A Arca da Aliança — símbolo de fé,
mistério e ensinamento no Grau 4 do REAA
Otaviano Noel da Silva Vasconcelos – Mestre
Secreto
No
Grau 4 do Rito Escocês Antigo e Aceito, conhecido como Mestre Secreto, a Arca
da Aliança ocupa um lugar central como símbolo de revelação, compromisso e
presença espiritual. Ela não representa apenas um objeto sagrado da tradição
hebraica, mas um marco profundo da doutrina iniciática, que convida o maçom a
refletir sobre sua missão, sua conduta e sua ligação com o divino.
Feita
de madeira de acácia — árvore resistente e incorruptível — a arca simboliza a
firmeza moral e a integridade que devem sustentar a vida do iniciado. Suas
medidas exatas e sua construção sobre esquadro nos lembram que a retidão, a
precisão e o equilíbrio são fundamentos da jornada maçônica. Nada é feito ao
acaso: tudo tem forma, proporção e propósito.
O
revestimento em ouro puro representa a virtude elevada, a pureza de intenções e
a luz que deve brilhar no coração do Mestre Secreto. O ouro não é apenas
riqueza material, mas expressão da nobreza espiritual que se conquista com
esforço, disciplina e amor ao bem.
Sobre
sua tampa, os querubins com asas abertas apontam para o centro — o espaço vazio
entre eles. Esse vazio não é ausência, mas plenitude: é o lugar onde a voz do
mistério se manifesta, onde o iniciado aprende a escutar o silêncio e a
reconhecer que o verdadeiro saber não grita, mas sussurra. Os querubins
representam a proteção divina e o equilíbrio entre forças opostas — justiça e
misericórdia, razão e fé.
Dentro
da Arca, os três objetos sagrados revelam ensinamentos profundos:
- As
Tábuas da Lei representam a moral universal, as regras que devem guiar a
conduta do maçom. Elas não são imposições externas, mas reflexos internos da
ordem cósmica.
- O vaso de Maná simboliza o alimento espiritual, aquilo que nos nutre quando
buscamos o que é eterno em nós. É o dom da providência, a abundância que brota
da fé e da confiança.
- O cajado de Arão representa a vocação, a autoridade legítima e a escolha
divina. Ele nos lembra que cada um tem uma missão, e que essa missão deve ser
cumprida com sabedoria, humildade e coragem.
Esses
elementos nos ensinam que a verdadeira força do Mestre Secreto vem do seu
interior — da sua fé, da sua conduta e do seu compromisso com o bem. A Arca da
Aliança, portanto, não é apenas um símbolo antigo: é um ensinamento vivo, que
nos inspira a caminhar com firmeza, a cultivar a luz e a servir com propósito.
No
Grau 4, o iniciado é chamado a guardar os segredos da sabedoria, a proteger o
templo interior e a reconhecer que o verdadeiro tesouro não está fora, mas
dentro de si. Que cada maçom, ao contemplar a Arca, reencontre o sentido de sua
jornada e se torne, com sua vida, um reflexo da presença divina no mundo.
Breves considerações
Por Hiran de Melo
A
Arca da Aliança, tal como apresentada no Grau 4 do Rito Escocês Antigo e
Aceito, revela-se como mais do que um símbolo ritualístico: é um chamado à interioridade,
à escuta do invisível e à presença autêntica no mundo. Nela, o iniciado
encontra não apenas um objeto sagrado, mas um espelho da própria alma — um
convite para transformar a existência em templo vivo, onde o sagrado se
manifesta no simples ato de ser.
A
madeira de acácia, incorruptível e firme, simboliza a substância essencial do
ser — aquilo que resiste às intempéries da vida e permanece íntegro diante do
tempo. Heidegger recorda que o ser humano é um “ser-aí”, lançado no mundo, mas
responsável por dar sentido à própria presença. Assim como a acácia sustenta a
Arca, também nós somos chamados a sustentar o bem, a verdade e a beleza em meio
ao caos.
O
ouro que reveste a Arca não representa apenas virtude ou riqueza, mas a luz
interior que se acende quando o ego é purificado e o coração se alinha ao que é
justo. É o brilho silencioso da alma em paz — não um ouro que se impõe, mas que
se oferece, irradiando sem exigir.
O
espaço vazio entre os querubins é talvez o ponto mais profundo e misterioso.
Esse vazio, longe de significar ausência, é plenitude silenciosa: o lugar onde
o Logos — a Palavra essencial — se manifesta como sopro, não como ruído.
Jean-Yves Leloup lembra que “Deus não está no barulho, mas no silêncio que o
precede”; e Heidegger diria que é nesse silêncio que o ser se revela. Escutar
esse espaço é aprender a ouvir a vida, o outro e a si mesmo.
Os
três objetos contidos na Arca — as Tábuas, o Maná e o Cajado — são sinais vivos
das dimensões do ser. As Tábuas revelam a ética que orienta; o Maná alimenta a
confiança que sustenta; e o Cajado desperta a vocação que guia. Eles
representam, juntos, a harmonia entre lei, fé e propósito — fundamentos de uma
vida que busca servir e transformar.
Ao
final, o ensinamento é claro: o verdadeiro templo é interior. O segredo não
está em guardar fórmulas, mas em viver com autenticidade. A Arca, então,
torna-se um símbolo do ser que se recolhe para se revelar, do silêncio que
fala, da presença que transforma.
Que
o exemplo de quem compreende esse mistério inspire outros a caminhar com luz,
fortalecendo os laços de amizade, empatia e solidariedade entre os seres
humanos. Pois o sagrado não está no que se separa do mundo, mas no que é vivido
com profundidade dentro dele — e toda vida autêntica é, por si, uma Arca em
movimento.
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