Grau 6 - Secretário Íntimo: Visões Filosóficas

 

Por Hiran de Melo

 

Desvendando a Arte da Confiança e da Retidão: Um Chamado Filosófico à Consciência Maçônica

 

No Grau 6(*) do REAA, o irmão não apenas recebe um novo título — ele é iniciado num novo tipo de responsabilidade: agir com sabedoria e falar com coragem moral, sabendo que a palavra pode tanto iluminar quanto ferir. Veremos como Michel Foucault nos ajuda a compreender a relação entre saber, poder e discurso. Mas o caminho do Secretário Íntimo também pode ser enriquecido pelas reflexões de outros grandes pensadores: Nietzsche, Kant, Deleuze e Bourdieu. Cada um nos ajuda a olhar para esse grau com novos olhos.

 

A Filosofia Vive no Templo

 

O Grau 6 não é apenas mais uma etapa. É um chamado ao amadurecimento ético. Foucault nos fala da vigilância do saber, Nietzsche da superação pessoal, Kant do dever moral, Deleuze da criação ética e Bourdieu da prática social. Todos, juntos, nos dizem:

 

O Secretário Íntimo é um homem em vigília — não sobre os outros, mas sobre si mesmo.

 

I. Grau 6 – Secretário Íntimo - análise do texto na visão de Friedrich Nietzsche

 

Entre Verdade, Poder e Autossuperação

 

O Grau 6 da Maçonaria – Secretário Íntimo – nos apresenta um chamado ao amadurecimento moral, ao domínio de si mesmo e à atuação ética em meio ao poder. Mas como compreender essa missão à luz da filosofia de Friedrich Nietzsche?

 

Nietzsche, crítico dos valores morais tradicionais, nos convida a repensar os conceitos de verdade, retidão e influência. Ele não queria destruir a moral, mas elevar o ser humano para além das máscaras da hipocrisia e da servidão cega aos sistemas prontos.

 

Vamos, então, mergulhar nessa leitura ousada.

 

O Secretário Íntimo e o Despertar do Espírito Forte

 

Nietzsche falava do “espírito livre” ou “espírito forte” — aquele que rompe com os valores herdados de forma acrítica e começa a criar seus próprios princípios a partir da vida autêntica.

 

O Secretário Íntimo se encaixa nessa figura. Ele já não é o aprendiz que apenas recebe, mas o iniciado que começa a discernir. A confiança que lhe é dada exige mais do que sigilo: exige consciência, coragem e criação de sentido.

Torna-te quem tu és”. — Nietzsche

 

Neste grau, o Irmão começa a tornar-se aquilo que realmente é: um ser ético, não por medo de punição, mas por amor à verdade, à justiça e à liberdade interior.

 

O Poder como Tentação e Como Provação

 

Nietzsche via o poder como algo inevitável na vida — mas nos alertava: quem busca o poder deve vencer primeiro a si mesmo. O verdadeiro poder não está em dominar os outros, mas em não ser dominado por ilusões, vaidades ou ressentimentos.

 

O Secretário Íntimo lida com o poder simbólico — conselhos dados, verdades ditas, decisões influenciadas. Aqui, ele deve aprender a não usar a confiança dos outros como forma de manipulação ou autoengrandecimento.

 

Como ensinaria Nietzsche: Quem combate monstros deve cuidar para não se tornar um também”.

 

A Verdade como Criação Ética, Não Como Dogma

 

Ao falar da “Carta Selada”, o texto destaca a importância de transmitir a verdade com responsabilidade. Para Nietzsche, a verdade não é uma fórmula pronta, mas uma construção contínua — feita com coragem, sensibilidade e clareza de propósito.

 

A função do Secretário Íntimo é, portanto, decifrar os símbolos, entender as situações humanas e comunicar-se com sinceridade e sabedoria — mesmo quando isso não for fácil ou popular.

 

Nietzsche dizia que “as convicções são prisões” quando não são revistas à luz da vida.

 

O Secretário Íntimo, então, precisa ser livre por dentro, guiado pela busca genuína da verdade, não pela vaidade do saber.

 

O Punhal da Retidão e o Espírito Dionisíaco

 

O punhal não é arma de violência, mas símbolo do discernimento e da coragem ética. Em Nietzsche, isso se relaciona ao espírito dionisíaco — a força criadora que rompe com o comodismo e abraça a vida, mesmo com seus riscos, contradições e dores.

