LOJA DE PERFEIÇÃO 


Instrução do Grau 4 - 3ª Parte, Immanuel Kant

Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba – 1ª Região

0225 - LOJA DE PERFEIÇÃO PAZ E AMOR

FUNDADA EM 11 DE ABRIL DE 1972

CAMPINA GRANDE -  PARAÍBA

 

Instrução do Grau 4 – Questionário 3ª Parte, ao olhar de Immanuel Kant

 

Análise Filosófica à Luz de Immanuel Kant

 

Ler o questionário sob a perspectiva de Immanuel Kant é como trocar as lentes do olhar: saímos do universo simbólico e esotérico de Albert Pike e entramos no campo da razão, da ética e da reflexão sobre os limites do saber humano. Em vez de buscar mistérios ocultos, o foco passa a ser perguntas fundamentais: o que podemos conhecer? O que devemos fazer? Em que podemos acreditar com legitimidade? A resposta, sempre, parte da razão.

 

1. Quem construiu a Arca?

 

Bezalel e Aoliabe foram os escolhidos por Moisés para essa tarefa. Mais do que um registro histórico, o que importa aqui é o exemplo moral: agir com liberdade e consciência, obedecendo à lei interior. O verdadeiro construtor é aquele que age com boa vontade, guiado pelo dever.

 

2. O Candelabro de Sete Luzes

 

A ligação com planetas ou números místicos não se sustenta pela razão. Mas o número sete, com sua harmonia, pode inspirar a imaginação como metáfora estética. O candelabro, então, não revela verdades ocultas — ele convida à reflexão, sem pretensão de conhecimento absoluto.

 

3. O Altar Triangular

 

A ideia de uma ressurreição cósmica vai além do que podemos experimentar. Ainda assim, acreditar numa vida futura pode ser útil como apoio à busca pelo bem maior. O altar se torna símbolo de esperança, fortalecendo a virtude, sem precisar provar o que está além do mundo sensível.

 

4. Altares dos Perfumes e dos Sacrifícios

 

Renunciar às paixões em nome da razão é um gesto ético. O iniciado é chamado a seguir a consciência, não os impulsos. Já a ideia de invocar forças da natureza não encontra respaldo racional — a moral não depende de rituais, mas da voz interior que nos guia.

 

5. A Mesa dos Pães da Proposição

 

Os pães, sempre diante da divindade, representam a constância do dever. A presença de Deus, nesse contexto, funciona como uma ideia que orienta a ação ética, não como uma entidade visível. A mesa nos lembra que o compromisso moral deve ser firme e contínuo.

 

6. A Faixa do Mestre Secreto

 

O azul remete à moralidade; o preto, à ignorância; a chave, à razão que desvenda; e o “Z”, à plenitude da reflexão. Esses símbolos, quando vistos com olhar crítico, revelam o caminho do ser humano: da escuridão à luz da autonomia.

 

7. O Avental

 

Branco pela pureza de intenções, preto pelos limites da razão, o olho como consciência vigilante, e os ramos como frutos da conduta ética. A boa vontade é o único bem absoluto — e o avental expressa essa disposição de agir conforme o dever.

 

8. Preparação do Iniciante

 

A venda representa o desconhecimento inicial. O esquadro é a razão que orienta. A tocha, a luz parcial da consciência. A corda, os condicionamentos externos. A iniciação é o convite para sair da dependência intelectual e alcançar a liberdade ética — como propõe o famoso ensaio O que é o Esclarecimento?

 

Conclusão

 

Sob essa ótica, o questionário não é um compêndio de mistérios, mas um roteiro simbólico para o desenvolvimento moral. Os símbolos não têm valor por poderes ocultos, mas por sua capacidade de ensinar.

 

A iniciação é o passo da ignorância à autonomia.

 

A fé só é válida quando passa pelo crivo da razão.

 

Deus, liberdade e imortalidade não são verdades empíricas, mas ideias que sustentam a prática ética.

 

Assim, a maçonaria, quando vivida como caminho de aprimoramento racional e moral, está em plena harmonia com os ideais do filósofo de Königsberg.

 

Hiran de Melo – Presidente da Excelsa Loja de Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.

 

Vale a pena ler de novo:

https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/05/instrucao-do-gr-au-instrucao-do-gr-au-4.html

 

Anexo 01:

 

Entre o Símbolo e a Razão: Uma Leitura Comparativa de Albert Pike e Immanuel Kant

 

A maçonaria, rica em símbolos e rituais, pode ser interpretada por diferentes lentes. Duas abordagens marcantes são a simbólica, inspirada por Albert Pike, e a filosófica, guiada pelo pensamento de Immanuel Kant. Enquanto Pike mergulha nos mistérios espirituais e na tradição esotérica, Kant propõe uma leitura racional, ética e crítica dos mesmos elementos. Este artigo apresenta uma comparação entre essas duas visões, revelando como cada uma ilumina o caminho do iniciado de forma distinta — mas complementar.

 

1. A Arca e seus Construtores

 

Pike vê Bezalel como o arquétipo do Iniciado perfeito, inspirado por forças divinas e ligado à sabedoria espiritual. A construção da Arca representa a manifestação da Vontade Superior no mundo físico.

