Por Justino Vieira Filho – Mestre Secreto
1.
Introdução – A Luz que Ilumina o Caminho
Um
dos objetos centrais na decoração do templo maçônico para os trabalhos no grau
de Mestre Secreto é o icônico candelabro místico. Sua simbologia remonta às
mais antigas civilizações e costumes, estando presente nas mais diversas
culturas e em especial nos povos de formação judaica.
Sua
função no templo, certamente não é a de objeto de adorno ou meramente ritualístico,
mas se constitui em verdadeiro símbolo de reflexão interior, como nos ensina
Hiran de Melo em seus apontamentos.
As
sete chamas acesas, carregam os mistérios do número 7, cuja presença nas leis
que regem o plano físico e metafisico parecem influenciar a humanidade, senão
vejamos: são sete, os dias da semana, as notas musicais, as cores do arco-íris,
as virtudes (cardeais e teologais) o os planetas conhecidos na antiguidade.
Noutras
palavras, poderíamos dizer que o candelabro possui a capacidade de funcionar
como chave de portais para a investigação da condição humana, servindo como
iluminação desse caminho maçônico.
2. A Harmonia Setenária – Entre o Cosmos e a Consciência
Tradicionalmente,
o Candelabro é associado à ordem cósmica, simbolizando os astros que regiam os
antigos calendários e a percepção de um universo ordenado. No entanto, para o
maçom, este símbolo vai além da astronomia antiga: cada chama representa o
estado da consciência. Sobre esse ponto, Albert Pike pontuou:
“A chama é o vestígio visível da centelha
interior, que jamais deve ser abafada”.
A
jornada maçônica pode ser compreendida como a passagem da escuridão da
ignorância para a luz do conhecimento e da sabedoria.
3. A Perspectiva Filosófica –
Kant e a Imaginação Moral
Immanuel
Kant, em sua crítica à metafísica mística, alerta que símbolos como o
Candelabro não devem ser tomados como revelações de verdades absolutas. Para
ele, tais imagens possuem um valor estético e moral, estimulando a razão
prática e o cultivo da consciência ética.
Assim,
o número sete, embora não revele mistérios ocultos de forma objetiva, é uma
metáfora poderosa que desperta no maçom o senso de harmonia e de dever moral. O
símbolo é válido quando desperta a ação justa e reta.
4. Sete Luzes, Sete Virtudes –
A Escada da Iluminação
Propomos
a seguir, uma leitura simbólica do Candelabro, em que cada uma de suas luzes
representa uma virtude a ser cultivada pelo maçom:
1.
Prudência – o discernimento diante das escolhas;
2.
Justiça – dar a cada um o que lhe é devido;
3.
Temperança – o equilíbrio entre os desejos e a razão;
4.
Coragem– a força de enfrentar as adversidades;
5.
Sabedoria – o conhecimento aliado à experiência;
6.
Compaixão – o cuidado com o próximo;
7.
Integridade – a coerência entre palavra e ação.
Nesse
contexto, cada luz pode ser interpretada como sendo um degrau da escada
iniciática, conduzindo o maçom rumo à verdadeira iluminação interior.
5. O Candelabro como Espelho
Interior
Dentro
do Templo, o Candelabro ilumina o espaço físico. Mas em sua dimensão simbólica,
ele ilumina também a alma do iniciado.
A
partir dessa afirmativa, poderíamos considerar que cada ser humano possui uma
luz ou chama interior que representa uma energia vital (física) e, ainda uma
energia espiritual (metafísica), cuja manutenção é primordial para o equilíbrio
entre os que os filósofos da antiguidade designavam macrocosmo (mundos
celestes) e microcosmo (individuo humano, animal, vegetal e mineral).
Em
seus estudos, (MELO, Hiran de) analisou da seguinte maneira:
“O Candelabro Místico representa a luz que
cada maçom deve acender dentro de si. Essa luz não é para ser guardada, mas
compartilhada — com os irmãos, com a sociedade, com o mundo.
Viver as virtudes é a verdadeira
iniciação. A iluminação não é um ponto final, mas um caminho contínuo. E cada
chama acesa é um passo rumo à construção do Templo interior, onde habita a
consciência desperta e a fraternidade verdadeira”.