 

O Secretário Íntimo é chamado a agir quando necessário, mesmo que isso implique desconforto ou oposição. Ele corta o silêncio quando a verdade precisa ser dita, e corta a vaidade quando o ego deseja aparecer.

 

Essa é sua força: agir não por status, mas por fidelidade à missão interior.

 

A Lealdade Autêntica: Nem Servidão, Nem Vaidade

 

Nietzsche alertava contra o “espírito do rebanho” — aquele que segue por medo, costume ou desejo de aprovação. A verdadeira lealdade do Secretário Íntimo não é servil, mas ativa, consciente e fiel aos princípios que ele escolheu viver.

 

"Aquele que obedece por hábito não é digno da confiança do sábio".

 

O Secretário Íntimo é leal não por submissão, mas por afinidade com a Verdade, com a Justiça e com o bem maior da fraternidade.

 

O Silêncio e a Palavra como Caminhos da Vontade

 

No grau anterior, o Irmão aprendeu a escutar o silêncio. Agora, ele aprende quando e como falar. Isso ressoa com o conceito de “vontade de potência” de Nietzsche — não como desejo de dominar, mas como força criadora, ética e afirmadora da vida.

 

Sua palavra não é comum: ela constrói, consola, aconselha, transforma. E por isso, deve vir do mais profundo do ser — onde o silêncio preparou o terreno fértil para a sabedoria brotar.

 

O Secretário Íntimo, à luz de Nietzsche, é aquele que:

 

Torna-se senhor de si, vencendo as vaidades e ilusões do ego;

Enxerga o poder como responsabilidade, não como privilégio;

Fala a verdade não por obrigação, mas por coragem ética;

Cria sentido em sua jornada, recusando dogmas e superficialidades;

Combina silêncio reflexivo com palavra transformadora;

Age com fidelidade aos princípios que escolheu viver — não por medo, mas por grandeza de alma.

 

Exortação Nietzscheana


O Grau 6 não é uma escada para o poder, mas um espelho. E o que você vê ali é a
responsabilidade moral de ser quem você verdadeiramente é, sem máscaras, sem vaidades, sem covardia.

 

Seja digno da confiança que lhe é depositada.
Não apenas guarde segredos —
guarde a integridade.
Não apenas fale com prudência —
fale com alma e justiça.

 

Lembre-se: Aqueles que dançavam foram chamados de loucos por aqueles que não podiam ouvir a música”. — Friedrich Nietzsche

 

II. Grau 6 – Secretário Íntimo - análise do texto na visão de Immanuel Kant

 

Nosso objetivo aqui é refletir, com clareza e profundidade, sobre como os símbolos e ensinamentos desse grau se relacionam com os princípios da moral kantiana, especialmente a ética do dever, da autonomia e da dignidade humana.

 

A Ética da Razão, do Dever e da Retidão

 

Ao adentrar o Grau 6, o Irmão se depara com uma missão silenciosa, mas poderosa: ser digno da confiança que lhe é dada. Aqui, não se trata de exercer autoridade ou buscar reconhecimento externo, mas de agir conforme os princípios corretos, mesmo quando ninguém está olhando.

 

Para Immanuel Kant, um dos maiores filósofos da ética, esse é justamente o verdadeiro valor moral: agir por dever, guiado pela razão e pelo respeito à lei moral que habita dentro de cada um de nós.

 

A Moralidade como Dever

 

Kant nos ensina que a verdadeira moral não depende das consequências de nossas ações, nem de recompensas ou punições externas. O que torna uma ação moral é o motivo pelo qual a realizamos. Se agimos apenas porque é “o certo a fazer”, independentemente de ganhar algo com isso, então nossa ação é moral.

 

Assim o Secretário Íntimo não age por vaidade, mas por compromisso com a retidão.

 

Guardar segredos, falar com justiça e agir com integridade são deveres que ele assume livremente. Ele é um agente moral autônomo, ou seja, não obedece por medo, mas porque entende, pela razão, que esse é o caminho certo.

 

Os Símbolos sob a Lente de Kant

 

A Carta Selada

 

Simboliza a responsabilidade que temos ao lidar com o conhecimento. Para Kant, a liberdade exige responsabilidade: usar a razão com honestidade, evitando manipulações ou meias verdades. O Secretário Íntimo transmite o que é verdadeiro com discernimento e respeito pela dignidade de quem escuta.

