GRAU 8 – Intendente dos
Edifícios: Visões
Filosóficas
Por Hiran de Melo
Palavras iniciais: Como o Discurso Forma Líderes
Foucault nos ensina que todo conhecimento
traz consigo uma forma de poder. Ou seja, aquilo que se ensina, se repete e se
valoriza dentro de um grupo não é neutro — serve para organizar comportamentos,
criar regras e dar autoridade a quem domina esse saber.
No caso do Grau 8(*) da Maçonaria, vemos um
conhecimento simbólico e hierárquico que:
Dá autoridade a quem o compreende (como os Intendentes);
Mostra como um líder deve se comportar: com ética,
humildade e fraternidade;
Cria uma imagem ideal do maçom, moldando sua identidade a
partir desse modelo moral.
Para Foucault, isso não é apenas “educação
moral”. É uma forma de poder que se disfarça de ensinamento e que orienta como
o indivíduo deve pensar, sentir e agir dentro da Ordem.
1. Estilo e Estrutura do Texto Maçônico
O texto do Grau 8 guia o leitor como um rito:
começa com uma convocação reflexiva, desenvolve os símbolos e princípios, e
conclui com um chamado à ação moral. Os símbolos — o Templo, as Colunas, os
Instrumentos de Medição — são usados como metáforas vivas da construção
interior e da responsabilidade do líder.
O estilo combina inspiração espiritual com
ensinamentos práticos, com frases diretas de Albert Pike que funcionam como
máximas morais. Isso reforça a ideia de que o maçom não deve apenas saber, mas
também viver o que aprende.
2. A Filosofia da Liderança Ética em Albert Pike
Neste grau, Albert Pike apresenta a liderança
como um serviço, não um privilégio. O líder maçônico (o Intendente) é aquele
que guia sem autoritarismo, corrige com amor e serve como exemplo.
Ele nos lembra que o verdadeiro chefe não
impõe sua vontade, mas coordena com justiça, promovendo a união e o
aperfeiçoamento comum. A obra que ele supervisiona não é de pedra: é a
construção do caráter, da Loja, da sociedade.
3. Foucault: Poder, Disciplina e Cuidado de Si
Michel Foucault, ao analisar as estruturas de
poder, ensina que todo poder precisa ser controlado pela ética. Para ele, as
instituições muitas vezes transformam autoridade em opressão, e é por isso que
precisamos vigiar não os outros, mas a forma como usamos o poder que temos.
Isso se encaixa perfeitamente com o Grau 8,
onde o Intendente tem o papel de líder — mas deve exercer sua autoridade com
humildade, responsabilidade e disciplina. Foucault chamaria isso de “ética do cuidado de si”: um
modo de viver no qual o líder primeiro se
governa, para depois ajudar a governar os outros.
Em outras palavras: não há liderança
verdadeira sem autodomínio.
4. O Poder que Constrói ou Destrói
Foucault também alerta que o poder pode
construir... ou destruir. O mesmo se aplica ao Grau 8. Um Intendente que age
com arrogância ou impaciência compromete toda a construção. É como usar
ferramentas sem cuidado: as paredes podem ruir.
Assim, Foucault nos ajuda a entender que o
líder simbólico precisa conhecer os efeitos de suas ações, palavras e decisões
— e que a autoridade só é legítima quando baseada no serviço e na retidão, como
Pike bem diz.
5. O Edifício Simbólico como Prática Ética
Foucault não falava diretamente sobre
“templos” ou “edifícios espirituais”, mas ele via o ser humano como uma
construção contínua. Para ele, somos moldados pelas experiências, pelos saberes
e pelas práticas que escolhemos viver.
Essa ideia casa perfeitamente com o conceito
do “edifício simbólico” do Grau 8: construímos o mundo à nossa volta conforme
construímos a nós mesmos. O templo maçônico, então, é a imagem da alma do
iniciado.
Liderar é Lapidar a Si Mesmo
O Grau 8, à luz de Michel Foucault, revela
que o líder maçônico é alguém que exerce o poder com consciência, sabendo que
toda ação tem efeito sobre os outros e sobre si mesmo.
Assim como nos ensinou Albert
Pike:
“A autoridade moral não se impõe — se conquista, pelo serviço e pela
retidão”.
E como diria Foucault, de modo paralelo:
“O cuidado de si é a
base de qualquer ética”.
