Grau 13 – Cavaleiro do Real Arco: Visões Filosóficas

 

Por Hiran de Melo

 

O Grau 13 (*) convida o iniciado a descer até as profundezas de si mesmo em busca do Nome Sagrado. Nessa jornada simbólica, Michel Foucault nos ajuda a ver que esse caminho não é apenas espiritual ou filosófico: é também um processo de formação do sujeito.

 

Foucault estudou como as instituições moldam nossa forma de pensar, sentir e agir. A maçonaria, com seus rituais e símbolos, é uma dessas instituições que ajudam a construir quem somos. Ela orienta, disciplina e oferece caminhos para o autoconhecimento — mas também exerce, de maneira sutil, uma forma de poder.

 

1. A Busca Interior como Construção de Si

 

Foucault chamaria a escavação da abóbada interior de uma tecnologia do eu: um conjunto de práticas pelas quais o homem trabalha sobre si mesmo para se transformar.

 

Encontrar o Nome Sagrado, nesse sentido, não é apenas descobrir uma palavra perdida — é aprender a ver a si mesmo de forma mais clara, com verdade, humildade e consciência. A maçonaria oferece ferramentas simbólicas — como o silêncio, a introspecção e o estudo — que permitem ao iniciado realizar essa obra interna.

 

2. A Maçonaria como Espaço de Saber e Poder

 

Para Foucault, saber e poder estão sempre ligados. Toda “verdade” é produzida dentro de um sistema que define o que pode ser lembrado — e o que deve ser esquecido.

 

O Grau 13 apresenta o Nome Sagrado como algo que foi “perdido”. Mas, sob o olhar de Foucault, esse nome foi ocultado por camadas simbólicas, tradições e estruturas sociais. A abóbada escondida representa aquilo que está encoberto — não apenas pela história, mas também pelas regras do discurso e do ritual.

 

Redescobrir o Nome é, então, um ato de desvelamento — uma forma de resistência ao esquecimento, e de reconexão com algo essencial.

 

3. O Nome Sagrado e o Silêncio como Linguagem

 

A impossibilidade de pronunciar o Nome Sagrado tem um significado profundo. Foucault analisou como algumas verdades são ditas, enquanto outras são silenciadas. Nem tudo pode — ou deve — ser falado.

 

Nesse grau, o silêncio não é vazio: é respeito, é cuidado, é sabedoria. Ele protege o sagrado, mas também revela uma estrutura de controle. Ao guardar o Nome, o iniciado entende que nem toda verdade deve ser exposta, pois ao ser dita fora do tempo ou do lugar certo, ela perde sua força.

 

4. Autoconhecimento e Disciplina

 

Para alcançar o Nome Sagrado, o maçom precisa ser disciplinado, vigilante e humilde. Isso reflete o que Foucault chama de poder disciplinar: uma força que atua de dentro para fora.

O iniciado aprende a vigiar seus próprios pensamentos, controlar suas paixões e analisar suas intenções. Ele se torna juiz de si mesmo, não porque alguém o obriga, mas porque ele internalizou os valores da Ordem. Essa vigilância constante é parte da formação de um sujeito ético e consciente.

 

5. O Limite do Saber e a Sabedoria do Silêncio

 

Quando o Grau 13 afirma que o Nome está “além das palavras”, ele toca em uma das ideias centrais de Foucault: todo saber tem seus limites. Existe um ponto onde a linguagem falha, e a experiência começa.

 

Reconhecer que nem tudo pode ser explicado é o início da verdadeira sabedoria. O silêncio do Cavaleiro Real do Arco não é sinal de ignorância, mas de maturidade. É a compreensão de que o mais sagrado não se diz — se vive.

 

O Grau 13 como Escola de Autogoverno

 

Sob a lente de Foucault, o Grau 13 é uma verdadeira escola de autogoverno. Ele ensina o iniciado a moldar a si mesmo com responsabilidade, equilíbrio e consciência. Mas também mostra que esse processo é influenciado por símbolos, tradições e estruturas de poder.

