Instrução do Grau 5: Gilles Deleuze

Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba – 1ª Região

0225 - LOJA DE PERFEIÇÃO PAZ E AMOR

FUNDADA EM 11 DE ABRIL DE 1972

CAMPINA GRANDE -  PARAÍBA

 

Grau 5 – Transformações e a Construção de Si conforme a filosofia de Gilles Deleuze

 

Irmãos, ao interpretarmos o Grau 5 do Rito Escocês Antigo e Aceito por uma lente mais filosófica, somos convidados a mudar o foco: em vez de enxergar a moral como um caminho reto rumo à perfeição, passamos a vê-la como um campo aberto de criação, onde o movimento, a dor e a reinvenção andam juntos.

 

A filosofia de Gilles Deleuze nos inspira a abandonar verdades fixas em favor de processos, transformações e da criação de novas maneiras de existir. Com isso em mente, vamos reler o conteúdo deste grau sob uma perspectiva mais viva e fluida.

 

Do Trauma ao Devir: A Dor que Move

 

O relato sob o Grau 5(*) começa com a perda simbólica de Hiram Abiff — uma ruptura profunda. Mas essa dor não precisa ser apenas um obstáculo: ela pode abrir caminhos. O sofrimento, quando vivido com presença, pode ser força de criação, não reconstruindo o que se foi, mas permitindo o surgimento de algo novo.

 

Como nos lembra uma de suas obras: “Não se trata de encontrar a si mesmo, mas de se perder, de se desfazer”.

 

Nesse sentido, o Mestre Perfeito não é quem reergue o antigo templo, mas quem, diante da perda, encontra novas formas de ser.

 

Além da Perfeição: A Força da Multiplicidade

 

Termos como “pureza” e “controle das paixões” aparecem com destaque no relato. Mas e se a perfeição não for um ponto fixo, e sim um campo múltiplo, em constante mutação?

 

Em vez de controlar tudo o que sentimos, talvez o caminho seja escutar essas forças e aprender a compor com elas. O “eu” não precisa ser uma estrutura rígida: pode ser um espaço dinâmico, aberto à transformação. O verdadeiro Mestre, assim, não se fecha na ideia de domínio de si, mas se abre à complexidade do que é viver.

 

Uma Ética da Potência

 

Quando o texto do relato sob o Grau 5(*) fala em “dominar os vícios”, surge a pergunta: será mesmo preciso domesticar tudo em nós? Talvez a chave esteja menos em reprimir e mais em transformar — em encontrar maneiras de viver que aumentem nossa potência de existir.

 

A ética que aqui se sugere não é a da renúncia, mas a da criação. Agir com liberdade não significa fazer qualquer coisa, mas escolher aquilo que nos torna mais vivos, mais capazes de afetar o mundo ao nosso redor. O Mestre, então, não é um obediente a regras, mas um criador de si.

 

O Templo Vivo

 

No centro do Grau 5 está a ideia de reconstruir o templo interior. Mas esse templo não precisa ser uma estrutura idealizada, imóvel. Pode ser um espaço vivo, flexível, onde novas conexões surgem, onde a vida pulsa.

 

Esse templo não espelha um divino distante — ele expressa a própria vida em sua imanência: desejo, transformação, movimento. É menos sobre formas fixas e mais sobre abertura ao que ainda pode vir a ser.

 

Yod: O Gesto Criador

 

A letra י (Yod), símbolo da centelha divina, pode ser lida aqui como uma força criadora que existe dentro de cada um. Não é algo dado de fora, mas uma potência que se manifesta no próprio ato de viver, de experimentar, de produzir sentido.

 

Essa centelha não representa algo — ela cria. E criar, nesse caso, é inventar novos modos de ser, novas subjetividades, novas formas de ver o mundo.

 

Sobre a Verdade: Diferença e Criação

 

O texto exalta a fidelidade à Verdade. Mas e se a verdade não for única, nem absoluta? E se ela surgir do próprio processo de viver, como algo que se produz — não que se descobre?

 

Nesse olhar, a busca não é por uma Verdade com “V” maiúsculo, mas por sentidos que fazem vibrar a existência. A verdade não seria um destino, mas um efeito da criação contínua.

 

O Mestre Como Obra em Movimento

 

O verdadeiro Mestre Perfeito não busca se encaixar em um ideal fixo — ele se inventa. Está em constante mutação. Vive como um campo de forças em relação com o mundo.

 

Não quer ser puro, mas múltiplo. Não busca dominar o eu, mas abrir-se ao devir. Não ergue o mesmo templo, mas cria um novo. Não imita o divino, mas expressa a potência de viver.

 

Ele é:

Um experimentador de si;

Um criador em fluxo;

Uma vida que não se limita, mas se expande.

O Mestre Perfeito, afinal, não é aquele que atinge um fim — é aquele que nunca para de começar.

 

Hiran de Melo – Presidente da Excelsa Loja de Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil.

 

Referências

(*) Grau 5 – Mestre Perfeito, recomendo a leitura para melhor entender o presente trabalho. Veja no link:

https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/04/inspetoria-liturgica-do-estado-da_12.html

 

Conheça mais e melhor:

https://pazeamorloja0225.blogspot.com/2025/06/instru-cao-do-gr-au-5-friedrich.html


Anexo

 

Descrição da Ilustração

 

A imagem captura a essência da filosofia de Deleuze, representando o Grau 5 como um processo dinâmico de transformação. Uma figura fluida e em movimento, simbolizando o Mestre Perfeito, interage com formas abstratas que representam o devir, a multiplicidade e a criação. Cores vibrantes e linhas sinuosas evocam a ideia de um "templo vivo", em constante reconstrução. A letra Yod, central na imagem, pulsa com energia criativa, representando a força interior que impulsiona a transformação. A composição geral transmite a ideia de um caminho em aberto, onde a dor é um catalisador para a criação e a busca pela verdade é um processo contínuo de experimentação.

 

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