O Grau 8 transforma o maçom em um supervisor
simbólico da construção moral da humanidade.
Albert Pike ensina que liderar é servir,
orientar, inspirar.
Foucault ensina que o poder só
é legítimo quando vem do autoconhecimento e da ética pessoal.
O verdadeiro Intendente é aquele que mede a
si mesmo antes de medir os outros.
O templo que construímos fora é reflexo da
obra que fazemos dentro de nós.
(*) Referência
Bibliográfica e de
leitura obrigatória para entender o presente trabalho.
GRAU
8 – Intendente dos Edifícios, veja no link
https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/04/inspetoria-liturgica-do-estado-da_8.html
Anexo: Algumas
palavrinhas a mais: Reflexão Filosófica sobre o Grau 8 à Luz de Grandes Pensadores
Análise Filosófica do GRAU 8
– Intendente dos Edifícios
À luz de Foucault, Nietzsche, Kant, Deleuze e Bourdieu
Friedrich Nietzsche (1) – O
Intendente como Modelo de Obediência Moral
Nietzsche olharia com desconfiança para a
figura do Intendente. Para ele, quando um discurso dita como o indivíduo deve
ser — humilde, disciplinado, submisso à hierarquia — o que está em jogo não é
elevação moral, mas uma forma sutil de conter a força criadora do ser
humano.
O maçom do Grau 8 é apresentado como um
exemplo de virtude e equilíbrio. Nietzsche perguntaria: essa virtude nasce da força
interior ou da repressão?
A liderança aqui não é criadora, mas
obediente: o Intendente segue um plano já traçado, e se define não por sua
originalidade, mas por sua fidelidade.
O símbolo do Templo, com suas medidas e
colunas, representa um mundo totalmente organizado, onde o indivíduo não cria —
apenas se encaixa.
Para Nietzsche, o Grau 8 forma líderes
obedientes, não criativos. Em vez de libertar, molda o espírito para caber
num modelo pronto.
Immanuel Kant (2) – O
Intendente como Expressão da Razão Moral
Para Kant, o Grau 8 é um exemplo de liderança
ética. O Intendente não lidera por vaidade ou interesse pessoal, mas por um compromisso
racional com o bem coletivo.
O Intendente é aquele que age com base em princípios
universais, reconhecidos pela própria razão.
A disciplina e o autocontrole valorizados no
Grau são características da ética kantiana: agir não por recompensa, mas por
dever.
A dimensão espiritual da liderança expressa a
elevação moral do sujeito que, guiado pela razão, busca cumprir uma missão
maior.
Para Kant, o Grau 8 forma líderes justos e
autônomos, que agem com dignidade porque obedecem a princípios escolhidos
livremente.
Gilles Deleuze (3) – O
Intendente como Produto de uma Estrutura Simbólica
Para Deleuze, o discurso do Grau 8 funciona
como uma máquina simbólica que molda comportamentos. A figura do
Intendente surge da repetição de rituais, símbolos e discursos que formatam o
sujeito.
O maçom não se forma sozinho: ele é construído
por códigos e tradições que canalizam seu modo de pensar e agir.
A frase “cada maçom é uma pedra do Templo”
pode ser entendida como uma forma de captura: o indivíduo deixa de ser
múltiplo para se tornar funcional.
O Templo é mais do que símbolo: é uma
estrutura que disciplina, organizando desejos, posturas e pensamentos.
Para Deleuze, o Grau 8 não desperta
liberdade criadora, mas produz sujeitos ajustados a um modelo — bons
líderes, porém formatados.
Pierre Bourdieu (4) – O
Intendente como Guardião da Ordem Simbólica
Bourdieu nos ajuda a ver o Grau 8 como um
espaço onde se reproduz uma estrutura social hierárquica e simbólica. O
saber ritual e moral confere ao Intendente autoridade e prestígio.
O Intendente acumula capital simbólico:
não lidera apenas pelo que faz, mas porque domina os códigos e valores da
Ordem.
O plano do Templo também revela uma ordem
social: quem ensina, quem aprende, quem manda e quem obedece.
Ao se mostrar humilde e ético, o líder
reforça sua posição: o poder se apresenta como serviço, mas é também
distinção.
Para Bourdieu, o Grau 8 reproduz uma
hierarquia simbólica, formando líderes que mantêm a estrutura social da
Ordem.