 

O Nome Sagrado, então, não é apenas uma palavra esquecida. Ele representa a parte mais profunda do ser humano, que só pode ser reencontrada quando o homem mergulha no silêncio, na humildade e no trabalho interior.

 

O Nome não é apenas um som, mas um estado de consciência. Não se diz — se descobre”. (Parafraseando Pike, à luz de Foucault)

 

(*) Referência Bibliográfica e de leitura obrigatória para entender o presente trabalho.

Grau 13 – Cavaleiro do Real Arco veja no link

https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/04/inspetoria-liturgica-do-estado-da_51.html

 

Anexo: Algumas palavrinhas a mais: Reflexão Filosófica sobre o Grau 13 à Luz de Grandes Pensadores

 

Análise Filosófica Complementar do GRAU 13 – Cavaleiro do Real Arco

 

1. Nietzsche (1) O Nome Sagrado como Força de Superação

 

Nietzsche nos convida a desconfiar de qualquer verdade que se diga absoluta. Para ele, o sagrado não é algo pronto que se descobre, mas algo que se constrói. É uma expressão da vontade de potência, ou seja, da força que leva o ser humano a superar a si mesmo.

 

A busca pelo Nome Sagrado, segundo Nietzsche, não é uma simples redescoberta do passado. É uma criação de novos sentidos, feita a partir da quebra de antigas certezas.

 

O silêncio, aqui, não é apenas respeito à tradição, mas um gesto de liberdade, que rompe com a linguagem e os costumes antigos.

 

O Grau 13 pode ser visto como um convite à transformação profunda dos valores: deixar para trás o que foi imposto e encontrar, dentro de si, um novo sentido para o sagrado.

 

O Nome não é lembrado — é conquistado. Não está no passado, mas no futuro do ser.” (Inspirado em Nietzsche)

 

2. Kant (2) O Nome como Dever e Limite da Razão

 

Kant, por outro caminho, nos lembra que o Nome Sagrado pertence a uma realidade que não podemos ver nem provar. Ele está além do que podemos conhecer com os sentidos ou com a razão.

 

A maçonaria, com seus rituais e símbolos, pode ser vista como um caminho que nos ajuda a viver segundo princípios justos e universais. Isso se conecta ao que Kant chamou de imperativo categórico — agir de forma correta, não por obrigação externa, mas por convicção interna.

 

O silêncio diante do Nome é o reconhecimento dos limites humanos. Nem tudo pode ser explicado, e é aí que começa a verdadeira moral.

 

O iniciado trabalha a si mesmo não por medo ou tradição, mas porque reconhece, com sua razão, a importância do dever e da ética.

 

O Nome é uma ideia que guia a ação — nunca totalmente conhecida, mas sempre buscada com sinceridade”.(Kant)

 

3. Deleuze (3) O Grau como Caminho em Transformação

 

Para Deleuze, o Grau 13 é como um ritual que se repete e se transforma ao mesmo tempo. Essa repetição cria significados, formas de pensar e de ser no mundo.

 

O Nome Sagrado não é um ponto fixo a ser encontrado, mas uma energia em movimento, sempre mudando, como a própria vida.

 

O iniciado não segue um caminho reto. Ele passa por experiências diferentes, rupturas, descobertas. Ele está sempre em transformação.

 

A maçonaria oferece símbolos que servem como mapas de orientação, não para mostrar uma verdade única, mas para ajudar cada um a construir seu próprio caminho.

 

O Nome é uma travessia — não se diz, nem se encontra, mas se vive”. (Deleuze)

 

4. Bourdieu (4) O Nome como Reconhecimento e Prestígio

 

Bourdieu, com sua visão sociológica, nos faz uma pergunta importante: quem tem o poder de dizer o Nome? Quem decide o que é sagrado ou verdadeiro?