 

A Chave da Confiança

 

A chave representa o acesso ao coração do outro, e também à própria consciência. A confiança só é possível onde há respeito mútuo e moralidade sólida. Kant nos lembra que nunca devemos tratar o outro como meio para um fim, mas sempre como um fim em si mesmo. Isso significa: respeitar o outro como igual em dignidade.

 

O Punhal da Retidão

 

O punhal, símbolo de firmeza moral, representa o que Kant chama de imperativo categórico: o dever de agir de tal forma que a sua ação possa virar uma regra universal.


O Secretário Íntimo, assim,
pensa antes de agir. Ele sabe que sua conduta deve ser exemplo — tanto no templo quanto no mundo profano.

 

Retidão sem Vaidade, Lealdade sem Servilismo

 

Kant rejeitava qualquer moralidade baseada em bajulação ou interesse. A verdadeira virtude não precisa de aplausos. O Secretário Íntimo age com lealdade racional, isto é, fiel à Ordem e aos princípios que ele escolheu com plena consciência.

 

Ele compreende que ética não é seguir ordens cegamente, mas escolher, com liberdade e razão, o que é justo e verdadeiro.

 

O Silêncio Ético e a Palavra Racional

 

Neste grau, o Irmão aprende quando falar e quando silenciar. Em Kant, isso se liga ao uso ético da razão prática: falar quando for necessário para defender a dignidade, a justiça, a verdade; e calar quando a prudência e o bem comum assim o pedirem.

 

A palavra do Secretário Íntimo não é emoção solta: é razão moral aplicada à realidade.

 

Poder, Justiça e a Dignidade Humana

 

Para Kant, o poder só é legítimo se respeita a dignidade de todas as pessoas. E a justiça é a aplicação prática da moral universal. O Secretário Íntimo, ao atuar nos bastidores do poder, deve sempre se lembrar disso: a ética vem antes da autoridade.

 

Não se trata de obedecer a quem manda, mas de obedecer àquilo que é certo.

 

À luz de Immanuel Kant, o Secretário Íntimo é aquele que:

 

Age por dever moral, não por interesse ou vaidade;

É livre e autônomo, porque decide com base na razão e na consciência;

Respeita os outros como iguais, jamais os usando para fins próprios;

Comunica-se com responsabilidade, usando a palavra como ferramenta de justiça;

Guarda e transmite a verdade, mesmo quando isso exige coragem e firmeza;

É fiel à sua missão porque ela é moralmente justa, e não apenas porque lhe foi dada.

 

Exortação Kantiana


O Grau de Secretário Íntimo lhe entrega algo muito mais precioso que um título:
a missão de ser um exemplo de razão prática e integridade moral.

 

Seja fiel ao dever que você assumiu. Não por medo, nem por aparência, mas porque é o que deve ser feito.

 

Age de tal maneira que a máxima da tua ação possa tornar-se uma lei universal”. — Immanuel Kant

 

III. Grau 6 – Secretário Íntimo - análise do texto na visão de Gilles Deleuze

 

A jornada maçônica é feita de símbolos, ações e sentidos que tocam nossa alma e nossa consciência. O Grau 6 do REAA, Secretário Íntimo, é um desses momentos especiais onde o silêncio encontra a palavra, e a confiança se torna uma força transformadora.

 

Nesta reflexão, vamos olhar para esse grau à luz do pensamento de Gilles Deleuze, filósofo francês do século XX, que nos ensina que o verdadeiro crescimento não acontece por imitação, mas por diferença, movimento e criação ética.

 

1. O Estilo do Grau 6: Discrição e Profundidade

 

O tom deste grau é contido e reflexivo. Não há ostentação: há entrega, ética, e principalmente, responsabilidade com o que se ouve e com o que se diz. O Secretário Íntimo é aquele que aprendeu que o poder que vale é o que vem da confiança conquistada, e não da autoridade imposta.

 

A linguagem simbólica do grau — como a Carta Selada, a Chave da Confiança e o Punhal da Retidão — revela que tudo o que é essencial não se grita, se protege. Aqui, o estilo do ritual nos educa no valor do gesto ponderado, da palavra justa e do silêncio fecundo.

 

2. Deleuze: A Filosofia do Processo, Não da Forma Pronta

 

Deleuze dizia:

 

Não se trata de se tornar o que já se é. Trata-se de inventar um devir”.

O que isso significa para o Secretário Íntimo? Que esse grau não é uma moldura, mas um caminho ético em construção. Você não se torna Secretário Íntimo apenas por ser reconhecido como tal, mas por agir como tal, constantemente.

