GRAU 10 – Cavaleiro Eleito dos Quinze: Visões Filosóficas

 

Por Hiran de Melo

 

Agora vamos mergulhar nesse rico texto de instrução sobre o Grau 10 do Rito Escocês Antigo e Aceito (*), interpretando-o à luz do pensamento de Michel Foucault, especialmente a partir de seus conceitos centrais: discurso, poder, saber, disciplina e subjetivação. A análise que segue busca justamente abrir um novo plano de reflexão — não no sentido de confrontar o conteúdo maçônico, mas de lançar luz sobre as dinâmicas simbólicas e formativas que operam nesse tipo de narrativa e prática ritual.

 

1. O discurso ritual como tecnologia de poder e verdade

 

Foucault nos ensina que o discurso — longe de ser apenas um meio de transmissão de conhecimento — é uma forma de exercer poder. No texto apresentado, vemos um exemplo clássico de discurso regulador, que:

 

Define quem pode falar (Mestre Pike como autoridade moral e simbólica);

Determina o que pode ser dito (a verdade do Grau 10, seus símbolos, seus valores);

E orienta como o sujeito deve se comportar (o iniciado como “instrumento da Justiça Divina”).

 

A advertência inicial — “sem apresentar nossa posição crítica” — é, paradoxalmente, uma forma sofisticada de autorizar o discurso. É o que Foucault chama de formação discursiva autorizada, em que a neutralidade funciona como um ato de legitimação: o que está sendo transmitido deve ser aceito como válido e merecedor de reflexão.

 

2. A construção do sujeito ético: disciplina e subjetivação

 

Foucault dedicou grande parte de sua obra à análise de como os sujeitos são formados por práticas sociais, morais e discursivas. No texto, o iniciado é modelado como um sujeito ético por meio de um processo de subjetivação:

 

O verdadeiro iniciado é aquele que se torna um instrumento da Justiça Divina...”

 

Essa frase concentra o que Foucault chamaria de uma tecnologia do eu: o sujeito é ensinado a vigiar a si mesmo, a combater seus próprios “inimigos internos” (egoísmo, ignorância, mentira). Ou seja, a ordem iniciática opera como uma pedagogia da disciplina interna, onde o iniciado incorpora o poder não como repressão externa, mas como autocontrole moral.

 

Essa dinâmica é típica das instituições modernas (prisão, escola, exército, etc.), onde o poder é mais eficaz quando atua de dentro para fora — e aqui, a maçonaria participa disso por meio de seus graus, símbolos e rituais.

 

3. Justiça como dispositivo de normalização

 

O texto associa o enredo do Grau 10 à ideia de justiça racional e equilibrada — contraposta à vingança emocional. No entanto, para Foucault, a justiça aqui não pode ser entendida de forma abstrata, mas como um dispositivo de normalização:

 

Os “assassinos de Hiram” tornam-se símbolos de tudo aquilo que deve ser excluído, corrigido, punido.

 

O iniciado, ao assumir o papel de juiz, assume também a responsabilidade moral de ser exemplo.

 

Essa posição reforça hierarquias simbólicas internas, distinguindo os “aptos” dos “não aptos”, os “puros” dos “impuros”.

 

A espada (coragem) e a capa verde (esperança) são elementos performativos do poder simbólico, que atribuem ao sujeito a função de defensor da verdade — um poder moral que justifica a disciplina e a punição como atos de redenção.

 

4. Albert Pike como operador do saber legítimo

 

A citação extensa e elogiosa de Mestre Pike não é mero recurso retórico: é uma análise de autoridade epistêmica no sentido foucaultiano. Mestre Pike é apresentado como o guardião do saber dentro do campo maçônico. Sua palavra se torna norma interpretativa, fundando um regime de verdade para o Grau 10.

 

Foucault lembraria que quem controla o saber, controla o discurso, e quem controla o discurso, governa os sujeitos.

