A Razão como Luz no Templo

 

Por Hermes Mariz Reinaldo Gomes Mestre Secreto

 

Razão, de forma geral, termo encontrado nos dicionários como faculdade de ponderar, capacidade de raciocínio para dedução ou indução. Entendimento cognitivo da realidade.

No cartesianismo, é o que permite a distinção entre o certo e errado, entre o falso e o verdadeiro ou entre o bem e o mal. Bom senso ao duvidar de tudo que não for claro em prol de se encontrar a verdade. Na filosofia kantiana, a vontade é direcionada ao bem, sem interferência da inteligência. Existem ainda, inúmeros Pensadores antigos e contemporâneos que tratam do tema “Razão” em diversas esferas da atuação humana procurando trazer entendimentos para a convivência ética da sociedade, contudo, entraremos apenas em alguns conceitos da filosofia moral com a razão prática de Kant.

 

Ele propôs três pilares da ética: Boa Vontade, Dever e Imperativo Categórico, este último dividido em três partes: Fórmula da Lei Universal, Fórmula da Humanidade e Fórmula da Autonomia.

 

·       Boa Vontade – ter a intenção de agir correto, sem ganhar benefícios ou o medo de punições e reveses.

·       Dever – ação moral, agir conforme a moralidade porque a regra diz ser o certo.

·       Imperativo Categórico – é incondicional, não existe o hipotético, e nos diz como agir de forma moral. Na primeira fórmula, a Lei Universal diz que uma ação é moral se seu princípio puder ser aplicado a qualquer indivíduo. A fórmula da Humanidade diz que não se deve usar as pessoas para um meio, como objetos, e sim para um fim, ou seja, como seres com valor e dignidade. Fórmula da Autonomia, com uso da razão o indivíduo deve ser o legislador das próprias leis morais.

 

A Autonomia da Razão nos fornece uma base sólida para nossa construção interior, com ela podemos pensar livremente, sem influências externas, danosas e manipuladoras, podendo agir mediante a Lei Universal e termos vontade e entendimento do que realmente é correto e enxergar o próximo e nós mesmos como indivíduos racionais e criadores de nossas próprias leis morais em prol da sociedade.

 

Segundo Kant, “dever é a necessidade de uma ação por respeito à lei.” Essa obrigação (dever) não se trata de nenhum tipo de coação, pois assim estaria tolhendo o conceito de liberdade e autonomia da vontade, como reforça CASSIANO: “Esta lei moral não pode ser nenhum comando de autoridade ou infligir uma obrigação que não provenha dos princípios a priori da razão”.

 

No grau de Mestre Secreto se trabalha com profundidade o Sigilo e a Lealdade com obediência aos princípios de Igualdade, Fraternidade e Liberdade. Para alcançarmos o mais próximo possível dessa plenitude, podemos seguir um dos caminhos, como o proposto por Kant, que “estipula um princípio supremo de moralidade, o imperativo categórico, no qual o dever cumpre uma dupla função de concordância com a lei moral: uma função objetiva do dever como fim em si mesmo; e uma função subjetiva do dever como respeito pelas pessoas” (CASSIANO, J. M.).

 

Então devemos agir para com a Loja, os IIr, e a sociedade com boas intenções sem olhar a quem, sem interesses mundanos ou medos irracionais. Praticar ações que se enquadrem na Lei Universal com Boa Vontade e que não existam possibilidades hipotéticas. “Age sempre de maneira a tratares a humanidade em ti e nos outros sempre ao mesmo tempo como um fim e jamais como um simples meio” (DE OLIVEIRA, L. E. C.)

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

Ritual do Grau 4 – Mestre Secreto – Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria pra a República Federativa do Brasil.

CASSIANO, J. M. Sobre a Moral do Dever-Ser de Kant: Escolha da Moral do Dever-Ser e Garantias para poder-Acontecer. UnB, 2022.

DE OLIVEIRA, L. E. C. Dever Moral e Consciência Moral, Departamento de Direito – UFRN.

 

Breves considerações

Por Hiran de Melo

A razão, muitas vezes vista como instrumento frio de julgamento e lógica, revela-se, quando bem compreendida, como uma ponte viva entre o discernimento ético e a dimensão espiritual do ser. Inspirados pelas reflexões de Jean-Yves Leloup e Hermes Mariz Reinaldo Gomes, somos convidados a enxergar a razão não como inimiga da escuta interior, mas como aliada do silêncio, da contemplação e da presença.

Na tradição kantiana, conceitos como Boa Vontade, Dever e Autonomia estruturam o edifício moral. Contudo, ao serem revisitados sob uma lente mais profunda — que inclui o pensamento de Heidegger — esses pilares ganham nova vida como expressões de uma consciência desperta, que busca não apenas cumprir normas, mas habitar o mundo com autenticidade.

A razão, nesse contexto, é mais que lógica: é logos encarnado, palavra viva, expressão do mistério que habita cada ser. Ela pode acolher, respirar e se abrir ao sagrado. Quando permeada pelo coração, torna-se flexível, capaz de escutar o invisível e de se deixar tocar pelo mistério. Como afirma Leloup, “a verdadeira inteligência é aquela que sabe unir o coração e o espírito”.

A ética deixa de ser apenas o cumprimento do dever e torna-se cuidado — consigo, com o outro, com o mundo. Cada gesto ético é uma vela acesa no templo interior, onde o humano se encontra com o divino. A Loja, nesse sentido, transcende o ritual: é espaço de revelação, onde o silêncio vale tanto quanto a palavra, e onde o agir moral é também comunhão.

A luz do Templo não é apenas o clarão do raciocínio, mas a claridade do ser que se reconhece como parte de uma totalidade. É a chama interior que se acende quando a razão se faz morada do Ser. O maçom que age com Boa Vontade, sem interesses ocultos, e pratica o bem “sem olhar a quem”, inspira com seu exemplo de vida em movimento — não por imposição, mas por coerência com sua essência.

Este é o convite: transformar-se, iluminar o caminho e inspirar. Que cada escolha consciente seja um passo rumo à autenticidade, e que a razão, respirando junto ao coração, revele o verdadeiro sentido de estar no mundo.

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