 

Esse grau não apresenta uma perfeição rígida — ao contrário: convida você a criar-se eticamente em cada situação nova, com base na prudência, na lealdade e na coragem moral. Isso é o que Deleuze chamaria de devir ético — uma construção contínua do caráter a partir do encontro com o outro.

 

3. Símbolos e Suas Forças Éticas (em chave deleuziana)

 

A Carta Selada


Para Deleuze, toda verdade deve ser transmitida não como doutrina, mas como
intensidade que se compartilha. A Carta Selada representa isso: a verdade que não se impõe, mas que se entrega com discernimento, quando a confiança e a justiça exigem.

 

A Chave da Confiança


Na filosofia deleuziana,
a confiança não é um bem que se tem, é uma linha de relação que se desenha entre os seres. A chave, então, não abre só portas físicas — ela representa o acesso à dimensão ética da convivência. Ser confiável é ser um criador de vínculos éticos.

 

O Punhal da Retidão


Não se trata de um
símbolo de ataque, mas de discernimento. Em Deleuze, o pensamento ético está sempre atento aos limiares: quando agir, quando calar, quando intervir. O punhal representa o poder de cortar a injustiça, mas também de saber guardar a lâmina quando a verdade deve ser protegida com o silêncio.

 

4. A Arte da Palavra Oportuna: Entre o Silêncio e a Ação

 

O Secretário Íntimo aprende que falar é um ato sagrado. A palavra deve ser fértil, justa, precisa — não para impressionar, mas para transformar. Deleuze diria que a palavra, quando bem usada, cria mundos, desenha novas possibilidades de ser e agir.

 

Neste grau, aprende-se a falar com ética, não com vaidade, a servir com firmeza, não com servilismo, e a guardar segredos não por medo, mas por sabedoria.

 

5. O Poder como Relação Ética, Não Dominação

 

Albert Pike fala da confiança como um dom sagrado. Deleuze também rejeita qualquer ideia de poder como imposição. Para ele, o verdadeiro poder está na capacidade de criar relações novas, éticas, livres. O Secretário Íntimo é, então, um pivô dessas relações: um elo de escuta, ponderação e ação justa.

 

O poder que não escuta, oprime.
O saber sem ética, corrompe.
A confiança imposta, fracassa.
Mas a confiança conquistada é uma força que transforma.

 

6. Um Grau de Silêncio Criador e Palavra Ética

 

O Grau 6 não é um “ponto alto” da jornada, mas um ponto de inflexão. Um lugar onde você, Irmão, é chamado a viver a Maçonaria com maturidade emocional, sabedoria ética e integridade moral.

 

Deleuze nos ensina que não somos moldados por padrões prontos, mas por nossos atos, por nossos encontros, por nossa coragem de sermos diferentes e íntegros em cada novo desafio. E é exatamente isso que o Grau de Secretário Íntimo pede de você.

 

Exortação Final

 

Amado Irmão Secretário Íntimo,

 

Lembre-se: seu posto não é um trono, é uma ponte de confiança. Sua palavra deve ser justa, e seu silêncio, sábio.

Que você seja um farol discreto, cuja luz ilumina sem ofuscar.


Que seu punhal corte a mentira, mas nunca a empatia.
Que sua chave abra caminhos de paz e equidade.
E que sua carta nunca seja usada para esconder a verdade, mas para protegê-la até que seja o momento certo de revelá-la.

 

Seja, Irmão, não apenas um guardião de segredos, mas um construtor de relações éticas, justas e fraternas.

 

IV. Grau 6 – Secretário Íntimo - análise do texto na visão de Pierre Bourdieu

 

Ao refletirmos sobre o Grau 6 – Secretário Íntimo, somos convidados a mergulhar em um papel que exige silêncio, lealdade e discernimento ético. Mas para além da simbologia ritualística, este grau nos permite pensar mais profundamente sobre como se constrói a autoridade moral e a confiança dentro da Maçonaria. É aqui que a filosofia do sociólogo francês Pierre Bourdieu nos oferece uma luz poderosa.

 

Bourdieu estudou as formas como o poder é exercido nas relações humanas — não apenas com força ou imposição, mas com o que ele chamou de "capital simbólico": respeito, confiança, reconhecimento e legitimidade. Vamos aplicar essa ideia ao papel do Secretário Íntimo.