 

Assim, o texto não apenas transmite conhecimento, mas modela o campo do possível: delimita o que se pode pensar, sentir e dizer sobre o grau, abrindo espaço para a reflexão, mas dentro de uma moldura previamente autorizada.

 

5. O Grau 10 como dispositivo de formação do sujeito moral

 

Reunindo todos esses elementos, podemos compreender o Grau 10 como aquilo que Foucault chamaria de dispositivo — um conjunto de discursos, símbolos, práticas e funções que produzem sujeitos segundo uma lógica de poder.

 

O dispositivo do Grau 10 não visa apenas instruir, mas moldar comportamentos, gerar modos de ser e pensar.

A “retidão”, a “justiça”, a “luta contra o mal interior” são formas de autogestão da conduta, promovidas por uma lógica de governamentalidade ética.

 

6. O Grau 10 como prática de poder e produção de verdade

 

A partir de Foucault, podemos ver que o texto do Grau 10 (*), mesmo em seu tom reflexivo e didático, atua como um operador de poder simbólico. Ele organiza o saber maçônico de forma a produzir um sujeito idealizado, governado por um código moral interiorizado, legitimado por uma autoridade textual (Mestre Pike) e encenado em rituais que exercem disciplina sobre a alma.

 

Para Foucault, esse processo não é negativo em si — mas é importante tornar visível como o poder age, inclusive nas formas mais sutis e elevadas de saber espiritual.

 

(*) Referência Bibliográfica e de leitura obrigatória para entender o presente trabalho.

GRAU 10 – Cavaleiro Eleito dos Quinze, veja no link

https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/04/inspetoria-liturgica-do-estado-da_16.html

 

Anexo: Algumas palavrinhas a mais: Reflexão Filosófica sobre o Grau 9 à Luz de Grandes Pensadores

 

Análise Filosófica Complementar do GRAU 10 – Cavaleiro Eleito dos Quinze

 

À luz de Foucault, Nietzsche, Kant, Deleuze e Bourdieu

 

1. Nietzsche (1) Moral da Vingança ou Moral da Superação?

 

Friedrich Nietzsche faria uma crítica contundente à moral do Grau 10. Para ele, quando a justiça é usada para substituir a vingança, isso pode esconder um ressentimento disfarçado de virtude — uma moral que nasce da dor, da fraqueza e da necessidade de compensar o sofrimento.

 

Quando o iniciado transforma a dor e a injustiça que sofreu em uma "missão moral", pode estar praticando o que Nietzsche chama de ressentimento: em vez de criar novos valores, ele apenas reage ao erro dos outros.

 

O Cavaleiro que combate o mal (dentro ou fora de si) corre o risco de negar a vida e reprimir sua verdadeira força — sua vontade de potência.

 

Nietzsche valoriza outro tipo de justiça: aquela que surge da superação pessoal, da criação de novos valores e da afirmação da própria existência.

 

Nietzsche:Aquele que luta com monstros deve cuidar para não se tornar também um monstro”.

 

Conclusão Nietzscheana: O Grau 10 pode ser engrandecedor se incentivar o autoconhecimento e a força criativa do iniciado. Mas pode ser limitador se transformar a busca por justiça em uma moral de punição, que bloqueia o crescimento e a autenticidade pessoal.

 

2. Kant (2) Justiça como Dever Moral Interno

 

Immanuel Kant, ao contrário de Nietzsche, veria no Grau 10 uma bela expressão do dever moral e da autonomia da razão. Para ele, o verdadeiro valor da ação está na intenção, não nas consequências.

 

O iniciado do Grau 10 é chamado a agir por dever, e não por medo ou desejo de vingança — isso está em perfeita sintonia com o que Kant chama de imperativo categórico.

A expressão “instrumento da Justiça Divina” pode ser entendida como símbolo da lei moral que habita dentro de cada um.

 

A justiça racional, sem ódio ou raiva, representa o ideal kantiano de uma moral baseada na razão prática.