 

Para ele, o Nome Sagrado é um símbolo de prestígio, que só tem valor dentro de um grupo que acredita nele. É como uma moeda: vale porque todos aceitam seu valor.

 

A maçonaria é um espaço onde os símbolos, os graus e os rituais ajudam a construir uma posição de respeito dentro da sociedade.

 

O silêncio sobre o Nome pode ser visto como uma forma de manter o segredo e o prestígio de quem chegou a esse conhecimento.

 

O Nome é um sinal de distinção — vale porque, dentro da Ordem, todos reconhecem sua importância”. (Bourdieu)

 

Conclusão – Um Mosaico Filosófico do Grau 13

Cada pensador oferece uma visão diferente do Nome Sagrado e do papel do iniciado no Grau 13:

Filósofo

O que representa o Nome Sagrado

Foucault

Um produto das práticas e do poder

Nietzsche

Um ato de criação e superação

Kant

Um ideal moral além da razão

Deleuze

Um movimento constante de transformação

Bourdieu

Um símbolo de valor dentro de um grupo

 

O Grau 13, assim, não entrega uma única resposta, mas oferece um espaço simbólico onde várias verdades podem coexistir. Ele ensina que o Nome Sagrado é mais do que uma palavra: é um espelho do iniciado — um reflexo de sua jornada, seus valores, suas escolhas e seu silêncio.

 

Se o amado irmão deseja estudar mais um pouco, apresento a seguir análises, à luz de grandes filósofos, detalhas do texto “Grau 13 – Cavaleiro do Real Arco” (*). Boas leituras e bons estudos desejo a todos.

 

(1) Grau 13 – Cavaleiro do Real Arco - análise do texto na visão de Friedrich Nietzsche

 

Friedrich Nietzsche (1844–1900) foi um filósofo da vontade, da superação, da criação de si mesmo. Ele desafiou ideias antigas de verdade, moral e religião, e propôs que cada um deve buscar seu próprio sentido da existência. Ele falava do "eterno retorno", do "além-do-homem" e da "transvaloração dos valores" — ideias que podem iluminar a jornada do Cavaleiro do Real Arco.

 

1. A busca pelo Nome perdido – a morte das certezas antigas

 

O Nome Sagrado perdido representa mais que um segredo esotérico: ele é o símbolo da verdade suprema...”

 

Nietzsche nos lembra que as antigas verdades não são eternas, e que muitas vezes aquilo que chamamos de "verdade" são apenas convenções criadas pela cultura, pela religião ou pela sociedade.

 

A perda do Nome, então, pode ser vista como o rompimento com ilusões herdadas. O maçom do Grau 13 precisa aceitar que o que foi ensinado nem sempre é a Verdade última. Isso exige coragem — a coragem nietzschiana de viver sem muletas metafísicas, de encarar o vazio com ousadia.

 

2. A descida à abóbada – o encontro com o abismo

 

A escavação é comparável ao desvelamento da verdade que está oculta sob camadas de ego, ignorância e orgulho”.

 

Nietzsche dizia: "Se olhares longamente para um abismo, o abismo também olhará para ti." A descida do Cavaleiro Real do Arco é um mergulho no próprio inconsciente, nas sombras que evitamos. Só ao encarar o caos dentro de si, o iniciado poderá encontrar uma nova forma de ser.

 

É nessa escuridão interior que ele tem a chance de se recriar, de dar um novo sentido à vida — como o artista que constrói a si mesmo depois de destruir o velho eu. Isso é muito próximo do conceito nietzschiano de "transvaloração dos valores".

 

3. O Nome Sagrado como criação, não como revelação

 

Não é uma palavra, mas uma percepção. Não é um som, mas um estado do ser.”

 

Nietzsche não acreditava em verdades absolutas dadas por fora — ele defendia que o verdadeiro valor é aquele que você mesmo cria, com seu sofrimento, sua luta e sua superação.

 

Assim, o Nome Sagrado pode ser visto como o símbolo da própria autenticidade do iniciado — o que se descobre não é um nome mágico, mas o seu próprio poder de criar sentido, de afirmar a vida com integridade.