 

1. O Estilo do Grau 6: Sobriedade e Autoridade Ética

 

O estilo deste grau é silencioso e sério. Não há pompa, mas há respeito conquistado. O Secretário Íntimo não fala alto, mas quando fala, todos escutam. Isso é um exemplo do que Bourdieu chamaria de autoridade simbólica: ela não vem do cargo em si, mas da forma como o cargo é ocupado, com honra e integridade.

 

Assim, o estilo ritualístico ensina, por meio da prática, que o valor do Irmão está no reconhecimento moral que ele conquista entre os seus pares — nunca no brilho exterior do título.

 

2. O Papel do Secretário Íntimo como Portador de Capital Simbólico

 

Bourdieu explicava que, numa sociedade, existem diferentes tipos de "capital":

 

Capital econômico (dinheiro),

Capital social (relações),

Capital cultural (conhecimento),

E o mais sutil: capital simbólico — a honra, a confiança, a reputação.

 

O Secretário Íntimo é aquele que detém esse capital simbólico dentro da Loja. Ele é confiado com segredos, conselhos e decisões. Mas atenção: isso não é poder no sentido de dominação, e sim uma responsabilidade ética.

Esse capital simbólico é como o cimento invisível que sustenta a Loja. Uma vez quebrado, ele é difícil de recuperar.

 

3. A Confiança como Estrutura Invisível do Poder Maçônico

 

Quando a ritualística fala em Chave da Confiança ou Punhal da Retidão, está tratando diretamente do que Bourdieu analisa como relações de força simbólica. Essas ferramentas representam o dever do Irmão de manter o equilíbrio entre a autoridade e a ética.

 

Em linguagem simples e direta:

 

O Secretário Íntimo não manda, mas influencia, porque os Irmãos reconhecem nele alguém digno de ouvir e seguir.

O verdadeiro poder está em ser confiável, não em parecer importante.

 

Essa é a base do que Bourdieu chama de dominação legítima: não é a força que impõe, mas o reconhecimento voluntário que sustenta.

 

4. O Silêncio e a Palavra como Práticas Maçônicas

 

A transição do silêncio (no Grau 4 e 5) para a palavra justa (no Grau 6) é o momento onde o Irmão deixa de ser apenas aprendiz e começa a ser referência.

 

Para Bourdieu, o discurso tem poder quando vem de quem tem "autoridade legítima" para falar. Na Maçonaria, essa legitimidade vem:

 

Da postura (discreta, ética),

Da prática (agir com retidão),

Da coerência (entre o que se diz e o que se faz).

 

O Secretário Íntimo fala pouco, mas quando fala, é ouvido. Seu silêncio anterior serve como fundamento simbólico da autoridade que agora exerce com a palavra justa.

 

5. Reflexões sobre o Poder: Dominação ou Serviço Ético?

 

No mundo profano, o poder muitas vezes oprime. Na Maçonaria, o poder precisa servir. Bourdieu alerta que toda estrutura de poder está sujeita a abusos se não for regulada pela ética e pela vigilância coletiva.

 

O Secretário Íntimo está em posição privilegiada — mas é justamente por isso que seu compromisso deve ser mais firme:

 

Não usar a influência para benefício próprio,

Não distorcer a verdade em nome da conveniência,

Não deixar que a vaidade substitua a retidão.

 

Esse é o ideal de "campo simbólico" defendido por Bourdieu — onde os cargos e funções são instrumentos de construção coletiva, e não de promoção pessoal.

 

6. Um Grau de Reconhecimento e Serviço

 

O Grau 6 nos ensina que ser reconhecido não é um direito automático, mas um reflexo da prática ética contínua. A confiança é como uma planta: cresce devagar, precisa de cuidado, e se quebrada, pode não florescer novamente.

 

Irmão Secretário Íntimo, sua verdadeira influência vem:

 

Não do que você diz, mas do que você representa.

Não do poder formal do cargo, mas da autoridade moral conquistada.

 

Como nos lembra Pierre Bourdieu:

 

A autoridade só se exerce quando é reconhecida como legítima”.

 

Exortação Final

 

Amado Irmão,

 

O cargo que você ocupa é silencioso, mas essencial. A confiança que lhe foi dada é invisível, mas poderosa. Use sua palavra como ferramenta de paz. Use seu silêncio como escudo da verdade. E nunca se esqueça:


O valor de um Maçom está menos no que ele ostenta, e mais no que ele representa.

 

Seja, em sua conduta, a própria definição de capital simbólico da Maçonaria: Confiança, Retidão, Prudência e Serviço Fraterno.