 

Kant:Age de tal maneira que possas querer que a tua ação se torne uma lei universal”.

 

Conclusão Kantiana: O Grau 10 fortalece o crescimento moral do iniciado ao substituí-lo por uma conduta ética guiada pela razão. Ele afirma a dignidade humana como liberdade de obedecer à própria consciência.

 

3. Deleuze (3) Rituais que Moldam ou Libertam?

 

Gilles Deleuze traria uma visão crítica e ousada sobre os rituais do Grau 10. Para ele, os rituais e os discursos simbólicos podem tanto ajudar na formação do sujeito, como também moldá-lo demais, impedindo que ele crie novas formas de ser.

 

A repetição de símbolos e condutas estabelece modelos fixos de comportamento: dizem como o iniciado deve pensar, agir e sentir.

 

Deleuze se perguntaria: o iniciado está sendo formado ou apenas formatado?

 

Para ele, a verdadeira ética está na liberdade de experimentar, de fugir dos moldes prontos e inventar novas formas de viver.

 

Deleuze:A verdadeira ética é a experimentação da vida”.

 

Conclusão Deleuziana: O Grau 10 pode libertar o iniciado se permitir que ele crie sua própria interpretação e vivência do rito. Mas pode aprisioná-lo, se transformar o caminho simbólico em uma engrenagem rígida, onde não há espaço para a singularidade.

 

4. Bourdieu (4) O Grau como Espaço de Poder Simbólico

 

Pierre Bourdieu analisaria o Grau 10 como um espaço de poder simbólico, onde saberes, rituais e tradições constroem prestígio, distinção e hierarquia.

 

A reverência a Mestre Pike mostra que quem domina o saber, domina o grupo. Seu discurso se torna referência, padrão de verdade dentro da Maçonaria.

 

Símbolos como a espada, a capa verde e os juramentos são mais que rituais: são marcadores de pertencimento e instrumentos de valorização social.

 

Ao praticar esses ritos, o iniciado incorpora um modo de pensar e agir — o chamado habitus maçônico — que reforça a identidade e a estrutura interna da Ordem.

 

Bourdieu:O poder simbólico é aquele que faz com que o arbitrário pareça natural”.

 

Conclusão Bourdieusiana: O Grau 10 transmite conhecimento, mas também seleciona, distingue e legitima posições dentro da Maçonaria. Reforça uma hierarquia simbólica baseada na tradição e no domínio de certos saberes.

 

Síntese Final: Leitura Comparada do Grau 10

Autor

Ideia Central

Leitura sobre o Grau 10

Foucault

Discurso como poder e formação do sujeito

Molda sujeitos morais por meio de rituais e saberes autorizados

Nietzsche

Crítica à moral da culpa; afirmação da potência

Pode limitar a força criativa se virar moral de punição

Kant

Dever moral e razão autônoma

Realça a liberdade interior e a ética da consciência

Deleuze

Subjetivação e linhas de fuga

Ritual pode libertar ou aprisionar, conforme o espaço para singularidade

Bourdieu

Capital simbólico e distinção social

Rituais reforçam pertencimento e hierarquias simbólicas

 

Advertência

 

A jornada do Cavaleiro Eleito dos Quinze é rica em significados, e as interpretações filosóficas aqui reunidas não pretendem desconstruir os ensinamentos do Grau, mas ampliá-los.

 

Como obreiros do Templo do Espírito, temos o dever de refletir, questionar e aprofundar o sentido da nossa prática.

 

O Grau 10 nos convida a ser juízes de nós mesmos, mas também criadores conscientes do mundo ao nosso redor — com coragem, sabedoria, liberdade e responsabilidade.

 

Que essas reflexões nos ajudem a iluminar ainda mais o caminho do autoconhecimento e da justiça verdadeira.