Síntese Integrativa
Pensador |
Visão
sobre o Grau 8 |
Foucault |
O saber molda líderes e também os controla
de forma sutil. |
Nietzsche |
O Intendente é um líder domesticado, que
obedece em vez de criar. |
Kant |
O Grau 8 representa a liderança ética,
guiada pela razão e pelo dever. |
Deleuze |
O líder é produto de uma máquina simbólica
que padroniza condutas. |
Bourdieu |
O Grau 8 reforça uma ordem simbólica que
legitima a hierarquia e o poder. |
O Grau 8 pode ser visto de dois modos:
Como uma escola de virtude, que forma líderes conscientes, éticos e
comprometidos com o bem comum;
Ou como um sistema simbólico de formação e controle, que molda o
comportamento para manter uma ordem já estabelecida.
Ambas as visões não se excluem — elas se
complementam. O que o Grau propõe é mais do que ensinar: é formar.
Formar um tipo de líder. Um tipo de sujeito. Um tipo de visão de mundo.
E nessa formação, agem forças sutis —
palavras, símbolos, espaços, rituais — que organizam o pensar, o sentir e o
agir.
Poeta Hiran de Melo
Se o amado irmão deseja estudar mais um pouco, apresento
a seguir análises, à luz de grandes filósofos, detalhas do texto “GRAU 8 – Intendente dos Edifícios” (*). Boas leituras e bons estudos desejo a todos. |
(1) GRAU 8 – Intendente dos
Edifícios - análise do texto na visão de Friedrich Nietzsche
O Construtor que se Torna
Criador
Neste momento de nossa jornada, deixamos de
ser simples trabalhadores. Agora, somos Intendentes, responsáveis por supervisionar
e dar direção à Obra — não só a construção simbólica do Templo, mas também
o desenvolvimento ético e espiritual dos que caminham ao nosso lado.
Aqui, o maçom é chamado a algo maior: liderar
com consciência, com coragem e com criatividade.
Como diria Friedrich Nietzsche, o
iniciado neste grau deve se tornar criador de valores, alguém que vai
além do que está pronto e se compromete a construir um novo sentido para si
mesmo e para o mundo.
A Filosofia de Nietzsche
e o Intendente dos Edifícios
Nietzsche acreditava que cada pessoa deveria
deixar de ser um mero repetidor de regras antigas e se tornar um artista
da própria vida — alguém que constrói seu caminho com liberdade, coragem e
responsabilidade.
Ao olharmos para o Grau 8 com esse olhar
filosófico, vemos que o Intendente é exatamente isso: um criador consciente, que:
Não apenas executa ordens, mas pensa, planeja e decide com sabedoria.
Não se submete ao comodismo ou à tradição cega, mas constrói com liberdade moral.
Assume o desafio de transformar o mundo ao seu redor a partir da
transformação de si mesmo.
1. As Colunas e o Templo
São a imagem da construção da humanidade —
mas também do indivíduo que decide superar a si mesmo.
Nietzsche chamaria isso de “tornar-se quem
você é”: construir o próprio caráter como quem levanta um edifício nobre,
sólido e belo.
2. Os Instrumentos de
Medição
Simbolizam o uso da razão, da precisão e da
justiça. Mas, para Nietzsche, esses instrumentos não servem apenas para medir o
mundo — eles servem para avaliar a si mesmo com coragem, e não viver
segundo os valores dos outros.
3. O Plano de Construção
Este plano não é fixo e fechado — ele é um
chamado ao aperfeiçoamento contínuo. O Intendente não é um simples
executor, mas alguém que compreende o espírito da obra e, se necessário,
tem coragem de corrigir os erros e reconstruir os alicerces morais.
Ensinamentos Éticos e
Filosóficos
Disciplina Interior
Para Nietzsche, o verdadeiro poder vem do autodomínio.
O Intendente precisa dominar suas paixões, controlar o orgulho e agir com
responsabilidade.
Humildade diante da Obra
Nietzsche rejeita a vaidade vazia. O
verdadeiro líder não se engrandece, porque entende que a Obra é maior
que o ego. Liderar, aqui, é servir com grandeza silenciosa.
Colaboração Fraterna
Ninguém constrói sozinho. Mesmo o “espírito
livre” de Nietzsche sabe que precisa inspirar os outros, não os dominar.
O Intendente une forças e reconhece o valor de cada Irmão.