Kant, por outro lado, valoriza o gesto moral: o verdadeiro construtor é aquele que age com boa vontade e obedece à lei interior. A história bíblica é menos importante que o exemplo ético que ela transmite.

 

Símbolo versus dever: Pike exalta a inspiração espiritual; Kant, a autonomia da consciência.

 

2. O Candelabro de Sete Luzes

 

Pike associa o candelabro aos planetas antigos, às virtudes e à ascensão espiritual. Cada chama é uma etapa da consciência rumo à iluminação.

Kant vê o número sete como uma metáfora estética, útil à imaginação, mas sem valor objetivo. O candelabro é um convite à reflexão, não um portador de verdades ocultas.

 

Misticismo cósmico versus racionalidade estética.

 

3. O Altar Triangular

 

Pike interpreta o altar como símbolo da ressurreição espiritual e da tríade divina. É o ponto de transformação do iniciado.

Kant reconhece que a ideia de vida futura está além da experiência, mas pode ser útil como postulado moral. O altar representa esperança e virtude, não uma realidade metafísica.

 

Renascimento simbólico versus sustentação ética.

 

4. Altares dos Perfumes e dos Sacrifícios

 

Pike vê os altares como expressão da purificação e da elevação espiritual, em sintonia com as forças da natureza.

Kant valoriza o sacrifício das paixões como ato ético, mas rejeita a ideia de invocar forças externas. A moralidade nasce da consciência, não do ritual.

 

Trabalho espiritual versus ética racional.

 

5. Mesa dos Pães da Proposição

 

Pike interpreta os pães como alimento da alma, ligados às tribos de Israel, aos signos e às faculdades espirituais.

Kant vê os pães como símbolo da constância do dever. A presença divina é uma ideia reguladora, não uma entidade literal.

 

Sabedoria esotérica versus compromisso moral.

 

6. Faixa do Mestre Secreto

 

Pike atribui à faixa significados ocultos: o azul como infinito espiritual, o preto como ignorância, a chave como acesso aos mistérios, e o “Z” como plenitude.

Kant lê os mesmos elementos como símbolos do progresso ético: da ignorância à autonomia, guiado pela razão.

 

Mistério hermético versus clareza moral.

 

7. O Avental Maçônico

 

Pike vê o avental como consagração do trabalho físico aos ideais espirituais, com ramos que unem vitória e paz.

Kant interpreta o avental como expressão da boa vontade, o único bem absoluto, orientado pelo dever.

 

Consagração espiritual versus ação ética.

 

8. Preparação do Iniciante

 

Pike descreve a venda, a tocha, a corda e o esquadro como símbolos da jornada espiritual: da ignorância à luz interior.

Kant vê esses mesmos elementos como metáforas da passagem da menoridade intelectual à maioridade ética — a autonomia da razão.

 

Libertação da alma versus emancipação da consciência.

 

Conclusão

 

Albert Pike e Immanuel Kant oferecem duas chaves distintas para decifrar o mesmo conjunto simbólico. Pike convida o iniciado a mergulhar nos mistérios espirituais, buscando a iluminação por meio da tradição esotérica. Kant propõe uma jornada racional, onde os símbolos são ferramentas pedagógicas para o desenvolvimento moral.

 

Ambas as abordagens convergem num ponto essencial: a iniciação é um processo de transformação. Seja pela luz interior ou pela razão prática, o caminho do iniciado é sempre o da superação da ignorância e da busca pela verdade.

 

Na leitura de Pike, o Templo se ergue na alma iluminada. Na visão de Kant, o Templo é a consciência guiada pela razão.

 

Assim, a maçonaria revela sua riqueza: um espaço onde símbolo e razão se encontram, oferecendo múltiplas trilhas para o aperfeiçoamento humano

 

Anexo 02:

 

A Razão Prática na Obra de Kant

 

No livro Crítica da Razão Prática, o filósofo Immanuel Kant apresenta sua visão sobre a moralidade, ou seja, sobre o que é certo e justo fazer. Para ele, existe uma razão especial, chamada razão prática, que nos ajuda a entender o que devemos fazer e como devemos agir de forma correta e justa. Essa razão é o que nos guia para viver com liberdade, responsabilidade e consciência.

 

Razão Prática e Moralidade

 

A razão prática não serve apenas para nos ajudar a alcançar desejos ou interesses. Ela é mais do que isso: é por meio dela que descobrimos leis morais que valem para todos os seres humanos, independentemente da cultura ou da época. Essa razão nos convida a agir com base no dever, mesmo quando isso exige esforço ou renúncia. Para Kant, agir moralmente é fazer o que é certo porque é certo, não por medo, recompensa ou interesse. Isso é o que ele chama de imperativo categórico: uma regra que a razão nos dá e que deve ser seguida por todos.

 

A Razão Prática na Sociedade

 

A razão prática também é muito importante para a construção de uma sociedade melhor. Quando seguimos a moral guiada pela razão, podemos criar regras, leis e instituições que respeitam a dignidade de todas as pessoas. Isso ajuda a formar uma comunidade baseada na justiça, no respeito mútuo e na busca do bem comum. Para Kant, um mundo mais justo começa quando cada pessoa decide viver de forma ética, agindo não só por interesse próprio, mas com base na razão e no dever.

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