 

V. Grau 6 – Secretário Íntimo - análise do texto na visão de Michel Foucault

 

O estilo do Grau 6 é claro, profundo e cerimonial. Há uma ênfase na sobriedade, na escolha cuidadosa da linguagem e nos valores morais que ela transmite. O irmão não é mais apenas um aprendiz da sabedoria, mas agora um guardião da palavra justa, um homem que aprende a não falar tudo o que sabe, mas a falar apenas o que é necessário com coragem e integridade.

 

Assim como em Foucault, o texto não nos entrega verdades prontas — ele nos coloca dentro de um processo de formação de consciência, onde cada símbolo (a chave, a carta, o punhal) não apenas representa, mas exige postura ética.

 

Foucault: A Vigilância do Poder e o Governo de Si

 

1. O Saber como Poder

 

Foucault nos ensinou que o saber é uma forma de poder. Quem detém um segredo ou um conhecimento especial tem poder — mas esse poder pode oprimir, enganar ou libertar, dependendo de como é usado.

 

No Grau 6, o Secretário Íntimo aprende que não se deve usar o saber para manipular, mas para proteger, orientar e servir. A Carta Selada é isso: o saber guardado, mas pronto para ser revelado com responsabilidade.

 

2. O Poder não se impõe, se exerce com ética

 

Foucault mostra que o poder está em toda parte, mas ele é mais eficaz quando silencioso e constante, como o olhar de um vigilante. No Grau 6, a presença do Secretário Íntimo não é autoritária — é sutil, mas firme. Ele é a figura do conselheiro, que fala pouco, mas com peso, como aquele que vigia não para punir, mas para preservar a ordem moral.

 

3. O Discurso como Prática Moral

 

Para Foucault, o discurso — a fala, o que dizemos e como dizemos — não é neutro. Falar é agir. Ao aprender a falar com responsabilidade, o Secretário Íntimo pratica o que Foucault chamava de “parresia”, a arte de dizer a verdade, mesmo quando isso traz riscos. A coragem moral mencionada no grau é justamente essa: dizer o que precisa ser dito, não por vaidade, mas por convicção.

 

Símbolos sob a ótica foucaultiana

Símbolo

Sentido Maçônico

Visão à luz de Foucault

A Carta Selada

A verdade a ser comunicada com sabedoria

O saber que dá poder, mas que exige responsabilidade

A Chave da Confiança

Acesso aos segredos da alma e da justiça

O controle do saber como forma de governar eticamente

O Punhal da Retidão

Coragem moral para defender a verdade

A prática do discurso ético, a “parresia”

 

Lições éticas e filosóficas

 

Confiança não se exige, se conquista


Assim como Foucault mostra que o poder verdadeiro é o que forma sujeitos autônomos, o Secretário Íntimo aprende que autoridade se exerce pela conduta, não pelo cargo.

 

Silêncio não é omissão, é força interior


Foucault valorizava o silêncio como forma de resistência. Aqui, o silêncio é uma preparação para a fala justa, não um esconderijo.

 

A palavra é uma espada de dois gumes


Ela pode construir ou destruir. O Secretário Íntimo é aquele que aprende a manejá-la com equilíbrio, como o punhal simbólico.

 

A Prática do Cuidado de Si

 

Em sua fase final, Foucault estudou como os antigos cultivavam a alma. Ele chamava isso de "cuidado de si". O Secretário Íntimo faz exatamente isso: cuida da própria integridade para poder cuidar do bem coletivo. Ele se transforma em alguém digno de confiança porque construiu em si um templo ético.

 

O Poder da Palavra Ética

 

O Grau 6 nos ensina que há um tipo de influência que não se grita, mas que ecoa com força no silêncio da retidão. Foucault nos ajuda a compreender que, quando o maçom aprende a guardar o segredo, a ponderar a palavra e a agir com fidelidade, ele se torna um sujeito livre — não porque manda, mas porque é confiável.

 

Exortação Final

 

Amado Irmão, que sua palavra, quando dita, traga luz.
Que seu silêncio, quando guardado, seja digno de confiança.
Que sua retidão, em cada gesto, seja um exemplo que transcende o templo e ecoa no mundo.

 

 

(*) Grau 6 – Secretário Íntimo, recomendo a leitura para melhor entender o presente trabalho. Veja no link:

https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/04/inspetoria-liturgica-do-estado-da_13.html

 

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