Visão Moral e Espiritual
Nietzsche não falava de religião no sentido
comum, mas sim de uma ética profunda da autenticidade. O Intendente é
aquele que busca coerência entre o que constrói por fora e o que cultiva por
dentro.
O Edifício Simbólico: A
Vida como Obra de Arte
Para Pike, e também sob o olhar de Nietzsche,
o verdadeiro edifício que erguemos é nossa própria existência — com cada
escolha, cada ação e cada palavra.
“Aquele que não constrói sua própria alma, se perde na multidão”. –
Adaptado de Nietzsche.
Esse edifício é
sustentado por:
A verdade como base sólida.
A justiça e a fraternidade como muros que nos unem.
A esperança e a coragem como teto que nos protege contra a desesperança.
A Liderança Segundo
Nietzsche
Nietzsche valorizava o que ele chamava de espírito
nobre — não aquele que manda, mas aquele que eleva. O Intendente dos
Edifícios é esse espírito nobre:
Coordena com sabedoria e ouve com atenção.
Corrige sem humilhar e ensina com o exemplo.
Não lidera por ego,
mas por vocação.
Como disse Nietzsche:
“Quem não sabe comandar a si mesmo, nunca será digno de comandar
os outros”.
O Intendente como Criador de Sentido
Irmãos, o Grau 8 é um convite à maturidade
espiritual. O Intendente dos Edifícios não é apenas um supervisor de obras,
mas um criador de caminhos, alguém que se compromete com a construção de
um mundo mais justo, mais ético, mais humano.
Através da lente de Nietzsche, entendemos que
essa missão só é possível quando deixamos de ser reativos e passamos a ser criadores
conscientes da nossa própria vida.
E como nos lembra Albert Pike:
“Mais importante que levantar pedras é erguer consciências”.
(2) GRAU 8 – Intendente dos Edifícios - análise do texto na
visão de Immanuel
Kant
Ao olharmos com mais atenção para o Grau 8
– Intendente dos Edifícios do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), somos
convidados a refletir não só sobre a construção material de templos ou
edifícios, mas sobre a construção moral do homem e da sociedade. Nesse
caminho, a filosofia de Immanuel Kant, um dos maiores pensadores da
história, pode nos ajudar a compreender o que é, de fato, liderar com ética,
retidão e humildade.
1. Estilo: Clareza, Inspiração e Simbolismo
O texto apresentado tem um estilo inspirador,
com uma linguagem simbólica e reflexiva, muito comum nos graus
filosóficos da Maçonaria. Ele convida o Irmão a uma mudança de consciência,
abandonando a posição de simples trabalhador e assumindo o papel de líder ético
e espiritual.
As palavras de Albert Pike são usadas
como guia moral e filosófico, valorizando a sabedoria humilde, o exemplo
moral e a liderança pelo serviço, em contraste com qualquer forma de
autoritarismo.
2. Filosofia Kantiana aplicada ao Grau 8
A) A Moral como Dever
Racional
Kant ensina que o ser humano deve agir por
dever, e não por interesse. O Grau 8 fala exatamente disso: o Intendente
não lidera para obter poder ou prestígio, mas porque é seu dever moral
coordenar e servir à construção da Obra — não como dono, mas como fiel executor
dos planos do Grande Arquiteto do Universo.
Ligação com Kant:
Para Kant, agir moralmente é agir conforme o dever e por respeito à Lei
Moral. O Intendente, ao liderar com retidão, está sendo um verdadeiro
“imperativo categórico” em ação — ou seja, alguém que age como gostaria que
todos agissem.
B) Autonomia Moral e
Autodomínio
Kant valoriza a autonomia da razão: o
homem deve ser guiado não por instintos ou ordens cegas, mas por sua própria
consciência racional. O texto reforça isso ao dizer que o verdadeiro líder
começa pela disciplina interior e pelo domínio de si mesmo.
Ligação com Kant:
A autonomia moral é essencial na ética kantiana. O Intendente, ao medir
a si mesmo com justiça e integridade, como fazem os instrumentos simbólicos do
grau, está exercendo exatamente essa autonomia racional que Kant tanto defende.
C) A Humanidade como
Fim, nunca como Meio
Uma das ideias mais belas de Kant é que
devemos tratar toda pessoa como um fim em si mesma, e não como meio para
nossos objetivos. O Grau 8 fala de uma liderança que serve aos outros,
que “acende outras luzes” e promove a fraternidade.