 

Se o amado irmão deseja estudar mais um pouco, apresento a seguir análises, à luz de grandes filósofos, detalhas do texto “GRAU 10 – Cavaleiro Eleito dos Quinze” (*). Boas leituras e bons estudos desejo a todos.

 

(1) GRAU 10 – Cavaleiro Eleito dos Quinze - análise do texto na visão de Friedrich Nietzsche

 

Friedrich Nietzsche foi um filósofo alemão que questionou profundamente as tradições morais e religiosas da sociedade ocidental. Ele propôs uma nova abordagem ética baseada na afirmação da vida, na autossuperação e na valorização do corpo.

 

1. Moralidade e Corpo

 

Nietzsche acreditava que a moralidade tradicional muitas vezes negava ou reprimia os instintos naturais do corpo humano. Ele propôs uma "moralidade do corpo", onde os valores éticos seriam baseados na saúde, vitalidade e autossuperação do indivíduo. Segundo Nietzsche, a moralidade efetiva do homem na vida de seu corpo é muito mais profunda e complexa do que as normas morais tradicionais.

 

2. Autossuperação e Vontade de Poder

 

Nietzsche introduziu o conceito de "vontade de poder", que é a força fundamental que impulsiona o indivíduo a crescer, se afirmar e superar limitações. Ele acreditava que o verdadeiro valor de uma pessoa é medido pela sua capacidade de se autossuperar e criar seus próprios valores, em vez de seguir normas impostas externamente.

 

3. Crítica à Moralidade Tradicional

 

Nietzsche criticava a moralidade tradicional por promover valores como humildade, submissão e negação dos instintos. Ele via essas virtudes como formas de repressão que impedem o florescimento pleno do indivíduo. Em vez disso, ele defendia valores como coragem, honestidade consigo mesmo e a busca pela excelência pessoal.

 

Grau 10 do REAA à Luz de Nietzsche

 

 

Ao aplicar os conceitos de Nietzsche ao Grau 10 do REAA, podemos perceber uma consonância interessante.

 

Busca pela Justiça e Autossuperação

 

O Grau 10 enfatiza a importância da justiça, não apenas como uma imposição externa, mas como um reflexo da autossuperação e da busca pela verdade interior. Isso ressoa com a ideia de Nietzsche de que a verdadeira moralidade vem da afirmação da vida e da superação pessoal.

 

Combate às Fraquezas Internas

 

A perseguição aos assassinos de Hiram Abiff simboliza a luta contra as próprias fraquezas, como ignorância e egoísmo. Nietzsche também via a luta contra os próprios defeitos como essencial para o crescimento e a afirmação da vida.

 

Símbolos de Coragem e Esperança

 

A espada e a capa verde representam coragem e esperança, respectivamente. Para Nietzsche, a coragem é uma virtude central na busca pela autossuperação, e a esperança é vista como uma força que impulsiona o indivíduo a transcender suas limitações.

 

Crítica à Hipocrisia e Abuso de Poder

 

O Grau 10 alerta contra a hipocrisia e o abuso de poder, chamando o maçom a melhorar a si mesmo antes de julgar os outros. Nietzsche também criticava a moralidade tradicional por promover valores que, muitas vezes, mascaravam a verdadeira natureza humana e impediam o crescimento pessoal.

 

Por fim

 

À luz da filosofia de Nietzsche, o Grau 10 do REAA pode ser visto como um convite à autossuperação, à afirmação da vida e à criação de valores próprios. Ele propõe uma ética baseada na coragem, na honestidade consigo mesmo e na busca pela excelência pessoal, alinhando-se com os princípios nietzschianos de uma moralidade que emerge do corpo e da vontade de poder.