 

4. A regeneração do ser – nascimento do além-do-homem

 

O iniciado reconstrói sua própria divindade interior a partir dos fragmentos esquecidos de si mesmo”.

 

Nietzsche fala do "além-do-homem"— um ser que supera a condição humana comum, cria seus próprios valores e vive com intensidade. Não é um super-herói, mas alguém que renasce das cinzas com mais lucidez, mais força e mais liberdade.

 

O Cavaleiro Real do Arco, ao encontrar o Nome perdido, não volta a ser o que era: ele se torna algo novo, mais consciente, mais autêntico, mais corajoso diante da vida. Isso é o ideal nietzschiano em ação dentro da maçonaria.

 

5. O silêncio como sabedoria ativa

 

O silêncio torna-se a linguagem dos sábios”.

 

Para Nietzsche, os maiores pensamentos nascem no silêncio interior, na solidão. O silêncio não é passividade — é um espaço onde o espírito se liberta da tagarelice do mundo e escuta a própria verdade.

 

O silêncio do Cavaleiro do Real Arco é um silêncio ativo, como o do guerreiro que observa antes de agir, como o do sábio que sabe que nem tudo pode ser dito, mas tudo pode ser vivido.

 

Por fim

 

O Grau 13 mostra que o verdadeiro segredo da maçonaria não está fora, mas dentro de cada um. Ele não é algo a ser recebido de mãos dadas, mas algo que precisa ser escavado, enfrentado e conquistado.

 

Friedrich Nietzsche diria que o Cavaleiro do Real Arco é alguém que teve a coragem de perder as certezas antigas, mergulhar no escuro de si mesmo e emergir com um novo olhar sobre o mundo e sobre a vida.

 

O Nome Sagrado que ele encontra não é uma palavra mágica, mas a certeza silenciosa de que a vida vale a pena ser vivida com coragem, verdade e criação constante.

 

(2) Grau 13 – Cavaleiro do Real Arco - análise do texto na visão de Immanuel Kant

 

1.  A busca do Nome Sagrado — a Razão como guia para a verdade moral

 

"O Nome Sagrado perdido representa mais que um segredo esotérico: ele é o símbolo da verdade suprema que o homem moderno [...] precisa redescobrir."

 

Para Kant, a verdade não vem de fora (de autoridades, dogmas ou experiências místicas), mas nasce da razão autônoma do ser humano. O Nome Sagrado, então, pode ser interpretado não como algo místico, mas como o símbolo do bem moral, daquilo que cada um descobre em sua própria consciência racional.

 

Esse Nome é “sagrado” porque representa o dever moral puro, que Kant chamava de imperativo categórico:

 

Age apenas segundo uma máxima que possas querer que se torne uma lei universal”.

 

O Cavaleiro do Real Arco, ao buscá-lo, está na verdade buscando dentro de si a lei moral que pode guiar suas ações com retidão e dignidade.

 

2. A escavação interior — autonomia moral e iluminação da consciência

 

"A escavação [...] é comparável ao desvelamento da verdade que está oculta sob camadas de ego, ignorância e orgulho."

 

Essa ideia da escavação interior está totalmente de acordo com o que Kant via como o esclarecimento — o processo em que o ser humano sai da sua menoridade moral (isto é, da dependência de outros para pensar) e passa a pensar por si mesmo.

 

Assim, a escavação da abóbada é símbolo da jornada kantiana rumo à autonomia, quando o iniciado para de obedecer cegamente e passa a agir segundo sua própria razão ética.

 

3. A moral como dever e não como sentimento

 

"Purificar-se de paixões e preconceitos..."

 

Para Kant, uma ação só é verdadeiramente moral se for feita por dever, e não por medo, desejo de recompensa ou emoção. Portanto, ao se purificar das paixões e preconceitos, o maçom do Grau 13 está buscando agir eticamente, com base na razão e não nas emoções passageiras.