A
propriedade física de reflexão da luz nos convida a imaginar que ora podemos
funcionar como pontos emissores de luz, ora como meros refletores da luz
emanada por fontes externas, agindo como espelhos. Nessa dupla capacidade,
estaria, ao nosso entende, a essência do crescimento moral do ser humano, num
processo continuo de aprendizagem em que a luz do conhecimento se propagada e
após, sucessivas reflexões espelhadas nos conduz a um caminho mais iluminado e
seguro.
6. Conclusão – A Luz que Deve
Ser Compartilhada
O
Candelabro Místico nos recorda que a verdadeira iniciação não se dá apenas nos
ritos, mas na vida cotidiana. Cada chama é um chamado à prática das virtudes e
ao fortalecimento da consciência moral.
Iluminar-se
é apenas o começo. O passo seguinte é
compartilhar essa luz com os irmãos, com a sociedade e com a humanidade.
Assim,
o Candelabro é mais que símbolo: é guia, espelho e convite à construção de um
mundo mais justo, fraterno e luminoso.
BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA
ANATALINO, João. Conhecendo a Arte Real: a
maçonaria e suas influencias históricas e filosóficas. São Paulo:Madras, 2007
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura.
Tradução de Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger. 3. ed. São Paulo: Nova
Cultural, 1987. (Coleção Os Pensadores).
MELO, Hiran de. Coletâneas disponíveis em https://pazeamorloja0225.blogspot.com
PIKE, Albert. Moral e Dogma do Antigo e Aceito
Rito Escocês da Maçonaria. Tradução de Joaquim Gervásio de Figueiredo. 3. ed.
Rio de Janeiro: Editora Maçônica “A Trolha”, 1996.
Breves considerações
Por Hiran de Melo
O
texto de Justino Vieira Filho sobre o Candelabro Místico é mais do que uma
reflexão simbólica — é um chamado à ação, à presença e à transformação. Ao
transcender sua função ritualística, o candelabro se revela como uma metáfora
viva da condição humana: um mapa interior que orienta o iniciado em sua jornada
ética, espiritual e relacional.
Sete Chamas, Sete Virtudes, Um Caminho
Com
suas sete luzes, o candelabro representa virtudes universais — prudência,
justiça, temperança, coragem, sabedoria, compaixão e integridade — que não são
apenas degraus de uma escada iniciática, mas modos de ser no mundo. Inspirado
pelas visões de Zygmunt Bauman e Jean-Yves Leloup, o texto nos convida a
encarnar essas virtudes no cotidiano, como forma de resistência à liquidez das
relações e à instabilidade dos valores modernos.
Bauman
nos lembra que, em tempos de incerteza, a identidade não é algo fixo, mas um
processo contínuo de reconstrução. Já Leloup aponta que o sagrado não está no
que é separado do mundo, mas no que é vivido com sentido. Assim, o candelabro
torna-se ponto de ancoragem e espelho interior — uma estrutura simbólica que
nos ajuda a habitar o mundo com mais presença, escuta e empatia.
A Luz Que Se Compartilha
A
chama não grita, ela sussurra. E é nesse sussurro que o ser humano desperta
para o que nele é essencial, eterno, luminoso. A luz que se acende não é para
ser guardada, mas compartilhada — como o amor, como a sabedoria, como a
presença. Somos ora emissores, ora refletores de luz, e essa dinâmica nos
convida a inspirar com o exemplo, a fortalecer os laços de amizade,
solidariedade e compaixão entre os seres humanos.
Iniciação como Forma de Habitar o Mundo
A
verdadeira iniciação não ocorre apenas nos ritos, mas na prática cotidiana das
virtudes. É uma forma mais profunda de habitar o mundo, com humildade e
abertura. O candelabro, nesse sentido, não aponta para um mistério distante,
mas para uma realidade íntima — a luz que já brilha em nós e que pode iluminar
o caminho dos outros.
Um Convite à Transformação
Em
tempos incertos, o Candelabro Místico se revela como farol, guia da conduta e
espelho da alma. Ele nos convida a transformar nossa vida em movimento, a
sermos presença que inspira, a cultivarmos vínculos que resistem ao colapso do
sentido. Como diria Bauman, “a luz que buscamos não está no fim do túnel, mas
na forma como escolhemos caminhar por ele”. E como lembra Leloup, “a iniciação
não é uma fuga do mundo, mas uma forma mais profunda de nele habitar”.
Que
cada chama acesa em nós seja um gesto de amizade, um ato de empatia, uma
semente de solidariedade. Que sejamos luz — não por sermos perfeitos, mas por
escolhermos iluminar, mesmo em meio à escuridão.
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