Ligação com Kant:
Quando o Intendente lidera para elevar a todos, e não para se exaltar,
ele está vivendo o princípio central da ética kantiana: respeitar a
dignidade de cada ser humano como igual em valor moral.
D) Construção da
Moralidade como Templo Interior
Kant acreditava que a verdadeira religião não
está nos rituais exteriores, mas na moral interior. Isso se conecta
perfeitamente com o ensinamento do Grau 8: o templo mais importante é o da
alma humana, e cada virtude é uma pedra dessa construção simbólica.
Ligação com Kant:
A construção do “templo interior” é a ideia kantiana da formação de uma boa
vontade — aquela que deseja fazer o bem, simplesmente porque é o certo.
3. Os Símbolos sob a ótica Kantiana
Instrumentos de medição => São símbolo da razão crítica. O líder deve
medir a si mesmo com retidão, como Kant pede ao homem racional.
Plano de construção => Representa a ordem moral universal,
que Kant chamava de lei moral dentro de nós.
Colunas e o templo => São o
progresso do homem na ética universal, como propôs Kant em sua ideia de
uma "República Moral" da humanidade.
O Intendente como modelo de razão e ética
O Grau 8 ensina que o verdadeiro líder é
aquele que coordena com sabedoria, corrige com mansidão e lidera pelo exemplo.
A filosofia de Kant ecoa com força nesse ideal: ser racional, autônomo,
ético, justo e voltado ao bem comum.
Como disse o próprio Kant:
“Age de tal maneira
que a máxima da tua ação possa ser erigida como uma lei universal”.
E como conclui Albert Pike:
“O verdadeiro Intendente é aquele que vê no esforço comum a
expressão da vontade divina — e que lidera com humildade, coragem e sabedoria”.
Irmãos, que possamos, à luz da razão e da moral,
seguir como Intendentes fiéis não apenas da construção externa, mas do nosso
próprio Templo interior — feito de virtudes, justiça e amor fraterno.
(3) GRAU 8 – Intendente dos Edifícios - análise do texto na
visão de Gilles
Deleuze
Ao mergulharmos na
sabedoria do Grau 8 – Intendente dos Edifícios, somos convidados a refletir sobre um novo modo de liderar, construir e
existir. Com o apoio do pensador contemporâneo Gilles Deleuze, podemos lançar uma nova luz sobre os
símbolos e os ensinamentos deste grau. Deleuze nos ajuda a enxergar a Maçonaria
não como algo fixo, mas como um processo em constante transformação, uma Obra viva.
Estilo do Grau: Orgânico,
Inspirador e Dinâmico
O texto apresentado
é simbólico e motivador. Ele convida à ação ética e à reflexão interior. Mas
mais que isso: nos mostra que liderar na Maçonaria é um movimento coletivo, não
uma posição de poder.
E aqui está o ponto
de contato com Deleuze: ele via o mundo como fluxo, transformação e diferença. Para ele, o ser humano não é algo pronto, mas uma
construção que se faz no encontro
com os outros, com o tempo e com a vida — exatamente como
o edifício simbólico da Maçonaria.
1. Deleuze e a Liderança em
Movimento
No pensamento de
Deleuze, não existe uma estrutura fixa e permanente. Tudo está sempre em devir
— ou seja, em
constante mudança e criação.
Aplicando ao Grau 8
O Intendente dos
Edifícios não é apenas aquele que executa ordens, mas aquele que constrói com os outros, que adapta o plano às realidades do momento, que permite o surgimento do novo, da criatividade e da vida.
Liderar
com ética, então, é não travar o
fluxo da Obra, mas sim permitir que ela flua e
cresça como um organismo vivo, respeitando a
diversidade de cada obreiro.
2. O Templo como Rizoma
Um conceito central
de Deleuze é o de rizoma. Um rizoma é uma estrutura como a de uma raiz
subterrânea que se espalha em várias direções, sem
hierarquia, sem começo nem fim definidos.
Aplicando ao Grau 8
O Templo simbólico
que construímos não é uma pirâmide onde poucos mandam e muitos obedecem. É um
rizoma: uma construção horizontal, onde cada maçom é uma parte
viva da Obra, com sua luz, seu
papel e sua singularidade.
A verdadeira
liderança, para Deleuze e para a Maçonaria, é libertadora,
não opressora.