 

O iniciado, então, deve se perguntar, como Kant propunha:

 

Estou agindo porque é certo, ou porque quero algo em troca?”

 

Esse grau convida o irmão a colocar a ética acima do interesse pessoal — esse é o verdadeiro sacrifício do ego.

 

4. O silêncio e o respeito ao limite da razão

 

É significativo que o Nome não possa ser pronunciado”.

 

Para Kant, existe um limite claro entre o que podemos conhecer com a razão (o mundo fenomenal) e aquilo que está além da experiência humana, como Deus, a alma e a eternidade — o mundo noumenal, também chamado de "mundo inteligível" ou "coisa em si". Assim o a expressão o mundo noumenal refere-se a um domínio da realidade que existe além da nossa experiência sensível e, portanto, está para além do alcance do nosso conhecimento. É a realidade tal como ela é, independentemente da forma como é percebida pelos nossos sentidos e entendida pelo nosso intelecto.

 

Ao reconhecer que o Nome Sagrado não pode ser pronunciado, o texto do Grau 13 demostra respeito por esse limite. Não se trata de superstição, mas de humildade filosófica:


Sabemos que existe o Bem Supremo, mas não podemos defini-lo plenamente.


Podemos senti-lo como ideal moral, mas não o descrever com precisão.

 

Esse silêncio, portanto, é o que Kant chamaria de "respeito racional pelo mistério moral".

 

Os deveres do Cavaleiro Real do Arco

 

Os quatro deveres mencionados por Pike se encaixam perfeitamente na moral prática de Kant:

 

Buscar a verdade com humildade

 

Kant ensina que a verdade é o objetivo da razão, mas deve ser buscada com consciência de nossos limites.

 

Purificar-se de paixões

 

A moral, para Kant, deve ser isenta de inclinações emocionais — deve nascer do dever racional.

 

Autoconhecimento

 

Só quem compreende a si mesmo pode agir eticamente. O “Conhece-te a ti mesmo” é o ponto de partida da moral.

 

Silêncio sagrado

 

É o reconhecimento de que nem tudo pode ser dito, mas o essencial pode ser vivido — um gesto de reverência racional.

 

Por fim

 

O Grau 13 não fala apenas da busca de um segredo esotérico, mas da conquista de uma consciência ética madura.

 

Para Kant, esse segredo não é um nome mágico, mas o senso de dever moral dentro de cada um. É agir por princípios universais, com autonomia, com respeito pelos outros, e com o desejo sincero de fazer o bem, não por medo, mas por escolha racional.

 

Assim, o Cavaleiro do Real Arco é aquele que:

 

Desce à sua própria razão, para encontrar o verdadeiro Nome — ou seja, a lei moral.

Age com retidão, mesmo quando ninguém está olhando.

Respeita os limites da razão humana, sem abrir mão da busca por sentido.

 

O céu estrelado sobre mim, e a lei moral dentro de mim”. — Immanuel Kant

 

(3) Grau 13 – Cavaleiro do Real Arco - análise do texto na visão de Gilles Deleuze

 

Deleuze não via o conhecimento como algo fixo, nem a verdade como algo “pronto e revelado”. Para ele, a vida é processo, transformação contínua, fluxo criador. A verdadeira sabedoria não está em repetir o que já se sabe, mas em criar novas formas de ver e viver.

 

1. A Verdade como Criação, não como Redescoberta

 

"O Nome Sagrado perdido representa mais que um segredo esotérico: ele é o símbolo da verdade suprema que o homem moderno [...] precisa redescobrir."

 

 

Para Deleuze, a verdade não é algo escondido no passado, esperando ser encontrado. Ela é produzida, inventada, criada ao longo da jornada, como quem abre um novo caminho na floresta. O Nome Sagrado, então, não é um nome “fixo”, mas uma experiência viva, que muda a cada etapa do nosso autoconhecimento.

