Por Mestre Melquisedec
O poema “Cântico do Mestre Secreto”, de Jivago de Azevedo Chaves, e a análise filosófica de Hiran de Melo formam um diálogo profundo entre poesia e pensamento. Ambos revelam que o verdadeiro caminho iniciático não se encontra na exterioridade dos rituais, mas na interioridade silenciosa do ser.
O Simbólico e o Secreto
Jivago abre sua obra distinguindo o visível do essencial: após o simbólico, está o secreto. Hiran interpreta esse verso como o convite à transvaloração nietzschiana — ir além das formas herdadas e buscar o sentido vivo da existência. O Mestre Secreto não se prende ao véu das aparências; ele desvela o que é real.
O Espírito Livre e o Silêncio
A imagem do “espírito livre que aceita calar” ecoa diretamente o Nietzsche estudado por Scarlet Marton: o sábio que não precisa da aprovação externa, pois já encontrou sua força interior. O silêncio não é ausência, mas plenitude. Para o iniciado, é o sinal de que servir é também renascer.
A Missão sem Vaidade
O poema rejeita honrarias e glórias terrenas. Hiran mostra que aqui se encontra a crítica nietzschiana aos valores decadentes da sociedade. O Mestre Secreto não busca reconhecimento, mas fidelidade à missão. Sua vitória não reluz em vaidade, mas em verdade — a autossuperação que Nietzsche chama de criação de novos valores.
O Templo do Ser
O “templo” não é de pedra, mas de carne e espírito. O Mestre constrói em si mesmo, com silêncio e trabalho, uma obra que não se desfaz. Hiran associa esse trecho ao ideal do Além do Homem: aquele que cria sentido onde os outros veem vazio, que integra dor e superação como parte da vida criadora.
O Mestre como Símbolo do Além-do-Homem
Em síntese, o Mestre Secreto é a imagem poética do ser que se torna o que é. Sua discrição, constância e humildade refletem o espírito livre nietzschiano. Ele não se acomoda nos valores herdados, mas ousa construir os seus próprios, vivendo como uma obra de arte silenciosa e fiel à essência.
Conclusão
O cântico de Jivago e a análise de Hiran de Melo convergem para um mesmo ponto: o Mestre Secreto é o arquétipo do iniciado que, guiado pela luz interior, supera o ego e a vaidade, tornando-se guardião da verdade. Sua caminhada é discreta, mas grandiosa; silenciosa, mas plena de sentido.
Cântico do Mestre Secreto
Por
Jivago de Azevedo Chaves
Após o simbólico está o secreto,
descalço na terra, simples no passo.
Caminha quem sabe que é leve o espaço
do espírito livre que aceita calar.
No templo velado pela luz interior,
ecoa um chamado sem voz nem clamor.
Não busca honrarias, nem glórias
terrenas,
mas sim a verdade, em sendas serenas.
Guardião do segredo, com lume na mão,
vigia em silêncio com firme atenção.
Humilde é o servo que fiel à missão,
rege-se pela luz e pela razão.
Discrição: seu manto sagrado.
Constância: martelo do obreiro elevado.
Com passos discretos, honrando o dever,
sabendo que servir é também renascer.
No templo do ser, o Mestre constrói
com silêncio e trabalho o que nunca se
dói.
A vitória aqui não reluz em vaidade,
mas brilha em silêncio em pura verdade.
Análise estilística e filosófica do poema "Cântico do Mestre Secreto”
Por Hiran de Melo
Introdução
O poema “Cântico do Mestre Secreto” de Jivago de Azevedo Chaves é um texto poético de profundo valor simbólico e filosófico, especialmente quando lido dentro da tradição iniciática maçônica. Sua estrutura lírica e seu conteúdo remetem ao ideal do iniciado silencioso, que trilha o caminho do autoconhecimento e da superação interior. Podemos compreender melhor essa caminhada à luz do pensamento de Friedrich Nietzsche, conforme interpretado pela filósofa brasileira Scarlet Marton, que destaca o Nietzsche que valoriza a vida, a criação de si mesmo e a superação dos valores prontos.
Estilo: Simplicidade e Profundidade
O estilo do poema é direto, porém simbólico. Utiliza uma linguagem acessível, mas com uma camada densa de significados. O uso da métrica fluida, da sonoridade discreta e da imagem simbólica – como "luz interior", "servo fiel", "templo do ser" – constrói um ambiente iniciático e contemplativo. O tom é humilde, mas firme, ecoando o silêncio respeitoso do verdadeiro buscador.
O texto evita o brilho do ego. Em vez de exaltar feitos visíveis, louva o serviço silencioso e o compromisso interno. Assim, o poema honra o papel do Mestre Secreto: aquele que opera no invisível, guiado não pelo aplauso, mas pela verdade.
Filosofia: Nietzsche como guia do espírito livre
Friedrich Nietzsche propõe, em sua filosofia, a ideia do espírito livre – aquele que rompe com os dogmas, com a moral imposta e busca criar novos valores a partir de si mesmo. Para Scarlet Marton, Nietzsche não é um niilista que destrói tudo, mas alguém que propõe um caminho de transvaloração: superação dos antigos valores e criação de um novo modo de ser.
Vejamos agora como esses elementos aparecem no poema:
1. “Após o simbólico está o secreto”
Aqui temos uma distinção clara entre o que é visível e o que é essencial. Isso ecoa Nietzsche quando ele critica os valores herdados e superficiais da sociedade – aquilo que parece ter valor, mas não tem profundidade. O caminho do Mestre Secreto, então, começa quando o maçom vai além das formas e rituais e busca o verdadeiro sentido da existência.
2. “Caminha quem sabe que é leve o espaço / do espírito livre que aceita calar”
Essa imagem do “espírito livre” que caminha em silêncio é nitidamente nietzschiana. O verdadeiro sábio, para Nietzsche, não precisa da aprovação dos outros. Ele encontra força em sua própria interioridade. O silêncio aqui não é ausência de fala, mas presença plena de consciência.
Para o maçom, isso significa agir com retidão mesmo quando ninguém vê – porque já se tornou luz para si mesmo.
3. “Não busca honrarias, nem glórias terrenas”
O poema rejeita os valores comuns da sociedade (status, glória, reconhecimento). Nietzsche chama isso de valores decadentes, criados por uma moral que domestica o homem. O Mestre Secreto segue outro caminho: busca a verdade, a elevação do ser, mesmo que isso não lhe traga reconhecimento social.
Isso nos leva ao ideal do além-do-homem (Übermensch), aquele que cria sentido mesmo onde os outros só veem vazio.
Para Scarlet
Marton, a maior vitória nietzschiana é viver como uma obra
de arte, silenciosamente bela e profundamente fiel à sua essência.
Em suma, o “Mestre Secreto” é uma imagem poética daquele que realiza o ideal nietzschiano: o ser que se torna o que é, silenciosamente, guiado não pela vaidade, mas por uma luz interior. Sua discrição, constância e fidelidade à missão ecoam o espírito livre que Nietzsche tanto valorizava – e que Scarlet Marton nos ajuda a compreender como alguém que não se acomoda com os valores herdados, mas ousa construir os seus próprios.
Hiran de Melo - Presidente da Excelsa Loja de Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.
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