3. A Multiplicidade como
Força do Intendente
Deleuze fala de multiplicidade: em vez de buscar um único modelo ou verdade, ele
valoriza as diferenças
que se conectam. Um líder maçônico
no Grau 8 deve reconhecer que a Obra é feita de muitos talentos, muitas visões
e muitas verdades — e
todas podem ter valor.
Aplicando ao Grau 8
O Intendente
distribui tarefas com sabedoria não porque ele "manda", mas porque
ele compreende as diferenças e as faz
trabalhar juntas. Ele não tenta
padronizar, mas harmonizar
na diversidade.
4. Os Instrumentos e o
Plano: Não
há plano fixo
Na filosofia
tradicional, o plano de construção seria algo fixo, estabelecido. Mas para
Deleuze, todo plano deve ser aberto
à criação. O “plano de imanência” — como
ele chama — não é um roteiro fechado, mas um espaço
de possibilidades, onde os elementos
se ligam e criam juntos algo novo.
Aplicando ao Grau 8
O Plano do Grande
Arquiteto do Universo não é um conjunto de ordens, mas uma inspiração, um convite à criação
responsável. O Intendente é
aquele que colabora
com esse plano, deixando espaço
para a vida se manifestar.
5. Ensinamentos
Morais em Perspectiva Deleuziana
Disciplina
interior: não como repressão, mas como força criadora. Autodomínio é saber canalizar nossas paixões para
algo maior.
Humildade
diante da Obra: não somos donos
da construção — somos parte
dela, co-criadores com os outros.
Colaboração
fraterna: não é só trabalhar junto — é misturar potências, fazer da diversidade uma riqueza.
Visão
espiritual: o templo interior, para
Deleuze, se constrói na experiência, no encontro e no acontecimento — não na imitação de modelos prontos.
6. O Intendente como Criador
Ético
Na linguagem de
Deleuze, o Intendente dos Edifícios é um “criador
de mundos possíveis”. Ele ajuda a
construir realidades novas, não porque domina os outros, mas porque faz emergir o melhor de cada um.
Ele é como um “catalisador”:
algo que transforma sem se impor.
A Obra como Processo e o Maçom como Devir
Gilles
Deleuze nos ensina que viver é criar, afirmar,
conectar.
O Grau 8 nos ensina o mesmo. O templo simbólico não é um edifício pronto, mas
uma obra em movimento — feita de valores, virtudes e relações.
O verdadeiro Intendente é aquele que:
Liberta,
em vez de controlar.
Cria possibilidades,
em vez de repetir ordens.
Constrói junto,
em vez de mandar sozinho.
Como diz o próprio Deleuze:
“Não
somos indivíduos prontos, somos fluxos, somos devir”.
E como disse Albert Pike:
“O
verdadeiro Intendente é aquele que vê no esforço comum a expressão da vontade
divina — e que lidera com humildade, coragem e sabedoria”.
Que
nossa construção simbólica seja sempre um espaço de liberdade, criação e
fraternidade.
Seguimos como rizomas vivos na Obra do Grande Arquiteto.
Unidos, diversos — e sempre em devir.
Em espírito de
abertura e criação, com a luz
da filosofia e da tradição viva.
(4) GRAU 8 – Intendente dos
Edifícios - análise do texto na visão de Pierre Bourdieu
Ao explorarmos o Grau 8 – Intendente dos Edifícios, somos chamados a refletir sobre o papel da
liderança maçônica de forma mais consciente, profunda e social. Com o auxílio
da filosofia de Pierre
Bourdieu, um dos grandes pensadores
franceses do século XX, podemos compreender esse grau como uma proposta de transformação das estruturas sociais e
simbólicas — a começar por nós mesmos.
1. Estilo do Grau: Elevado, Didático e
Simbólico
O texto do Grau 8
tem um tom inspirador e educativo. Ele ensina que liderar é servir com ética,
construir com sabedoria e orientar com humildade. A linguagem é simbólica
e voltada para a formação
do caráter do maçom.
A filosofia de
Pierre Bourdieu nos ajuda a olhar além da superfície dessas palavras e
símbolos, e enxergar as
relações de poder, influência e transformação social que existem dentro da própria estrutura maçônica —
e também na sociedade em geral.