 

Assim, o Cavaleiro Real do Arco não é alguém que encontra algo pronto — ele torna-se alguém novo a cada passo. O Nome Sagrado não está no fim da jornada, mas é a própria transformação provocada pela jornada.

 

2. A descida à abóbada: desconstrução do eu fixo

 

"A escavação [...] é o desvelamento da verdade que está oculta sob camadas de ego, ignorância e orgulho."

 

Para Deleuze, o “eu” não é uma identidade sólida. Ele fala do "devir" (ou seja, tornar-se): estamos sempre em processo de virar outra coisa, romper com os padrões fixos, com o que esperam de nós.

 

A escavação simbólica no Grau 13 é, então, um ato de quebra de identidades fixas — é o momento em que o maçom sai do modo automático, dos papéis sociais que a sociedade impôs (pai, trabalhador, cidadão) e entra no plano da criação de si mesmo, da liberdade verdadeira.

A abóbada não é o lugar onde se encontra “o que você já era”. É onde você encontra o que pode se tornar.

 

3. O Nome como Intensidade, não como Essência

 

"Não é uma palavra, mas uma percepção. Não é um som, mas um estado do ser."

 

Essa frase é perfeita para ser lida com Deleuze. Para ele, a realidade não é feita de coisas com essência, mas de intensidades, afetos, vibrações.

 

O Nome, nesse sentido, não é algo que se diz ou se escreve — é algo que se vive. É um modo de ser mais intenso, mais livre, mais conectado com a vida. O Nome é um novo estado de alma, um grau mais elevado de percepção de si mesmo e do mundo.

 

4. O Templo como Corpo sem Órgãos

 

Deleuze fala do conceito de “corpo sem órgãos” — uma metáfora para o ser humano liberto dos sistemas que o controlam (família, religião institucional, Estado, etc.). O Templo simbólico, para ele, pode ser lido como esse “corpo sem órgãos”: um espaço interno que se reconstrói fora das formas fixas e impostas.

 

O maçom, ao descer à abóbada, está reconstruindo a si mesmo, como alguém que abandona as velhas estruturas e inventa novas formas de viver com mais liberdade, ética e criatividade.

 

5. Os Deveres do Grau 13 como Linhas de Fuga

 

Deleuze propõe que o ser humano deve buscar linhas de fuga: caminhos para escapar das amarras da rotina, do pensamento repetido, da passividade.

 

Os deveres do Grau 13 podem ser lidos assim:

 

Buscar a verdade com humildade => fugir da arrogância do “já sei tudo”; abrir-se ao novo, ao inesperado.

Purificar-se de paixões e preconceitos => escapar das repetições da sociedade e dos desejos impostos.

Aprofundar-se no autoconhecimento => traçar novas linhas dentro de si, experimentar o ser de outras formas.

Respeitar o silêncio sagrado => calar o ruído do ego, ouvir o que ainda não tem nome.

 

O Grau 13 como Devir Iniciado

 

O Grau 13, na leitura de Deleuze, não é sobre encontrar uma Verdade escondida.

 

É sobre criar novas formas de viver, de pensar, de sentir. É sobre transformar-se, abandonar os moldes rígidos e descer à própria alma para nela descobrir novos caminhos, novos afetos, novas forças.

 

O Nome Sagrado, portanto, não é uma palavra, mas um momento de potência interior, uma faísca de criação, um ponto onde o iniciado se torna mais do que era antes.

 

Não há essência a ser encontrada, mas intensidade a ser vivida”. — Parafraseando Deleuze

 

(4) Grau 13 – Cavaleiro do Real Arco - análise do texto na visão de Pierre Bourdieu

 

Pierre Bourdieu foi um sociólogo francês que investigou como o conhecimento, a cultura, a educação e os símbolos funcionam dentro da sociedade para manter ou transformar o poder. Ele dizia que as pessoas vivem dentro de estruturas invisíveis — chamadas de campos, hábitos e capital simbólico — que influenciam nosso modo de pensar, agir e até mesmo buscar a verdade.