 

 

(2) GRAU 10 – Cavaleiro Eleito dos Quinze - análise do texto na visão de Immanuel Kant

 

Immanuel Kant foi um filósofo alemão do século XVIII, conhecido por sua ética baseada na razão e na autonomia moral. Segundo Kant, a moralidade não depende de sentimentos ou consequências, mas de princípios racionais universais que todos os seres humanos podem reconhecer e seguir. Ele formulou o "imperativo categórico", que é uma regra ética fundamental: "Age apenas segundo uma máxima que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne uma lei universal". Isso significa que devemos agir de acordo com princípios que poderiam ser aplicados por todos, sem contradição.

 

Grau 10 do REAA à Luz de Kant

 

Ao aplicar os conceitos kantianos ao Grau 10 do REAA, podemos identificar algumas correspondências.

 

Busca pela Justiça e Moralidade

 

O Grau 10 enfatiza a importância da justiça, não apenas como uma imposição externa, mas como uma obrigação moral interna. Isso ressoa com a ideia de Kant de que a moralidade é uma lei que nos impomos a nós mesmos, guiada pela razão.

 

Combate às Fraquezas Internas

 

A perseguição aos assassinos de Hiram Abiff simboliza a luta contra as próprias fraquezas, como ignorância e egoísmo. Para Kant, a moralidade envolve a superação de inclinações egoístas e a adesão a princípios racionais universais.

 

Símbolos de Coragem e Esperança

 

A espada e a capa verde representam coragem e esperança, respectivamente. Para Kant, a coragem é necessária para agir de acordo com o dever moral, e a esperança é uma motivação legítima para seguir princípios éticos, mesmo diante das dificuldades.

 

Crítica à Hipocrisia e Abuso de Poder

 

O Grau 10 alerta contra a hipocrisia e o abuso de poder, chamando o maçom a melhorar a si mesmo antes de julgar os outros. Kant também enfatiza a importância da sinceridade e da integridade moral, considerando a hipocrisia como uma violação do dever ético.

 

Por fim

 

À luz da filosofia de Kant, o Grau 10 do REAA pode ser visto como um convite à prática da moralidade baseada na razão, à busca pela justiça como dever ético e à superação das fraquezas internas por meio da autodisciplina. Ele propõe uma ética fundamentada na autonomia moral, na sinceridade e na integridade, alinhando-se com os princípios kantianos de agir de acordo com máximas que possam ser universalizadas sem contradição.

 

 

(3) GRAU 10 – Cavaleiro Eleito dos Quinze - análise do texto na visão de Gilles Deleuze

 

Pacíficos e Amados Irmãos,

 

O Grau 10 do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), denominado "Cavaleiro Eleito dos Quinze", apresenta uma rica tapeçaria simbólica e moral que ressoa com a filosofia de Gilles Deleuze, especialmente em sua crítica às estruturas rígidas e sua valorização da multiplicidade e da transformação.

 

Ética da Multiplicidade e da Transformação

 

Deleuze distingue entre moralidade e ética. Enquanto a moralidade impõe normas fixas e universais, a ética, para Deleuze, é uma prática de autoformação e transformação contínua, onde o indivíduo busca criar e afirmar sua própria vida e valores. Essa perspectiva ética valoriza a singularidade e a capacidade de reinventar-se constantemente.

 

Grau 10 e a Filosofia de Deleuze

Aspecto do Grau 10

Correspondência com Deleuze

Busca pela justiça

Ação ética como processo de transformação e afirmação da vida

Perseguição aos assassinos de Hiram Abiff

Enfrentamento das forças que limitam a liberdade e a criatividade

Símbolos: espada (coragem) e capa verde (esperança)

Ferramentas para a criação de novas possibilidades e resistências

Ensinamentos sobre moderação e caráter

Prática ética de autoformação e afirmação de valores próprios

Crítica à hipocrisia e abuso de poder

Desafiar estruturas opressivas e buscar novas formas de organização

 

Conexões com o Conceito de Rizoma

 

Deleuze, junto com Félix Guattari, introduz o conceito de rizoma para descrever sistemas de pensamento e organização que são não hierárquicos, descentralizados e abertos a múltiplas conexões. No contexto do Grau 10, a busca pela justiça pode ser vista como uma rede rizomática, onde cada ação ética e simbólica contribui para a criação de novas possibilidades e resistências contra estruturas opressivas.

