A Arca da Aliança - Um Chamado à Vida Consciente
Por Severino Carvalho – Mestre Secreto
Neste trabalho, vamos nos inspirar no
tema da Arca da Aliança, cujo enigma sagrado consta das inspirações bíblicas
desde séculos anteriores a Jesus Cristo. Ela foi palco de vários episódios e
discussões desde tempos remotos, e hoje vem sendo estudada com afinco no âmbito
da Maçonaria.
A Arca da Aliança é um símbolo sagrado
citado nas Escrituras, principalmente no Velho Testamento, sendo interpretada
como um objeto de ligação direta entre Deus e o homem — especialmente com
Moisés, conforme descrito nas passagens bíblicas.
Na Maçonaria, ela é estudada com mais
profundidade nos graus filosóficos, sobretudo no Grau de Real Arco. No entanto,
sua presença simbólica já se manifesta no Grau 4 do Rito Escocês Antigo e
Aceito, conhecido como Mestre Secreto. Nesse grau, a Arca representa o segredo
divino que deve ser guardado com zelo, sabedoria e discrição. Ela é o
receptáculo da Lei, da Aliança e da Consciência — e sua presença no templo
interior do iniciado marca o início de uma jornada mais profunda rumo à verdade
e à luz.
Podemos salientar também que a Arca se
encontra em nós. Ao analisarmos a Tábua das Leis, percebemos que nossa atitude
cotidiana depende da razão e da moral que aplicamos na convivência social. Fica
evidente, portanto, que é na mente e no coração que a Arca habita em nós.
Ela não é apenas um objeto feito de
madeira e ouro; representa também a mente e o coração do homem. É um símbolo
criado para orientar a humanidade na escolha do caminho que devemos trilhar
durante nossa permanência na Terra — como está explícito nos Dez Mandamentos
bíblicos. Esses mandamentos podem ser encontrados e interpretados por nós
quando os usamos na prática do bem entre nossos semelhantes.
Enfim, a Arca permanece em nós, e
compete ao ser humano cultivá-la em seu coração para evitar que desapareça do
templo sagrado que é o próprio coração — quiçá também a mente — quando se busca
trilhar o caminho da perfeição. Que cada um de nós seja guardião desse
mistério, iluminando o caminho com o exemplo de uma vida em movimento,
consciente e transformadora.
Breves considerações
O texto do Mestre Severino Carvalho toma
a Arca da Aliança como centro de reflexão simbólica e espiritual, lembrando
que, mais do que um objeto histórico ou religioso, ela se apresenta como
presença viva e interior.
À luz do pensamento de Jean Yves Leloup,
a Arca não é uma relíquia perdida no tempo, mas um espaço de encontro entre o
humano e o divino, um portal que nos convida a atravessar da exterioridade para
a interioridade. É menos um objeto e mais um estado de consciência. Para
Heidegger, por sua vez, essa mesma experiência pode ser compreendida como
tarefa do “ser-aí”: habitar o tempo, cuidar do que nos foi confiado e acolher o
sentido da existência no coração.
A Arca é, portanto, um receptáculo da
Lei, da Aliança e da Consciência — não apenas em tábuas de pedra, mas em tábuas
vivas de carne e espírito. Não se trata de obedecer a mandamentos externos, mas
de encarnar em gestos cotidianos uma sabedoria que une razão e compaixão,
memória e liberdade, moral e vida concreta.
Esse símbolo nos recorda que o sagrado
não está fora de nós, em templos de madeira e ouro, mas dentro — na mente e no
coração que guardam o que dá sentido à jornada. Guardá-la é assumir a
responsabilidade de viver com autenticidade, evitando que o essencial se perca
em meio às distrações da existência.
Ser guardião da Arca é fazer de si mesmo
um espaço de aliança: entre mente e coração, entre razão e sensibilidade, entre
o silêncio e a ação. Não é tarefa de arqueólogos, mas de buscadores espirituais
que se dedicam à construção interior e ao cultivo de uma vida em movimento.
Em última instância, a Arca nos convida
a sermos portadores de uma aliança interior — não esquecer o sentido da vida,
mas iluminá-la com gestos simples, conscientes e transformadores. Que cada um
de nós a cultive em seu coração e inspire pelo exemplo, tornando-se chama viva
que clareia o próprio caminho e o caminho daqueles que nos seguem.
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