 

Ou seja, falar em “abóbada secreta”, “Nome Inefável” e “mistérios órficos” não é só filosofia ou misticismo — é também uma forma simbólica de dizer: agora você pertence a outro grau, a outro nível de entendimento e reconhecimento dentro da Ordem.

 

1. A busca do Nome como luta simbólica

 

"O Nome Sagrado perdido representa [...] a verdade suprema."

 

Para Bourdieu, toda busca por um “nome sagrado” ou por uma “verdade superior” é, ao mesmo tempo, uma busca por reconhecimento dentro de um campo simbólico. Ao passar por esse grau e buscar esse Nome, o maçom não está apenas em uma jornada espiritual — ele também está adquirindo um novo status dentro da estrutura maçônica.

 

O “Nome”, nesse caso, representa o capital simbólico: aquilo que confere valor e distinção ao iniciado. Só alguns podem acessá-lo, e quem o faz é visto de maneira diferente pelos demais. Isso mostra que o grau tem também uma função social clara: distinguir, elevar e qualificar.

 

2. A descida à abóbada como ruptura com o hábito social

 

"A escavação [...] remove as pedras do ego, da ignorância e do orgulho."

 

Para Bourdieu, todos nós somos guiados por um habitus — uma espécie de piloto automático social, construído por tudo o que aprendemos desde pequenos: família, escola, religião, mídia, etc.

 

A descida à abóbada pode ser vista como o momento em que o maçom questiona o próprio habitus. Ele começa a escavar dentro de si para descobrir o que é autêntico e o que é apenas repetição social.

 

É como se o Grau 13 dissesse: Você não é só o que a sociedade fez de você. Há algo mais profundo, que precisa ser descoberto, reconstruído e nomeado com consciência”.

 

3. O Nome Sagrado como construção cultural

 

"O Nome não pode ser pronunciado [...] é a Essência."

Bourdieu diria que até mesmo o que chamamos de “essência” é, na verdade, uma construção social e simbólica. O Nome não é um som mágico perdido no tempo — ele é o símbolo de um saber valorizado por uma determinada tradição: no caso, a tradição iniciática da Maçonaria.

 

O silêncio diante do Nome é parte do jogo simbólico: respeitar o que não se pode nomear é mostrar que se compreende e respeita o campo onde se está inserido.

 

4. Os deveres do Grau 13 como incorporação do capital simbólico

 

"Buscar a verdade com humildade", "purificar-se", "aprofundar-se", "respeitar o silêncio".

 

Esses deveres têm uma função pedagógica e ritualística clara. Eles não são apenas boas práticas espirituais, mas formas de demonstrar que o maçom incorporou os valores do campo simbólico ao qual agora pertence.

 

Para Bourdieu, isso se chama incorporação do habitus do campo: o maçom agora age, pensa e sente de maneira compatível com o novo grau. Ele não apenas sabe as palavras — ele se tornou aquilo que o símbolo representa.

 

O Grau 13 como transformação simbólica e social

 

O Grau 13, visto por Pierre Bourdieu, é mais que uma viagem interior: é um rito de passagem simbólico, que transforma o lugar do iniciado dentro do campo da Maçonaria. Ele adquire um novo tipo de capital simbólico, passa a ocupar uma nova posição, e carrega agora um “Nome” — não como palavra, mas como identidade construída e reconhecida pelos Irmãos.

 

O verdadeiro segredo, então, não é apenas espiritual. É também cultural, simbólico e social. É a forma como o iniciado passa a ser visto e passa a ver a si mesmo, com uma nova lente, uma nova linguagem e uma nova responsabilidade.

 

Hiran de Melo – Presidente da Excelsa Loja de Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.

 

(*) Grau 13 – Cavaleiro do Real Arco, recomendo a leitura para melhor entender o presente trabalho. Veja no link:

https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/04/inspetoria-liturgica-do-estado-da_51.html

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