorque — partilhou a história
numa cerimônia em memória do Holocausto. Sua voz tremia ao recordar a coragem
daquela menina e o pão que havia alimentado não apenas o corpo, mas também a
alma. Nesse momento, uma mulher na plateia começou a chorar. Levantou-se e
sussurrou: “Eu fui essa menina”.
Após quase
cinquenta anos, abraçaram-se pela primeira vez. Naquele instante, o pão passado
por debaixo da cerca transformou-se em algo muito maior do que alimento:
tornou-se uma ponte através do tempo, um testemunho de bravura, compaixão e do
poder eterno da conexão humana. Mesmo nas horas mais sombrias, pequenos atos de
coragem podem brilhar intensamente e deixar um legado que perdura muito além da
guerra. (*)
O Pão e a Ponte: Uma Luz na Escuridão
Por
Hiran de Melo
A história
da menina alemã e do menino judeu em Bergen-Belsen é, por si só, um lampejo de
humanidade em meio à escuridão. Um gesto singelo, mas profundamente simbólico,
que nos convida a refletir sobre o que há de mais essencial na condição humana.
À luz da
filosofia de Martin Heidegger, percebemos que esse encontro vai além da cerca
que os separava. Ele revela o que o pensador chamou de ser-no-mundo: o ser
humano como alguém lançado na existência, em constante relação com o tempo, com
o outro e com o sentido. E é justamente nesse “estar-com” que a menina e o
menino se encontram — não apenas como vítimas ou sobreviventes, mas como seres
que escolhem cuidar.
O pão que
atravessa a fenda não é apenas alimento. É símbolo. É resistência à
indiferença, à crueldade, à banalidade do mal. É a afirmação silenciosa de que,
mesmo cercada pela morte, a vida ainda pode ser escolhida. A menina não age por
dever, mas por escuta — uma escuta que nasce do íntimo, daquilo que Heidegger
chamaria de existência autêntica.
E o menino,
ao receber aquele pão, não recebe apenas sustento. Recebe reconhecimento.
Recebe a prova de que, mesmo ali, ainda é visto como alguém digno de cuidado.
Décadas depois, o reencontro não é apenas comovente — é a confirmação de que o
tempo não apaga o que é essencial. O gesto permanece, atravessa os anos e se
transforma em memória viva.
Kennyo
Ismail, em suas reflexões sobre o simbolismo maçônico, nos lembra que os
grandes ensinamentos não estão necessariamente nos grandes feitos, mas nos
pequenos gestos que carregam sentido. O pão passado por debaixo da cerca é um
desses gestos — simples, silencioso, mas profundamente transformador. Ele se
torna ponte. E como toda ponte verdadeira, une o que parecia separado,
reconcilia o que parecia perdido, e revela que, mesmo nas horas mais sombrias,
há luz suficiente para um passo adiante.
Essa
história nos fala como maçons: que o trabalho silencioso, o gesto discreto, o
cuidado com o outro — tudo isso é construção de Templo. E que, às vezes, o que
nos salva não é uma grande revolução, mas um pequeno pedaço de pão — oferecido
com coragem, com amor e com a firmeza de quem escolhe ser Luz, apesar de tudo.
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