2. A Maçonaria como Campo Social
Bourdieu criou o
conceito de “campo”, que significa um espaço social onde diferentes
agentes (como pessoas ou instituições) disputam posições
de influência, reconhecimento e poder simbólico.
Aplicando ao
Grau 8:
A Maçonaria pode
ser entendida como um campo
simbólico, onde o maçom não busca status
ou dominação, mas sim prestígio
moral — que só se conquista pela
retidão e pelo exemplo.
O Intendente dos
Edifícios é, nesse campo, aquele que tem a
responsabilidade de zelar pelo equilíbrio das relações, usando sua posição não
para impor, mas para fortalecer o coletivo, promovendo a justiça simbólica.
3. O Capital Simbólico do Maçom
Bourdieu explica
que existem diferentes tipos de “capital”:
Econômico (dinheiro),
Cultural (conhecimento),
Social (relações),
Simbólico (prestígio, honra, respeito).
No
Grau 8:
O Intendente
precisa entender que seu
verdadeiro capital não é a autoridade formal,
mas o respeito que conquista pela sua ética,
humildade e dedicação. Isso é o que
Bourdieu chamaria de capital
simbólico legítimo — aquele que nasce
do reconhecimento dos outros, e não de um cargo em si.
4. Os Instrumentos Simbólicos e o Poder
Justo
Os instrumentos de medição simbolizam para Bourdieu os mecanismos de avaliação e julgamento que
existem em qualquer estrutura social. Mas ele adverte:
muitas vezes esses instrumentos servem para reproduzir
desigualdades.
Aplicando ao
Grau 8
O maçom Intendente
deve usar os instrumentos não para medir os outros com rigidez ou
superioridade, mas para
medir a si mesmo com justiça, garantindo que
sua liderança não
reproduza vaidades, exclusões
ou autoritarismos.
A régua, o esquadro
e o nível, usados com consciência, se tornam símbolos
de equidade e reflexão interior, não de julgamento
externo.
5. A Obra como Transformação Social
O plano de construção, segundo o texto, é um reflexo da Ordem Universal.
Mas à luz de Bourdieu, também pode ser visto como um
projeto coletivo de transformação simbólica e social.
O templo que o
Intendente ajuda a construir é mais que moral:
É um espaço onde as
estruturas injustas do mundo profano são desconstruídas, e em seu lugar, se edifica uma cultura baseada na fraternidade, justiça e reconhecimento mútuo.
6. Liderança e Habitus: Formar pelo
Exemplo
Outro conceito
central de Bourdieu é o habitus: o conjunto de disposições e hábitos que carregamos
e que moldam nossas ações.
Aplicando ao Grau 8:
O Intendente é
aquele que forma
hábitos no coletivo, não por discurso,
mas pelo exemplo constante. Ao agir com retidão, ele influencia o
comportamento dos irmãos. Ele “educa o campo”, molda o espírito da Loja.
Como diz o texto: “Corrige com mansidão e ensina pelo exemplo”.
O Maçom como Agente de Transformação
Bourdieu acreditava
que, mesmo dentro das estruturas sociais estabelecidas, é possível resistir e transformar. O Grau 8 nos convida exatamente a isso:
Transformar
o espaço maçônico num campo mais justo e fraterno;
Transformar
a liderança
em serviço ético e consciente;
Transformar
a si mesmo para inspirar a transformação do mundo.
O verdadeiro Intendente, como diria Bourdieu, é aquele
que compreende o jogo simbólico e decide jogá-lo com ética e consciência, promovendo mudança, inclusão e
virtude.
Como ensina o Mestre Albert Pike:
“O verdadeiro Intendente é aquele que vê
no esforço comum a expressão da vontade divina — e que lidera com humildade,
coragem e sabedoria”.
E como diria Bourdieu:
“O mundo social
é construído, mas ele pode ser desconstruído para ser reconstruído de outro
modo”.
Que
sejamos, Irmãos, construtores conscientes de um novo templo: onde o capital que
mais vale é o moral, onde o poder é serviço, e onde o símbolo nos une como
ferramentas vivas da transformação.
Em espírito de consciência, humildade e justiça
social.
Hiran de Melo – Presidente da Excelsa Loja de
Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da
Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA
da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.
(*) Grau 8 – Intendente dos Edifícios, recomendo a leitura para melhor entender o
presente trabalho. Veja no link: |
https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/04/inspetoria-liturgica-do-estado-da_8.html |
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