Um Chamado à Perfeição Interior em
Tempos de Antropoceno
Por Hiran de Melo
Pacíficos e Amados Irmãos,
Entramos no século XXI sob uma condição inédita:
tornamo-nos uma força capaz de alterar o destino do planeta. Vivemos no
Antropoceno — era de transformações geológicas produzidas pela ação humana, mas
também tempo de desorientação profunda, em que a abundância de informação
convive com um vazio interior crescente.
Se nossas mãos moldam o mundo com tanto poder, é
urgente moldar também aquilo que somos. É nesse ponto que o Grau 5 – Mestre
Perfeito revela sua extraordinária atualidade:
Ø Não é um
degrau, mas um portal;
Ø Não é um
título, mas uma missão;
Ø Não é
chegada, mas despertar.
1. O Testemunho de um Despertar
No limiar do Grau 5, compreendi que não avançava
apenas na Ordem — descia às fundações do próprio ser. O Sanctum Sanctorum
se mostrou menos espaço físico e mais estado de consciência, onde Hiram não é
lenda, mas metáfora viva da dor, da esperança e das reconstruções que realizo
em mim.
O coração embalsamado do Grau reflete meu próprio
coração: ferido e resiliente.
A espada sobre o peito e a corda ao pescoço não apontam inimigos externos, mas
os “assassinos” interiores que ainda me habitam: orgulho, vaidade, ignorância.
E ali compreendi, com nitidez luminosa: o templo
a ser reconstruído não é o de Salomão — sou eu.
2. A Perfeição como Jornada
Albert Pike ensina que a perfeição moral é a
verdadeira pedra angular do templo interior. Não se trata de atingir um estado
inalcançável, mas de refinar continuamente a consciência, transformando dor em
sabedoria e queda em aprendizado.
Para Pike, o Mestre Perfeito é aquele que:
Ø Converte
o luto em conhecimento,
Ø Transforma
a perda em propósito,
Ø Compreende
que a dor não é castigo, mas mestra.
Os símbolos do Grau tornam-se faróis nessa
travessia:
O Túmulo de Hiram — morte
da ignorância, renascimento da consciência.
O Ramo de Acácia — esperança, ressurreição, permanência espiritual.
A Pedra com a Letra Yod — centelha divina que cada homem carrega e é
chamado a manifestar.
No Antropoceno — tempo de crises, excesso e
fragilidade — esses símbolos soam ainda mais urgentes. Reconstruir o mundo
começa por reconstruir o íntimo.
3. Leituras Filosóficas: Ampliando o
Caminho
Como aponta o pensamento contemporâneo, vivemos num
ambiente saturado de estímulos e pobre em sentido. Os símbolos do Grau 5,
porém, devolvem profundidade ao olhar.
O Encontro com o Eu Interior
Atravessar o Grau é migrar do superficial ao
essencial. Nietzsche recorda que a sombra precisa ser reconhecida, integrada,
transmutada — não condenada. O Mestre Perfeito é artesão dessa transmutação.
A Busca pela Perfeição Moral
Para Pike, ela nasce da experiência; para Kant, do
dever racional. No Grau, essas duas correntes se encontram: disciplina e
sensibilidade, rigor e ternura, ética e imaginação.
O Significado dos Sonhos
Kant vê na imaginação a ponte entre visível e
invisível; Heidegger ensina que o sagrado é abertura ao Mistério. Assim, os
sonhos do Grau não são ilusões — são possibilidades, arquiteturas de futuro.
Maçonaria como Missão Existencial
Ser Mestre Perfeito é viver como exemplo: cada ato
ergue ou fere o templo interior — e, no Antropoceno, cada ato humano repercute
também no planeta.
4. Um Chamado ao Antropoceno:
Iluminar para Transformar
O Antropoceno exige mais do que consciência
ambiental; exige preservação interior, elegância moral, simplicidade de
vida e profundidade de alma.
Enquanto o mundo se debate entre excesso,
algoritmos invasivos, brutalidade estética e solidão crescente, o Mestre
Perfeito é chamado a ser contracorrente:
Ø Agente de
cura, não de feridas;
Ø construtor
de pontes, não de muros;
Ø irradiador
de silêncio, não de ruído.
Somos convocados a:
Ø Respeitar
o sofrimento do outro,
Ø Honrar a
religiosidade de cada ser,
Ø Cultivar
a espiritualidade discreta e profunda,
Ø Viver com
simplicidade elegante,
Ø Reconstruir
o mundo começando pelo próprio ser.
O Mestre Perfeito não é quem alcançou a perfeição, mas quem aceita
ser aperfeiçoado.
Exortação Fraterna
Ao alcançar o Grau 5 testemunhas tua dedicação. Mas
este Grau não encerra a jornada: alarga-a.
Ele é convite, tarefa, destino.
Que você continue:
Ø Iluminando
caminhos com o peso leve do exemplo;
Ø Sendo
abrigo para quem sofre;
Ø Honrando
a fé, a dor e a esperança alheias;
Ø Vivendo a
espiritualidade silenciosa que pulsa no coração;
Ø Reconstruindo,
dia após dia, o templo invisível da alma — seu e do mundo.
Porque o futuro do planeta, da humanidade e da
própria Maçonaria precisa de homens que brilhem mais pelo ser do que
pelo ter; mais pelo amor do que pela imposição; mais pela compaixão
do que pelo poder.
Hiran de Melo, Grau 33
Presidente
da Excelsa Loja de Perfeição “Paz e Amor”
Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba – Primeira Região
Supremo Conselho do Grau 33 do REAA – Brasil
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