 

Ética como Prática de Transformação

 

À luz da filosofia de Deleuze, o Grau 10 do REAA nos convida a entender a busca pela justiça não como uma imposição de normas externas, mas como uma prática ética de transformação contínua, onde cada maçom é chamado a criar e afirmar sua própria vida e valores, desafiando estruturas opressivas e buscando novas formas de organização e resistência.

 

Que possamos, portanto, abraçar essa ética da multiplicidade e da transformação, reconhecendo em cada ação simbólica e moral uma oportunidade de afirmar nossa liberdade e criatividade, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e plural.

 

(4) GRAU 10 – Cavaleiro Eleito dos Quinze - análise do texto na visão de Pierre Bourdieu

 

O Grau 10 do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), denominado "Cavaleiro Eleito dos Quinze", apresenta uma narrativa rica em simbolismo e ensinamentos morais. Ao analisá-lo sob a ótica da filosofia de Pierre Bourdieu, podemos aprofundar nossa compreensão sobre as dinâmicas de poder, justiça e transformação pessoal presentes nesse grau.

 

O Habitus e a Busca pela Justiça

 

Pierre Bourdieu introduz o conceito de habitus como um sistema de disposições duráveis que orientam nossas percepções, ações e julgamentos. Essas disposições são adquiridas ao longo da vida, moldadas por nossas experiências e contextos sociais. No contexto do Grau 10, a busca pelos assassinos de Hiram Abiff pode ser vista como uma metáfora para a luta interna do maçom contra suas próprias fraquezas e imperfeições. Essa jornada exige uma transformação do habitus, promovendo uma postura mais justa e ética.

 

Campo, Capital Simbólico e a Maçonaria

 

Bourdieu utiliza o conceito de campo para descrever espaços sociais nos quais indivíduos e grupos competem por recursos e reconhecimento. Dentro da Maçonaria, o campo maçônico é estruturado por valores, rituais e símbolos que conferem prestígio e autoridade aos seus membros. O capital simbólico, nesse contexto, refere-se ao reconhecimento e respeito adquiridos por meio da adesão e vivência desses valores. O Grau 10, ao enfatizar a busca pela justiça e pela verdade, propõe uma revalorização desse capital simbólico, incentivando os maçons a agir com integridade e honra.

 

Violência Simbólica e a Transformação Pessoal

 

A violência simbólica, conceito central na obra de Bourdieu, refere-se à imposição de significados e normas de maneira sutil, muitas vezes sem que os indivíduos percebam. No Grau 10, a luta contra a injustiça e a tirania pode ser interpretada como uma resistência a essa violência simbólica, buscando estabelecer uma ordem mais justa e equitativa. Essa resistência exige uma reflexão crítica sobre as estruturas de poder e a disposição para transformar o habitus em direção a práticas mais éticas e justas.

 

Por fim

 

Ao integrar os conceitos de Bourdieu ao Grau 10 do REAA, somos convidados a refletir sobre como nossas disposições internas (habitus) influenciam nossas ações e percepções no campo maçônico. A busca pela justiça e pela verdade não é apenas uma missão externa, mas uma jornada interna de transformação e autoconhecimento. Esse processo exige uma constante reavaliação de nossas práticas, valores e relações, visando sempre a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.

 

Que possamos, portanto, utilizar os ensinamentos do Grau 10 para promover uma transformação pessoal que reverberará positivamente em nossas ações dentro e fora da Loja.

 

Hiran de Melo – Presidente da Excelsa Loja de Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.

 

(*) Grau 10 – Cavaleiro Eleito dos Quinze, recomendo a leitura para melhor entender o presente trabalho. Veja no link:

https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/04/inspetoria-liturgica-do-estado-da_16.html

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